O mercado físico de boi gordo no Brasil registrou mudanças no cenário de preços da arroba ao longo da última semana e, conforme anunciado aqui, o mercado deverá mostrar uma nova “força” e “forma” na negociação das boiadas.
Durante a última semana o mercado físico de boi gordo apresentou mudanças nos preços da arroba, frigoríficos firmaram o pé e buscaram pressionar o mercado para testar a atitude dos pecuaristas em importantes praças pecuárias pelo país. Resultado foi uma sexta-feira fria e de poucos negócios no mercado do boi gordo. O relato é de queda na oferta de bovinos terminados, mesmo assim, as escalas de abate têm atendido ao menos sete dias.
Dessa forma, segundo informações da indústria, o mercado interno ainda segue patinando em relação ao consumo, o que tem dificultado o escoamento de carne bovina. Sendo assim, as indústrias agora trabalham com escalas confortáveis e cadenciando as compras para evitar uma possível alta das cotações. O diferencial segue sendo as plantas habilitadas a exportação, que conseguem melhores margens, mesmo que de forma tímida, ainda ofertam ágios para os animais que atendem os requisitos.
Segundo o analista de Safras & Mercado, Fernando Iglesias, os frigoríficos conseguiram pressionar as cotações da arroba para patamares abaixo da média em alguns estados, inclusive no Centro-Norte brasileiro. Essa mudança no movimento foi anunciada aqui no Portal, onde abordamos o tema falando da pequena lacuna que o pecuarista teria de ofertas mais atrativas para negociar seus animais na primeira quinzena de julho.
Ainda segundo Iglesias, ele explica que dois fatores motivaram os frigoríficos a adotar uma estratégia de compra menos efetiva, resultando na queda dos preços. O primeiro fator é a piora no desempenho das exportações, especialmente devido à queda dos preços médios entre 2022 e 2023, lembrando que o volume seguiu batendo recordes. O segundo fator é a preocupação com o mercado interno, que registrou vendas mais fracas do que o esperado na primeira quinzena de julho.
Fechamento do mercado e expectativas para os próximos dias
No mercado interno brasileiro, a queda de braço entre pecuaristas e frigoríficos pelos preços de interesse tem implicado em menos bovinos ofertados nos balcões de negócios, informa o zootecnista Douglas Coelho, sócio da Radar Investimentos. “Pelo lado da oferta, a pressão da saída de boiadas de pasto já ficou para trás, ao passo que a boiada de cocho, para julho e agosto, está relativamente contida, saindo quase a conta gotas”, relata Coelho.
Na avaliação de Jéssica Olivier, engenheira agrônoma e analista de mercado da Scot Consultoria, nos próximos dias, os preços do boi gordo podem perder ainda mais a firmeza. No entanto, diz ela, o movimento do mercado dependerá “da oferta de gado, principalmente dos bovinos terminados no primeiro giro de confinamento, e do escoamento no mercado interno, que não está dos melhores”.
Dessa forma, segundo levantamento da Scot, a referência de preço para o boi gordo está em R$245,00/@, para a vaca está em R$212,00/@ e para a novilha em R$235,00/@, preços brutos e a prazo.
A cotação da arroba do “boi-China” – animal abatido mais jovem, com até 30 meses de idade – está em R$ 250, em São Paulo (preço bruto e a prazo) – portanto, com ágio de R$ 5/@ sobre o animal “comum”, acrescenta a Scot.
Os dados do INDICADOR DO BOI GORDO CEPEA/B3, mostrou certa estabilidade nos preços do boi gordo no fechamento da semana, com uma variação de 0,67% no comparativo diário. Sendo assim, as cotações ficaram em R$ 254,90/@ no fechamento dessa sexta-feira. Confira o gráfico abaixo onde é possível observar o comportamento dos preços do indicador ao longo dos últimos 30 dias úteis.
De toda forma, prevê a consultoria, as indústrias devem seguir pressionando as cotações, pois os frigoríficos atuam com poucas necessidades de compras de boiadas e com escalas ajustadas apenas para atender as suas demandas de curtíssimo prazo.
Exportações de carne
No que diz respeito às exportações, as vendas de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada renderam US$ 181,764 milhões em julho, com média diária de US$ 36,352 milhões. Adicionalmente, a quantidade total exportada pelo país atingiu 37,378 mil toneladas, com média diária de 7,475 mil toneladas. O preço médio por tonelada foi de US$ 4.862,80.
Comparado a julho de 2022, houve uma queda de 30,3% no valor médio diário das exportações. Além disso, houve uma redução de 6,1% na quantidade média diária exportada e uma desvalorização de 25,8% no preço médio. Esses dados foram divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior.
Giro do Boi Gordo pelo Brasil
- Em São Paulo, Capital, a referência para a arroba do boi a prazo foi de R$ 250, representando uma queda de 1,96% em relação à semana anterior, que estava em R$ 255.
- Em Dourados (MS), a arroba recuou 4,00%, passando de R$ 250 para R$ 240 na modalidade a prazo.
- Em Cuiabá (MT), a arroba permaneceu em R$ 222.
- Em Uberaba (MG), o preço a prazo foi cotado a R$ 250 por arroba, sem alterações.
- Já em Goiânia (GO), a indicação foi de R$ 235, mantendo-se estável.
Boi no atacado
No mercado atacadista, os preços se mantiveram estáveis durante a semana, com baixo interesse dos compradores devido à concorrência com a carne de frango e suína.
Além disso, o quilo do corte traseiro continuou sendo vendido a R$ 18,60, enquanto o corte dianteiro permaneceu em R$ 14,40.
Poder de compra sobe frente ao milho
O poder de compra de pecuaristas terminadores frente ao milho tem aumentado ao longo deste ano, mesmo diante da queda do preço da arroba do boi gordo nesse período. De acordo com levantamento do Cepea, este cenário se deve às intensas desvalorizações do cereal, que é um dos principais insumos da alimentação.
Dados do Cepea mostram que, no acumulado de 2023 (de dezembro/22 até a parcial de julho/23), enquanto o valor médio da arroba do boi caiu 8% (Indicador CEPEA/B3, estado de São Paulo), o do milho (Indicador ESALQ/BM&FBovespa, Campinas – SP) recuou significativos 32%, em termos reais (as médias foram deflacionadas pelo IGP-DI).
Diante disso, com a venda de um quilo de boi gordo no mercado paulista, o pecuarista consegue comprar 18,35 quilos de milho em julho, o maior poder de compra do recriador frente a este cereal desde setembro de 2017.
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