Saiba analisar os resultados financeiros da pecuária de corte

Os resultados obtidos pela atividade pecuária são imprescindíveis para o produtor tomar decisões, confira um material exclusivo do Compre Rural de como calcular o Demonstrativo de Lucros e Perdas.

Por Walter Magalhães Jr

Não há como falar em Avaliação de Resultados, que passaremos agora a denominar de Demonstrativo de Lucros e Perdas (DLP), sem que façamos um esforço extra para classificar os custos incorridos no desenrolar da atividade que se pretende avaliar, seja ela qual for.

Estudo de Avaliação de Resultados

Os custos são tecnicamente classificados de acordo com comportamento e alocação dos mesmos.

Quanto a sua ALOCAÇÃO, os custos podem ser organizados em Custos Diretos e Custos Indiretos. Não vamos nos ater a esta classificação especialmente pois, a mesma não se aplica às atividades de um pecuarista, sendo mais útil às empresas de serviços, boitel, consultorias, serviços de maquinas pesadas, no sentido de poder precificar o seu trabalho com base em horas, diária e etc.

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No tocante à classificação dos custos, de acordo com o seu COMPORTAMENTO, condição esta que interessa a todos os empresário que comercializam produtos físicos, incluídos aí os produtores rurais, podemos organizá-los em dois tópicos:

Custos Variáveis e Custos Fixos

É importante ressaltar que, essas duas classificações, quanto ao comportamento e alocação, não são correlatas e suas separações internas também não são sinônimos. Já ouvi afirmações do tipo, custos variáveis ou diretos e custos fixos ou indiretos, o que, na verdade, é uma aberração técnica inaceitável.

Isto posto, o primeiro passo a ser dado pelo interessado, como alternativa para elaborar o seu Demonstrativo de Lucros e Perdas (DLP) será a organização dos seus custos.

Lembre-se sempre que os custos funcionam como um redutor do lucro. Excessos não significam, necessariamente, ser criterioso na determinação do lucro efetivo ou real. Se o indivíduo toca o seu negócio na pessoa física, trate sua avaliação sempre alocando somente valores que representem dispêndios efetivos de recursos financeiros. Atente para 4 fatos que não são tecnicamente custos e que se considerados como tal alterarão, negativamente, o resultado do seu negócio.

bezerros nelore
Foto: Arley Coelho da Silveira

1. Custo de Oportunidade

Os custos de oportunidade são custos exclusivamente econômicos. Resumidamente representam o rendimento de uma alternativa da qual se abre mão, esvaindo-se, portanto, em razão de se ter optado e adotado outra alternativa concorrente e mais vantajosa, sob o ponto de vista remunerativo.

A rentabilidade da alternativa que se esvai é denominada de custo da oportunidade e esta rentabilidade que poderia ser dela originada e da qual se abriu mão, não afeta o resultado da alternativa adotada. Por está razão nunca será um custo efetivo.

2. Depreciação

A depreciação é um custo exclusivamente contábil, cujo efeito principal é o de diminuir proporcionalmente o Imposto de Renda a Pagar. No fundo essa diferença a menor que ela acarreta no imposto de renda pode ser considerada como que um prêmio que o governo dá aos empresários que têm coragem de investir.

É muito fácil ver esse efeito redutor no imposto de renda, num Demonstrativo de Lucros e Perdas. Nos EUA, fechado o DLP, o gestor ressoma a depreciação no lucro, transformando o DLP num Cash Flow.

Só isso já seria suficiente para convencer os que mais resistem a essa situação técnica, mas aos mais incrédulos aconselha-se a pegar um Balanço, de qualquer empresa, e constatar que, a depreciação que aparece na Conta Capital é a mesma que aparece no Demonstrativo de Origem e Aplicação de Recursos classificada como uma Origem de Recurso para a empresa.

Portanto, algo que é considerado como “Origem de Recurso” não pode entendido como sendo realmente um custo para a organização.

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Uma outra particularidade a ser considerada sobre a depreciação está relacionada com o argumento que a depreciação é um recurso destinado à renovação de imobilizado.

Esta afirmação não se sustenta tecnicamente pois, o único benefício dela resultante é a ocorrência de uma diminuição no imposto de renda a pagar e consequentemente no aumento do lucro efetivo. Nenhuma outra contribuição pode ser dela estraida. Depois, é importante realçar, também, que só se renovam máquinas, equipamentos e outros itens na organização, com lucro que a empresa tem. O que financia a renovação de bens é o lucro obtido nas operações e não o valor alocado na conta de depreciação.

3. Investimentos

Os valores alocados na conta de investimentos, apesar de se caracterizarem como desembolsos, representam a inversão de parte dos recursos auferidos como lucro da atividade. Investimentos devem é ser remunerados. Em razão desse fato, portanto, não são custos. Se alocados como custos afetarão o Retorno sobre os investimentos (ROI) da organozação, diminuindo-o.

4. Pro-Labore

Na administração do negócio pecuário, desenvolvido na pessoa física, todo o lucro auferido na operação é considerado como remuneração do proprietário. Portanto, e exatamente por essa razão é desnecessário o lançamento de qualquer valor como pro-labore do produtor. Isto porque, é importante que esse valor apareça na composição na composição do próprio Lucro.

Feita essas considerações, podemos, agora, organizar os custos do negócio.

Determinando os custos variáveis

É importante lembrar duas particularidades a respeito desse tipo de custo. Primeiro, que eles devem se relacionar, no DLP, somente com os animais vendidos, aqueles que geraram receitas para o negócio durante o ano. Isto significa dizer que, os custos de sal mineral, p.ex., não será a média dos gastos totais com esse item, dividido pelo numero total de cabeças existente na fazenda. Parte desse custo, que está relacionado com os animais que permanecerão na fazenda, tais como animais em recria, vacas e bezerros, devem ser diferidos e receber outro tratamento, como veremos mais à frente.

