Segundo estimativas de mercado, de 60% a 70% dessa safra já está vendida; produtor está aproveitando os momentos que o mercado vem proporcionando
A safra de algodão 2020/21 no Brasil deverá bater o recorde de 2.9 milhões de toneladas, informou o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e membro da Câmara Setorial do Algodão do Ministério da Agricultura, Hélio Sirimarco. A estimativa está baseada em dados divulgados recentemente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Ao participar de uma videoconferência sobre produção de algodão, organizada pelo programa Terra à Vista, Sirimarco disse que a comercialização da pluma já está bastante adiantada e que, com relação à área plantada, haverá, segundo a Conab, um aumento de 3,10% em relação à safra passada, para 1.700.000 hectares.
No entanto, o vice-presidente da SNA acrescentou que a área de produção na próxima safra deve ser menor.
“Segundo estimativas de mercado, de 60% a 70% dessa safra já está vendida. O produtor está aproveitando os momentos que o mercado vem proporcionando, especialmente em relação ao dólar”, disse Sirimarco.
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Ele acrescentou que, no cenário das exportações, “o Brasil tirou proveito” da crise entre Estados Unidos e China. “Estamos ocupando o lugar dos EUA na soja e principalmente no algodão. O volume de vendas é bastante grande”.
Porém, Sirimarco alertou que é preciso “prestar atenção a esse movimento de desvalorização do dólar nas últimas semanas, que tira a competitividade do mercado brasileiro. Mas a princípio as perspectivas são boas”, concluiu.
Desafios da indústria
Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), destacou na videoconferência a posição do Brasil como o segundo maior exportador mundial de algodão, “com pretensão de assumir a liderança”, e relatou que um dos desafios da indústria é “aumentar a exportação com agregação de valor no território nacional”.
Segundo o executivo, “é bastante positivo para a cotonicultura brasileira ter um grande mercado local, assim como para a indústria brasileira ter um grande abastecimento local”.
Pimentel mencionou ainda que outro desafio da indústria é “retomar o patamar de 1 milhão de toneladas de consumo de algodão por ano, contra a média atual de cerca de 720.000 toneladas”.
Pandemia
Avaliando os impactos da pandemia do novo Coronavírus no setor, o presidente da Abit afirmou que os próximos 12 meses deverão registrar queda substancial no consumo de algodão, com volume estimado entre 550.000 e 600.000 toneladas.
“Considerando que o mercado local deve ter queda de consumo de 15% ou /16%, mas com crescimento paulatino, se não houver retrocessos, em meados de 2021 poderemos ter um patamar semelhante à fase pré-pandemia”.
Cenário
Quanto ao mercado internacional, Pimentel considerou o cenário desfavorável. “Com a crise, houve queda de consumo do setor têxtil, em especial na área de vestuário. Após a decretação da quarentena, o mercado global de consumo caiu quase 90%. Na pré-pandemia, era de 35%”.
Além disso, o executivo observou que alguns setores registraram notável recuperação durante a pandemia, como a área de e-commerce, principalmente em relação aos grandes players, e lembrou que as indústrias precisaram se transformar para atender às necessidades médico-hospitalares.
Pimentel também destacou que a cotonicultura brasileira emprega 1.5 milhão de pessoas por ano, que o algodão é a principal matéria-prima transformada do País e que o setor de fibras sintéticas tem mostrado uma grande evolução nos últimos anos.
Sustentabilidade
Por outro lado, o presidente da Abit ressaltou que o algodão tem colaborado para que o País avance na questão da sustentabilidade. “A cotonicultura é uma atividade não irrigada, que utiliza água de chuva, que se destaca pela produtividade, entre outros fatores”, lembrou Pimentel, acrescentando que o Brasil é o maior produtor de algodão certificado do mundo.
Lidiane Eichelt, gerente geral da OLAM Cotton, ao abordar aspectos relacionados ao algodão brasileiro no mercado externo, salientou que o produto é bem aceito em razão da qualidade.
“De 80% a 86% do que é produzido está direcionado para atender aos padrões de exportação. A qualidade melhorou muito nos últimos cinco anos”, disse.
Planejamento e conexão
A preocupação com a incidência de pragas nas lavouras foi outro tema debatido durante a videoconferência. O chefe-geral da Embrapa Algodão, Liv Severino, afirmou que o setor deve estar sempre preparado para enfrentar esse problema, com um planejamento prévio que possa contemplar possíveis soluções.
Liv também defendeu uma conexão maior dos cientistas brasileiros com pesquisadores de outros países. “A cadeia produtiva do algodão é mundial e deve estar integrada com a globalização dessa produção. É preciso aprofundar esse nível de interatividade, não só nas relações comerciais, como também no âmbito científico”.
Acompanhe, a seguir, a videoconferência na íntegra.
Fonte: Terra à Vista