Rússia pede suspensão das vendas de fertilizantes

Decisão foi tomada levando em conta a situação atual dos operadores logísticos; Rússia recomendou a suspensão temporária das exportações de fertilizantes.

O Ministério da Indústria e Comércio recomendou que os produtores russos suspendam temporariamente o embarque de fertilizantes para exportação devido a falhas logísticas. A informação foi divulgada pela assessoria de imprensa do departamento. Momento é tenso e a crise dos fertilizantes acaba gerando maior insegurança dentro do país, e no mundo, já que é prevista uma queda na produção de alimentos, como impacto dessa menor oferta de fertilizantes.

A medida pode afetar diretamente o Brasil, grande importador desses insumos do país que invadiu a Ucrânia no dia 24. E é mais um embaraço diplomático para o governo de Jair Bolsonaro, presidente que foi à Rússia uma semana antes da guerra com a justificativa de garantir o fluxo de fertilizante ao país.

Devido a falhas logísticas, o Ministério da Indústria e Comércio recomendou que os produtores russos suspendam temporariamente o embarque de fertilizantes para exportação – “até que as transportadoras retomem o trabalho rítmico e forneçam garantias para as entregas de exportação de fertilizantes russos na íntegra”.

“As restrições no fornecimento de fertilizantes minerais da Rússia podem causar um colapso nos mercados de alimentos estrangeiros … Isso cria riscos óbvios de quebra de safra e, como resultado, escassez de alimentos para os países da Europa Ocidental e Oriental, América Latina, Sul e Sudeste Asiático – afinal, substituir os fertilizantes russos hoje é extremamente difícil ou até impossível”, disse o departamento em comunicado.

“Falhas no embarque de fertilizantes podem afetar diretamente a segurança nacional de vários países e causar graves consequências na forma de escassez de alimentos para centenas de milhões de pessoas já no médio prazo”, diz a nota do ministério. No Brasil, o governo dá como certa a inflação ainda maior de alimentos.

O Ministério do Comércio e Indústria da Rússia recomendou aos produtores de fertilizantes do país que suspendam temporariamente as exportações

Levando em conta a situação atual dos operadores logísticos estrangeiros e os riscos associados a ela, o ministério teve que recomendar aos produtores russos que suspendam temporariamente as exportações de fertilizantes russos até que os transportadores retomem o trabalho e forneçam garantias de que as exportações russas de fertilizantes seriam concluídas na íntegra”, disse.

Foto: Divulgação

O departamento também acrescentou que as necessidades dos agricultores russos em fertilizantes são totalmente atendidas.

Impacto no Brasil

O impacto para o Brasil ainda precisa ser mensurado. Segundo a Folha ouviu de um empresário do setor em Moscou, ainda não houve uma norma técnica editada para explicar como será feita a implementação da suspensão.

Assim, pode haver algumas alternativas de exportação direta, sem passar pelos canais ocidentais, e talvez até por meio de países neutros —embora certamente isso irá desorganizar e encarecer as entregas.

O Brasil importa 23% dos seus fertilizantes fosfatados e nitrogenados da Rússia, e 3%, da ditadura da Belarus, também sob sanções devido ao seu envolvimento na guerra da Ucrânia ao lado da aliada Moscou.

O agronegócio brasileiro é o quarto maior consumidor do produto no mundo, atrás de China, Índia e Estados Unidos. Ele é o produto mais importante da corrente comercial Brasil-Rússia, respondendo por cerca de 60% dos US$ 5,9 bilhões importados dos russos em 2021.

A decisão é um tapa na cara de Bolsonaro, que passou sua viagem a Moscou nos dias 15 e 16 de fevereiro justificando a necessidade de estabelecer contratos mais sólidos e de longo prazo com os russos. Acabou ficando famoso por prestar “solidariedade” a Vladimir Putin uma semana antes do ataque à Ucrânia, e na prática não viu nada ser assinado no campo.

Pressupondo o problema com a guerra, agora Bolsonaro aproveitou a crise para sugerir uma de suas obsessões, remover óbices legais à exploração mineral de áreas indígenas para tentar mitigar o problema da falta dos insumos.

Houve tratativas, que já haviam sido adiantadas em uma visita da ministra Tereza Cristina (Agricultura) e do chanceler Carlos França no fim de 2021, para que uma empresa russa adquirisse uma fábrica de fertilizantes desativada da Petrobras, mas nem isso foi formalizado.

A pujança do setor de agro no Brasil passa pelos fertilizantes, dada a pobreza intrínseca do solo no país. Assim, 85% do que o país consome é importado. A Associação Nacional para a Difusão de Adubos acredita que há estoques para três meses.

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