Entre as investigações realizadas, houve resultados positivos no uso do adubo como fonte orgânica de nutrientes para o solo no milho e soja. Veja!
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estudam a aplicação de adubos orgânicos, produzidos a partir da compostagem do lodo proveniente do tratamento do esgoto, a fim de determinar as melhores práticas de manejo do composto em lavouras. Entre as investigações realizadas, houve resultados positivos no uso do adubo como fonte orgânica de nutrientes para o solo do Cerrado, em culturas de milho e soja.
Os estudos, desenvolvidos pelo Grupo de Estudo em Nutrição, Adubação e Fertilidade do Solo (Genafert) do campus Ilha Solteira da Unesp e liderados pelo professor Thiago Nogueira, envolvem variáveis como a busca da dose mais adequada para aplicação de adubo nas plantações, da periodicidade e da forma mais efetiva dessa aplicação, além de se identificar as culturas que apresentam melhores retornos após a aplicação do composto.
“O solo do Cerrado é uma região em que normalmente a fertilidade é baixa, onde os limites e nutrientes são baixos, e o que ocorre é uma limitação na produção das culturas. Então [nesta fase do estudo] o foco foi utilizar esse composto como fonte de micronutrientes, atrelado com adubação mineral convencional, e também estudando a forma de aplicação – em área total ou nas entrelinhas das culturas -, qual seria a melhor forma de aplicação e a melhor dose”, explicou Adrielle.
Após a aplicação do composto e semeadura da soja, os pesquisadores fizeram a semeadura do milho para estudar o efeito residual do adubo nessa segunda cultura, o que resultou também em benefício da produtividade. O milho teve aumento de mais de 100% na produtividade em relação à média brasileira, conforme apontou Adrielle.
A pesquisadora explicou que o aumento da concentração de micronutrientes no solo, resultado do uso do composto oriundo do lodo do tratamento de esgoto, é importante porque o solo se comporta como uma reserva de nutrientes para a planta.
“Se aumentar esses nutrientes a níveis adequados, o solo vai fornecê-los à planta. E, quando a planta está bem nutrida, com os teores adequados, ela consegue desenvolver adequadamente todo seu ciclo e consegue aumentar sua produção, de forma que não tem nenhum limitante, não tem nenhum nutriente [faltante] que está limitando seu desenvolvimento, a sua produção”, disse.
Ela avalia a necessidade de estudo a longo prazo dessa aplicação do composto, para acompanhar como o solo vai se comportar e para evitar eventos de toxicidade nas culturas. “É importante, além da pesquisa pela melhor dose e o melhor modo de aplicação, esse estudo a longo prazo, para ver como que está a saúde desse solo, como que vai ficar o aumento dos teores [de nutrientes].”
Além do benefício para as plantações, o uso desse adubo resultante do tratamento de esgoto pode atenuar poluição ambiental e o volume de matéria orgânica que acaba nos aterros sanitários.
ECONOMIA E BENEFÍCIOS
O benefício que o agricultor recebe é pelo aporte de nutrientes que contém no lodo, como grandes quantidades de nitrogênio, fósforo, enxofre, matéria orgânica, o que representa uma redução do custeio de produção entre R$ 700 e R$ 1.100 por hectare.
Esse valor varia conforme a dose aplicada, em toneladas por hectares, e a concentração dos nutrientes em cada lote específico.
“Todo esse processo traz, além do benefício para agricultura, um benefício ambiental. Por todo cuidado no processo de compostagem, que elimina os microrganismos patogênicos e torna indisponível os metais pesados para planta, faz com que o risco para o meio ambiente se torne bem menor.”
“Além disso, o lodo de esgoto normalmente é descartado em aterro sanitário. Ele pode ser despejado em cursos hídricos ocorrendo a poluição. Então, esse uso adequado do composto [oriundo] do lodo, passando pelo processo de compostagem, aplicando na dose correta, ele traz um benefício tanto para agricultura como para o meio ambiente, porque esse resíduo não está sendo jogado em aterros, em cursos hídricos nem incinerados, ele tem um destino final adequado”, explicou a pesquisadora.
Meio Ambiente
Segundo a engenheira agrônoma Jóisman Fachini, o principal benefício para o meio ambiente é promover a reciclagem dos resíduos do esgoto, contribuindo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ela também cita outras vantagens.
“Outra vantagem é em relação ao solo, que recebe estes resíduos, ricos em matéria orgânica, fósforo, nitrogênio e micronutrientes. Uma vez aplicado ao solo, o lodo promove a melhoria das características químicas e biológicas, diminuindo a dependência por fertilizantes minerais”, comenta.
- Maior refinaria de açúcar do mundo terá fábrica no Brasil para processar 14 milhões de t/ano
- Pecuarista é condenado a 3 anos de prisão por matar mais de 100 pinguins na Argentina
- Nova CNH em 2025 só para carros automáticos? Entenda
- Mulheres no café: concurso Florada Premiada da 3 Corações exalta e premia produtoras
- Empresa de nutrição animal é interditada após suspeita de uso de inseticida proibido em suplemento para bois
O agrônomo Marco Aurélio Knopik também aponta benefícios ao meio ambiente, como redução ou eliminação dos resíduos em aterro sanitário, redução da emissão dos gases do efeito estufa, além do aporte de nutrientes para os agricultores.
No entanto, é preciso tomar alguns cuidados. Segundo a engenheira agrônoma Jóisman Fachini, o lodo de esgoto pode conter agentes patogênicos e metais pesados, que são prejudiciais à saúde do ser humano e ao meio ambiente. Ela recomenda a utilização do material apenas por profissionais capacitados.
“Antes da utilização do lodo de esgoto como fertilizante, deve-se fazer uma análise química e biológica, para saber se está de acordo com a legislação. Em alguns casos, ele só pode ser usado para recuperação de áreas degradadas, reflorestamento e pastagem”. A norma que trata sobre a utilização do lodo de esgoto na agricultura é a Resolução Conama 375/2006, na qual constam os teores máximos de patógenos e metais pesados permitidos para utilização na agricultura.