Roberto Perosa deixa secretaria de Relações Internacionais; Luis Rua é indicado para assumir

Saída acontece três dias após Perosa substituir Fávaro no Ministério da Agricultura; em dois anos, secretário percorreu 40 países para aberturas de mercados.

O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Roberto Perosa, deve deixar o cargo nesta sexta-feira, 04. O Agro Estadão apurou que o novo secretário deve ser o atual diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luis Rua. 

A exoneração a pedido de Perosa deve ser publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União. Quanto à nomeação de Rua, “ainda é preciso aguardar um aval do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro”, afirmam fontes do setor ouvidas pelo Agro Estadão.

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A saída do secretário teve um tom de surpresa, já que Perosa chegou a confirmar que iria participar da SIAL Paris 2024, que acontece entre os dias 19 e 23 de outubro na França. Além disso, havia uma programação para fazer visitas a produtores de borracha, confinamento de gado, laranja e limão. A reportagem apurou que Perosa irá se dedicar aos negócios e atuar na iniciativa privada.

Uma semana antes de deixar o cargo, Perosa ocupou a cadeira de ministro  

No final de setembro, Perosa foi o escolhido pelo ministro Carlos Fávaro para substituí-lo durante uma semana. Segundo ele, foi uma “experiência muito intensa”, apesar da facilidade de interlocução que já tinha com as outras secretarias da pasta. 

“Liguei para o ministro Fávaro e disse: olha, volta logo”, confidenciou ao Agro Estadão – entre risos – durante a substituição. “Você tem que mergulhar em todos os temas. A vida do ministro não é fácil, é a conclusão a que eu cheguei”, pontuou. 

Para Perosa, a oportunidade demonstrou a confiança do ministro no seu trabalho, já que foi a primeira vez que um secretário de comércio e relações internacionais foi designado para a função. “Mostra a confiança e é fruto desse bom trabalho”, concluiu à reportagem.

Ampliação de negócios com a China continua, apesar da saída

O saldo que Perosa deixa é de 246 novos mercados abertos em 60 destinos após 21 meses à frente da secretaria, além de negociações avançadas com a China para mais 15 aberturas, que devem ser oficializadas em novembro, durante a visita do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil.    

“Nós vivemos o melhor momento de negociações com a China. A expectativa é a liberação de uvas frescas, sorgo, gergelim e DDG (grãos de destilaria). Além disso, a China está olhando com muito bons olhos para utilização do etanol, que hoje é 1,5% no blend da gasolina [no Brasil, é 27%]. Então tem grandes possibilidades, além da revisão de protocolos”, conta Perosa ao Agro Estadão.

Atualmente a China é o destino de 30% das exportações brasileiras. De janeiro a agosto deste ano, os embarques para o país asiático somaram US$ 69,2 bilhões, enquanto em todo o ano passado, alcançaram R$ 104,3 bilhões.

Via de mão dupla

O atual secretário também adiantou que o Brasil pode abrir mercados para a China e outros países. “Estamos abertos para pescados da China e abrindo [também] para o pescado brasileiro acessar a China. Estamos negociando com o Vietnã para abrir [mercado de] camarão do vietnamita, para que a gente possa acessar no Vietnã também”, afirma Perosa.

Em dois anos, secretário percorreu 40 países

Roberto Perosa passou os últimos dois anos dialogando com autoridades internacionais, totalizando 40 países. Ao Agro Estadão, ele relembra dois momentos que considera mais importantes para o agronegócio brasileiro.

“A abertura de bovinos e suínos para o México foi um marco muito grande, porque fazia 20 anos que estávamos negociando. As questões técnicas já tinham sido acertadas há muito tempo. Faltava a questão política”, pontua. 

Exportar algodão para o Egito também é visto como “emblemático” por Perosa. “Algodão para o Egito foi emblemático. Nós ouvimos a vida toda que o algodão do Egito é o melhor. Quando a gente é autorizado a exportar algodão para o Egito, a gente põe [o nosso algodão] no mesmo patamar. Ano passado abriu e esse é o fruto disso, que este ano somos o maior exportador de algodão do mundo. Veja o impacto que esses simbolismos trazem para toda cadeia produtiva aqui no Brasil”, enfatiza.

No entanto, o executivo afirma que a situação de maior tensão foi logo na chegada à secretaria de Comércio e Relações Internacionais, quando negociou a retomada das exportações de carne bovina para a China, após registro de vaca louca no Brasil. 

“Ficamos 29 dias sem exportar. Na última vez que tinha acontecido um evento desses, a China tinha fechado mais de 100 dias. Então teve muito diálogo internacional, muitas O madrugadas negociando com os chineses, mostrando para os chineses a sanidade”, completa Perosa.

Negociações em andamento 

Pouco antes de deixar o cargo, Roberto Perosa comenta que a abertura de novos mercados depende das demandas do setor produtivo. Como exemplo, ele cita os Grãos de Destilaria (DDG) – recentemente, o Brasil abriu diversos mercados para o produto. 

“Como estamos incrementando a produção de etanol de milho, e o subproduto do etanol de milho é o DDG, a iniciativa privada pediu muito para abrir. E aí estabelecemos o foco de abrir novos mercados de DDG”, comenta. 

O mesmo vale para o setor de frutas, que tem baixa participação no volume das exportações brasileiras, mas vem crescendo. Em 2023, o Brasil exportou 1 milhão de toneladas, segundo dados da ComexStat. Para o secretário, a situação é resultado da falta de incentivo por parte do governo, mas também da organização do setor.

“Não é possivel que o Brasil, sendo o terceiro maior produtor de frutas, seja só o 24º exportador. Grandes mercados devem se abrir para a fruticultura, e a gente imagina que isso incentivará o produtor de frutas a mirar a exportação, porque hoje ele está muito voltado para o mercado interno. Falta mais organização maior do setor, e o apoio que precisa ser dado para que possam ter ainda mais incentivos para exportar”, avalia.

Roberto Perosa avalia que o encontro do G20, que será realizado em novembro, no Rio de Janeiro, será importante para ampliar a participação brasileira no exterior. Ele comenta que a reunião ministerial do G20 em Mato Grosso no mês passado, abriu o caminho para tanto.

“Em uma semana, fizemos mais de 30 reuniões bilaterais – eu e o ministro Fávaro – que ele levaria dois anos para fazer. A gente faz uma pressão grande nessas reuniões para que as coisas aconteçam. Então o G20 vai ser um grande impulsionador de aberturas de mercados”, comenta.

Fonte: Agro Estadão

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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