Municípios afetados por incêndios em São Paulo deve chegar a 200, estima governo estadual; 3,8 mil propriedades rurais tiveram prejuízos.
O produtor de cana-de-açúcar Mario Pelegrini conta que ele e o pai, de 71 anos, nunca tinham passado por incêndios como os do último fim de semana, no interior de São Paulo. O fogo destruiu 50 hectares da lavoura em Olímpia e deixou a incerteza sobre a próxima safra.
“Não sei se vai brotar. tem que chover pra ver se vai brotar ou não. Mas eu acredito que uns 30% da safra que vem vai perder”, conta Pelegrini ao Agro Estadão. Ele diz que conseguiu salvar a seringueira “na marra” porque usou um tanque de água. Mas a lavoura que já tinha brotado foi perdida. “Foi feio demais, demais… o fogo veio de longe, de 30 km, veio queimando tudo, foi coisa absurda”, lembra.
Na região Centro-Oeste de São Paulo, entre 30% e 40% das lavouras de cana-de-açúcar foram atingidas pelos incêndios, segundo levantamento da Canaoeste. A associação reúne 2.500 produtores e uma área de 100 mil hectares.
Como consequência, a Canaoeste estima redução em torno de 20% na safra deste ano, que era projetada em 8 milhões de toneladas. Para o ano que vem, a queda de produtividade também é esperada.
“Tem produtor que tinha acabado de fazer o trato de cultivo e perdeu 100% de adubo, tem produtores que não sabem se ano que vem vai ter cana, porque o fogo atingiu o sistema radicular e, então, aquela soqueira não vai mais brotar”, conta Almir Torcato, diretor-executivo Canaoeste e membro do Conselho da Orplana. Segundo ele, a Canaoeste está com 15 agrônomos em campo para rastrear as consequências.
Já a Orplana – que reúne 20 associações em São Paulo e 33 no Brasil – estimou um prejuízo inicial de R$ 350 milhões e 60 mil hectares de lavouras queimadas. Mas na tarde desta segunda-feira, 26, a área afetada já teria superado os 70 mil hectares.
Governo de São Paulo estima que 200 municípios foram afetados
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo divulgou, na tarde desta segunda-feira, um levantamento sobre os prejuízos causados pelo fogo. Em nota, a SAA diz que 3.837 propriedades rurais em 144 municípios foram afetados até o momento. Em vídeo, o secretário Guilherme Piai afirma que os dados são preliminares e que esses números devem chegar a cinco mil propriedades e 200 municípios.
O prejuízo inicial estimado para o agronegócio paulista é de R$ 1 bilhão. Além da cana-de-açúcar, outras cadeias produtivas foram impactadas, como a bovinocultura, fruticultura, heveicultura (cultivo da seringueira) e apicultura.
O governo estadual disponibilizou R$ 110 milhões para os produtores afetados, sendo R$ 10 milhões como custeio emergencial para a recuperação das propriedades. Os R$ 100 milhões são subsídio para o seguro rural. O Secretário de Agricultura esclarece que é preciso preencher um Termo Circunstanciado (no site da SAA ou nas Casas de Agricultura) para ter acesso às medidas de ajuda, como casas para quem perdeu a moradia.
“Esse termo gera segurança jurídica para que órgãos ambientais não multem os nossos produtores que foram vítimas de incêndios. O agronegócio foi vítima do que aconteceu, foi o mais prejudicado e o que mais ajudou o governo de São Paulo a combater esses incêndios”, diz Piai em vídeo.
Para o agronegócio paulista, incêndios foram criminosos
O diretor-executivo da Canaoeste explica que os associados utilizam imagens de satélite para monitorar focos de incêndio e um sistema interno chamado “Plano de Auxílio Mútuo”, em que os produtores ajudam uns aos outros no combate às chamas quando detectam algum foco.
Mas no caso do fim de semana, foram muitos chamados. “O evento foi tão absurdo que se você ouve os áudios no sistema… é estarrecedor! Produtor pedindo socorro, pedindo ajuda para evacuar casa, família”, conta Torcato .
De acordo com os relatos e o sistema de monitoramento por satélite da Canaoeste, a cada 1 km havia um foco de incêndio. O diretor lembra que, normalmente, o fogo vai se alastrando e criando novos focos, um perto do outro. Por isso, existe a suspeita de que os incêndios foram provocados pela ação humana.
“Havia condições climáticas para o fenômeno, sim, mas a maneira como aconteceu nunca se viu, foi algo sem precedentes. Foram focos pontuais distantes uns dos outros, é muito difícil dizer que não teve interferência humana. Qual seria a motivação para fazer isso? Não consigo identificar um motivo, a não ser vandalismo”, avalia o diretor.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP) orienta que os produtores rurais devem registrar Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e encaminhar fotos e vídeos para ajudar nas investigações. Até esta segunda, 26, três pessoas haviam sido presas suspeitas de provocar focos de incêndio, segundo o governo paulista.
“Isso foi um ato criminoso, a gente precisa levantar quem fez, porque tivemos perdas da fauna, da flora” diz o presidente da FAESP ao Agro Estadão. Tirso Meirelles afirma que o SENAR está visitando as propriedades para verificar as necessidades de cada um.
“Hoje estamos fazendo o mesmo modelo que o SENAR nacional fez com o Rio Grande do Sul. Para que a gente possa fazer um plano de negócios[…] Para que nós possamos ter recursos específicos para a retomada das atividades, estamos pedindo apoio ao Ministério da Agricultura. Nós teremos grande prejuízo, a produtividade já estava complicada por causa da seca, depois veio geada, agora com fogo muito mais”, finaliza.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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