“Situação é gravíssima”, diz presidente da Selita; A Seca e fome provocam morte de gado leiteiro no estado, já que a região não vê chuva a mais de cinco meses!
A falta de chuvas e o frio seco estão causando muitos prejuízos aos pecuaristas do Sul do Espírito Santo. Desde fevereiro sem chuvas consideráveis na região, os pastos estão secos. Além disso, a falta de águas não permitiu o cultivo de milho ou capim para a silagem, opções mais acertadas e usadas como garantia de comida em tempos de pouco pasto. Com alimentação escassa, o gado está produzindo menos de 50% do que deveria para esta época do ano. Seca e fome provocam morte de rebanho leiteiro; Confira!
“Nesse cenário, só na minha propriedade, contei nove animais mortos. A situação é mais grave do que se imagina”, conta o presidente da Selita, Rubens Moreira, explicando que muitos pecuaristas também relataram mortes nos rebanhos.
“São mais de cinco meses sem chuvas. E com um frio atípico, que começou em março e persiste nas madrugadas. Em função da estiagem ter começado em fevereiro, quem plantou milho ou capineira não colheu nada por falta de chuva. Há quem não tenha nem plantado. Eu mesmo tenho uma área arada desde fevereiro e não consegui plantar o capim-açu“, apontou o presidente.
Ele conta, ainda, que a situação de falta de comida para o gado é generalizada entre os produtores, mesmo com os esforços da Selita para tentar comprar algum alimento e distribuir entre os cooperados.
A situação de falta de comida para o gado é generalizada entre os produtores, mesmo com os esforços da Selita para tentar comprar algum alimento e distribuir entre os cooperados
“O que encontramos para comprar, já compramos. Forma mais de cinco mil toneladas de silagem e toda cana disponível no mercado. Agora, sentimos que é a hora de o poder público dar um socorro, senão teremos uma crise muito maior. Precisamos segurar a cana que ainda temos e negociar com as usinas. Claro, elas têm seus investimentos mas, com negociação, certamente conseguiríamos alguma cana para a agropecuária de leite”, resumiu ele em entrevista.
Moreira acrescenta que o custo de suplementação está altíssimo, muito acima do preço do leite, que está num patamar alto hoje em dia. “Tudo quase que dobrou de preço”, diz, salientando que no Sul do Estado, apesar dos investimentos em genética e tecnologia, a produção de leite caiu para menos da metade.
“E esse problema, se não for sanado, pode causar males ainda maiores no próximo ano. Os animais que conseguirem se salvar não terão prenhez em 2023. É um cenário assustador”, conclui.
Custo de produção de leite aumenta 62% em dois anos
Segundo Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, a principal causa do aumento é a menor oferta do produto nos laticínios, o que se deve principalmente à elevação dos custos de produção.
A entressafra tem início em abril, mas, segundo o pesquisador, “a oferta de leite já vinha fraca desde de meados do ano passado e acentuou nos primeiros meses de 2022”, afirma Carvalho. Além disso, a entressafra acentuou a escassez de leite no mercado. Nos últimos anos, houve uma alta de 62% nos custos para o produtor, gerando uma elevação de 43% no preço ao consumidor.
Segundo Carvalho, o preço, mesmo em alta, não está sendo suficiente para cobrir os custos, o que piorou a rentabilidade nas fazendas e levou o produtor a diminuir a oferta, reduzindo a alimentação das vacas. Em pesquisa referente à compra de leite pelos laticínios no primeiro trimestre do ano, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram uma queda de 10,51% em comparação aos três primeiros meses de 2021.
Essa foi a quarta queda trimestral consecutiva e a maior em uma avaliação trimestral desde o início da pesquisa, em 1997. “O volume de leite adquirido no primeiro trimestre deste ano foi o equivalente ao observado em 2017, o que significa que a indústria regrediu cinco anos em termos de captação de leite”, explica.
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A expectativa é que os números do segundo trimestre, que coincide com o início da entressafra, repitam o cenário de escassez do primeiro trimestre. Mas no segundo semestre, a perspectiva é de algum crescimento na oferta, motivada pelo início do período de chuvas e também por uma recuperação nas margens de lucro do produtor.
Mas o insumo que mais tem pesado no caixa do produtor é o volumoso, que registrou elevação de 51% na comparação de maio deste ano com o mesmo mês de 2021. “Produzir silagem e adubar pastagens está bem mais caro”, constata José Luiz Bellini Leite, analista da Embrapa. A ureia no mercado brasileiro passou de R$ 2,3 mil por tonelada, no início do ano passado, para cerca de R$ 6,3 mil em março de 2022. O cloreto de potássio foi de R$2 mil/t para R$6 mil/t. Esses insumos tiveram os preços afetados diretamente pelo conflito no leste da Europa, que tem a Rússia como a principal exportadora.