Dentre os diversos pontos que nortearam a cadeia leiteira em 2023, o alto preço dos lácteos para o consumidor; a perda de competitividade perante o leite importado e a continuidade das mudanças estruturais no campo se destacaram no contexto; confira
Ao longo do ano que se encerra, a cadeia leiteira viu-se diante de um panorama desafiador, exigindo não apenas resiliência, mas também uma redefinição estratégica para enfrentar os obstáculos que surgiram.
A necessidade de planejamento e adaptação foi evidenciada, à medida que as dinâmicas do mercado e as demandas do consumidor se modificam rapidamente. Dentre os diversos pontos que nortearam 2023, o alto preço dos lácteos para o consumidor; a perda de competitividade perante o leite importado e a continuidade das mudanças estruturais no campo se destacaram no contexto.
Além do que já foi dito, a busca pela sustentabilidade emergiu como pauta relevante, instigando o setor a pensar, cada vez com maior frequência, nas suas práticas e ações em prol ao meio ambiente.
Enquanto os desafios econômicos e sociais se entrelaçam, os cada vez mais frequentes fenômenos climáticos impuseram uma urgência ainda maior, exigindo medidas concretas para mitigar os impactos ambientais.
Nesta retrospectiva, trazemos esses elementos interconectados que moldaram o cenário da cadeia leiteira em 2023, destacando não apenas as dificuldades enfrentadas, mas também as inovações e soluções que emergiram em resposta a esses desafios multifacetados.
Fenômenos climáticos e impactos na cadeia do leite
Após vários anos do fenômeno climático La Ninã, que trouxe três anos de seca e estiagens fortes para o Sul do Brasil, em 2023 tivemos o início do El Niño, marcando o ano com chuvas fortes e prejuízos na região.
Os impactos do fenômeno foram diferentes em cada região brasileira: enquanto na região Sul, como de costume, o El Niño causou um volume de chuvas acima do normal e um aumento da temperatura média, no Nordeste o fenômeno gerou seca.
Além de todos os problemas causados pelas inundações e encharcamento do solo na região Sul, e a seca e calor excessivo em várias outras regiões, o El Niño afetou o desempenho da lavoura como um todo, impactando diretamente nas janelas de plantio e o preço dos grãos. Também houve grande impacto nas pastagens, acarretando problemas para a alimentação do rebanho e elevando o custo de produção.
O atraso do plantio da soja fez com que as projeções de produção para o milho 2ª safra (milho safrinha) fossem reduzidas, elevando as cotações para o grão em 2024. Abaixo, podemos observar as projeções da CONAB para a próxima safra, que deve apresentar um volume produzido um pouco menor, se comparado à safra anterior, além de as revisões recentes também demonstraram reajustes para baixo.
Gráfico 1. Projeção de produção para a safra de milho 2023/2024 (milhões de toneladas).
Importações recordes
Neste ano, os compradores brasileiros viram os preços dos produtos importados ficarem bem mais atrativos. As importações de leite, principalmente da Argentina e Uruguai, bateram recordes em 2023, causando grande insatisfação aos produtores e grandes debates em toda a cadeia.
A China, principal compradora de lácteos do mundo, reduziu seu volume de compras. Com um cenário desafiador pelo crescimento econômico reduzido e uma menor taxa de nascimentos, o país diminuiu seu ritmo de crescimento do consumo. Além disso, o país tem incentivado sua produção interna de leite, a fim de depender menos do mercado internacional para alimentar sua população.
A redução nas compras chinesas contribuiu para a tendência de queda nos preços dos lácteos no mercado internacional, afetando também os preços de venda para exportação da Argentina e do Uruguai, que são nossos principais fornecedores. Diante desse cenário, os compradores brasileiros perceberam uma maior competitividade de preço nos produtos importados em comparação com os produtos nacionais, o que estimulou as importações para o Brasil ao longo deste ano.
Ações governamentais
Com a insatisfação dos produtores brasileiros, o governo institui medidas para auxiliar na redução das importações. Como por exemplo, aumento da tarifa de importação de alguns derivados de lácteos de países de fora do Mercosul e a retirada dos benefícios de PIS/COFINS na compra de leite fresco de empresas que tenham importado leite – que entrará em vigor a partir de 2024.
Sustentabilidade
Uma das pautas mais comentadas dentro do setor agro como um todo, foi o tema sustentabilidade. Várias empresas ao redor do mundo iniciaram seu planejamento para redução das emissões dos gases do efeito estufa.
Vários países anunciaram suas novas metas para redução das emissões, como a União Européia que firmou acordos para o “Green Deal” ou Pacto Ecológico Europeu. Um pacote de iniciativas estratégicas que visa colocar a UE rumo a uma transição ecológica, com o objetivo de alcançar a neutralidade climática até 2050.
Recentemente, na COP28 – 28ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, seis gigantes do leite – Kraft Heinz, Lactalis USA, Nestlé, Danone, Grupo Bel e General Mills – anunciaram uma aliança para redução de metano na cadeia leiteira.
Além desses, no Brasil, a Danone apresentou seu novo programa voltado para bem-estar animal, intitulado “Fazenda Tudo de Bem”, que tem como objetivo fortalecer os produtores de leite que fornecem a matéria prima para a Danone, alcançando mais eficiência e sustentabilidade em suas ações.
Investimentos no setor
Apesar do cenário repleto de desafios com o desaquecimento do setor, assim como no caso da Danone, tivemos investimentos na cadeia leiteira.
Em outubro houve a aprovação, com restrições, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a compra da DPA Brasil pela Lactalis do Brasil.
Além disso, houve o aporte da International Finance Corporation (IFC), instituição do Grupo Banco Mundial para investimentos privados na Alvoar Lácteos, quinta maior indústria de laticínios do Brasil. Investimento que irá potencializar o fomento da cadeia de produção de leite no Nordeste bem como as práticas ESG da Alvoar.
Recuperação econômica Brasil gerando boas perspectivas para 2024
A economia brasileira iniciou o ano de 2023 com elevado grau de incertezas. Além de ainda sofrer com resquícios dos impactos da pandemia, o país iniciava um novo ciclo presidencial – que trazia preocupações ao mercado de como seria a forma de condução econômica do novo governo.
O Boletim Focus, do Banco Central, evidenciava uma expectativa média do mercado para o crescimento do PIB em 2023 de 0,78%, no dia 06/01/2023. No início do 2ª semestre, no dia 07/07/2023, a expectativa era de 2,19%. Atualmente, espera-se que o PIB deva apresentar crescimento próximo a 2,9%.
Gráfico 2. Crescimento do PIB (vs mesmo período do ano anterior).
Fonte: IBGE e Itaú – elaborado pelo MilkPoint Mercado
Aliado a isso, o mercado de trabalho demonstrou crescimento ao longo do ano de 2023, com a taxa de desemprego atingindo os menores níveis dos últimos anos.
Um ano difícil e de grandes lições para o setor
O ano de 2023 chega ao fim e esperamos que as boas perspectivas para o próximo ano sejam concretizadas. Apesar do ano difícil, muita coisa pode ser aprendida e deve ser levada em conta ao planejarmos o futuro de qualquer que seja o elo do setor lácteo.
Fonte: MilkPoint
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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