O segundo aspecto está relacionado ao fato que, os custos variáveis serão sempre variáveis no total e fixos por unidade de consumo. Por exemplo, o consumo de sal mineral por animal é estimado, em média, a 80 gr/cab/dia. Desta forma 1.000 cabeças consomem 80kg/dia ou 2.400 kg/mês. Se o número de animais for elevado para 1.500 cabeças, o consumo unitário por dia será as mesmas 80 gr/dia, mas os valores totais variarão, atingindo 120 kilos/dia e 3.600 kg/mês.

Entendidas essas condições, poder-se-a, agora, iniciar a classificação dos CUSTOS VARIÁVEIS de uma propriedade ligada à bovinocultura.

A. CUSTOS VARIÁVEIS (CV)
a.1 – Custeio Geral
a.1.1. – Sal Mineral
a.1.2. – Medicamentos Diversos
a.2 – Rações de Engorda
a.3 – Impostos Diretos

Determinando os custos fixos.

O próximo passo será levantar e estruturar os custos fixos da atividade. Aqui também existe uma particularidade a ser considerada. Os custos fixos serão sempre fixos no total e variáveis por unidade.

Suponhamos, por exemplo, que as Despesas Administrativas do ano atingiram R$230.000,00. Em uma propriedade que engordou ou recriou 1.000 cabeças e as comercializou, essa despesa, por animal, atingiria o patamar de R$230,00. No caso de se aumentar o volume para 1.500 cabeças, este custo passaria a ser de R$153,33/cab/ano.

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Importante aproveitar a oportunidade e ressaltar que, é exatamente em razão dessa variabilidade dos custos fixos unitários que ocorrem o tão falado Ganho de Economia de Escala, quando se aumenta o volume de produtos negociados. Estes ganhos são tão importantes para a empresa que chegam a beneficiar o produtor em épocas de pressão sobre os preços de seus produtos.

Então vamos agora à organização dos CUSTOS FIXOS.

B. CUSTOS FIXOS (CF)
b.1 – Despesas Administrativas
b.2 – Despesas de Manutenção
b.3 – Despesas de Prestação de Serviços
b.4 – Despesas Bancárias
b.5 – Despesas Fiscais
b.6 – Despesas Manutenção Estoque Gado

Nesta altura do estudo, já temos condições de definir outra figura importante resultante do processo de elaboração do Demostrativo de Lucros e Perdas. Esta nova figura de gestão é denominada de MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO (MC).

A Margem de Contribuição é o valor que sobra da Receita Total, para cobrir os Custos Fixos, depois que da receita for subtraido os Custos Variáveis. Graficamente, a Margem de Contribuição representa o incremento monetário da Receita Total, em razão do aumento das unidades comercializadas.

E o LUCRO BRUTO (LB)?

O Lucro Bruto, como informação derradeira de um DLP, é o resultado final da equação, antes da incidência do IMPOSTO DE RENDA (IR), depois que da margem de contribuição for retirado os custos fixos. Agora podemos fechar este estudo com um exemplo prático.

DEMONSTRATIVO DE LUCROS E PERDAS (DLP)

demonstrativo lucros e perdas pecuaria
Demonstrativo de Lucros e Perdas / Fonte: Autor

Um dos maiores benefício dessa estrutura de avaliação de resultados é a contribuição que ela dá ao programa de planejamento, possibilitando a execução do cálculo do Ponto de Equilíbrio (PE), tanto financeiro (PEfin) quanto quantitativo (PEqde).

Como calcular o Ponto de Equilíbrio Financeiro (P.E.fin.) neste caso?

P.E.fin = CF / MC%
MC% = (MC / RECEITA) * 100 = 54,37%
P.E.Fin. = 1.039.200,00 / 0,5437 = 1.911.521,17

Como não poderia deixar de ser, dessa ferramenta podemos retirar, também, o limite mínimo, em quantidade, a partir do qual a empresa passará a obter lucro. Esta informação é denominada de Ponto de Equilíbrio em Quantidade (P.E.qtde.).

P.E.qtde. = CF / MC$ Unitária
P.E.qtde. = 1.039.200,00 / 1.370,00 = 759 cab

Este número indica que, até atingir a comercialização de 759 cabeças, o negócio apresentará prejuízo pois a receita estará cobrindo custos totais. A partir desse patamar, a organização começara a produzir lucro e a cada unidade adicional comercializada agregará R$1.379,00 à sua conta lucro.

Esse processo final deixa claro, também, que o prejuízo de uma empresa, não é uma figura absolutamente definitiva. O que irá definir as possibilidade de um negócio poder obter ou não lucro será exatamente a margem de contribuição do produto analisado.

Se a margem de contribuição for negativa, o melhor é descontinuar ou mesmo nem iniciar a produção. Isto porque, as curvas de custo total e receita total serão sempre paralelas, não importando o volume de produtos que se produza e comercialize.

Se a margem de contribuição for positiva, não importa o quão pequena possa ser, sempre haverá um volume de produção e comercialização que permitirá que a curva de receita total cruze com a curva de custo total, atingindo o ponto de equilíbrio do negócio.

Portanto, se uma empresa cujo produto apresente margem de contribuição positiva, está dando prejuízo, não indica ser este o fim do mundo. Isto só é um indicativo de que sua atividade não atingiu ainda o necessário ponto de equilíbrio.

Walter Magalhães Jr
Fazenda Caiçara
Administrador de empresas e Produtor Rural em Dourados-MS.

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