Retrospectiva 2024: Os recordes da pecuária de corte

As expectativas para o próximo ano apontam para um mercado mais favorável à pecuária e uma expansão nas exportações, com o tema do protecionismo ganhando destaque nas discussões do setor em 2025

Em 2024, o setor de pecuária bovina no Brasil experimentou um ano de marcos históricos, com recordes em abates, produção, preços e exportações. Logo nos primeiros meses, as tendências do ano ficaram evidentes. O primeiro trimestre destacou-se pelo número recorde de abates, que atingiu 9,3 milhões de bovinos, um aumento expressivo de 24,6% em comparação ao mesmo período de 2023, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse desempenho inicial foi um reflexo claro do que estava por vir, sinalizando um ano de grandes conquistas para o setor.

Em 2024, o Brasil superou um marco histórico na pecuária bovina ao ultrapassar pela primeira vez a marca de 10 milhões de bovinos abatidos. Esse feito foi registrado no terceiro trimestre do ano, impulsionado por uma demanda crescente tanto no mercado interno quanto externo, mas principalmente pelo aumento no abate de fêmeas. O número de matrizes enviadas aos frigoríficos cresceu 19,6% em comparação ao mesmo período de 2023, enquanto o abate de machos teve um aumento de 12,5%.

De acordo com Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, o aumento na oferta de bovinos para abate é resultado de um ciclo de retenção de fêmeas que ocorreu entre 2019 e 2022. Em 2022, o mercado sofreu uma inversão no ciclo, com a queda no preço dos bezerros, o que levou ao abate de mais fêmeas.

Esse crescimento no abate também impactou positivamente as exportações, que atingiram novos patamares. Entre janeiro e novembro de 2024, o Brasil exportou mais de 2,6 milhões de toneladas de carne bovina, um aumento de 15,5% em relação ao mesmo período de 2023, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Em 2024, o Brasil também conquistou avanços importantes no cenário internacional da pecuária. A abertura de novos mercados e o reconhecimento da área livre de febre aftosa sem vacinação foram marcos significativos, que elevaram o valor da carne bovina brasileira e fortaleceram a posição do país em mercados mais exigentes. Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária, comentou em abril ao Agro Estadão que, após conquistar o status internacional de área livre de febre aftosa sem vacinação — esperado para 2025 —, o Brasil buscará renegociar acordos de comercialização de carne bovina com diversas nações.

Em 2024, o mercado de pecuária bovina também foi marcado por uma grande variação nos preços. Embora o primeiro semestre tenha sido desafiador, com os preços atingindo o ponto mais baixo do ano em junho, quando a arroba foi negociada a R$ 215,30, o cenário começou a mudar nos meses seguintes. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a baixa nos preços foi influenciada pelas condições ruins das pastagens, o que levou muitos pecuaristas a acelerar as vendas, incluindo o abate de fêmeas, para reduzir custos e evitar perdas de peso.

A partir de agosto, o mercado passou a se aquecer. Os frigoríficos intensificaram a procura por novos lotes de bovinos, oferecendo preços mais altos a cada dia. Isso gerou uma valorização rápida do preço da arroba, o que também impactou os valores de reposição dos animais. Em 27 de novembro, o preço médio do boi gordo no estado de São Paulo atingiu um recorde histórico de R$ 352,65 por arroba, superando o recorde anterior de R$ 352,05, registrado em março de 2022.

No entanto, ao final de novembro, os preços começaram a cair, pressionados pela redução da demanda, à medida que os frigoríficos diminuíam suas compras. No acumulado de dezembro, a desvalorização foi de 9,55%, embora ainda com a arroba sendo negociada acima de R$ 315. Apesar dessa queda recente, as expectativas para 2025 são otimistas. De acordo com Alcides Torres, a perspectiva é de um mercado mais favorável ao pecuarista, com melhores condições em comparação a 2023 e 2024.

Pecuária unida contra o protecionismo

Retrospectiva 2024: Os recordes da pecuária de corte deste ano
Foto: Compre Rural

Em 2024, a pecuária de corte brasileira enfrentou um novo desafio: críticas relacionadas à sustentabilidade do setor. Em meio ao crescimento das exportações de carne bovina, impulsionado pela ampliação das cotas com o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, surgiram vozes protecionistas que tentaram desacreditar a imagem da indústria.

Essas críticas vieram principalmente de países da União Europeia, onde produtores se opuseram ao tratado. Na França, por exemplo, o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou que, para apoiar a produção local, a rede de supermercados deixaria de comprar carne bovina do Brasil.

A resposta do setor brasileiro foi rápida e contundente: um boicote aos supermercados Carrefour no Brasil. Grandes frigoríficos, como a Minerva, suspenderam as entregas de carne à rede. O movimento ganhou força, com apoio de outros segmentos da economia, em defesa da pecuária nacional e da livre concorrência.

Após o tumulto gerado pelas críticas e o risco de escassez nos supermercados brasileiros, o CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, recuou e pediu desculpas. Ele enviou uma carta formal ao Ministério da Agricultura e Pecuária, reconhecendo a falha em sua postura anterior.

Entretanto, o episódio envolvendo o Carrefour não foi um caso isolado. Outros países, como a França, também levantaram objeções às carnes brasileiras e do Mercosul. Deputados franceses, durante uma sessão no parlamento, expressaram a opinião de que a carne brasileira não deveria ser servida em seus pratos, considerando-a inadequada.

Este debate promete continuar em 2025, já que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia ainda aguarda a ratificação pelos parlamentos dos países membros. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil também está avaliando a possibilidade de ações judiciais contra o Carrefour na União Europeia, por prejudicar a imagem da carne brasileira no mercado internacional.

Em outro cenário global, o governo brasileiro e os setores industriais estão acompanhando de perto a investigação iniciada pela China, que visa analisar as importações de carne bovina entre 2019 e 2023. A investigação afeta todos os países que exportam carne bovina para a China e pode durar até oito meses, com possibilidade de prorrogação. Esse processo gera grande preocupação, pois a China é o maior comprador de carne bovina brasileira. Caso o governo chinês decida aumentar as tarifas de importação, o impacto para o setor pode ser considerável.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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