Nos últimos anos, temos assistido o ressurgimento de várias propriedades que se encontravam em estado vegetativo ou até mortas em termos produtivos.
O cenário já conhecido, pastagens degradadas, “criação” de cupim e não de capim, estruturas de cercas e currais deteriorados, casas desmanchando, galpões caindo, enfim um cenário triste de fazendas que outrora foram produtivas e movimentadas e hoje se encontram em total abandono, com uma pecuária extrativista sobre a área, só para pagar o ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural).
As circunstâncias destes fatos são muitas, podemos exemplificar de várias formas como, o falecimento do patriarca que era quem mantinha a atividade e seus filhos foram todos direcionados a atividades urbanas; um longo inventário que torna a propriedade “terra de ninguém” por longo tempo; o entendimento da propriedade como patrimônio e não como algo produtivo e perene; o desconhecimento gerencial dos proprietários; enfim muitos se encontram pobres sentados sobre um baú repleto de tesouros, porém perderam a chave.
Uma das chaves que está abrindo vários destes baús tem sido a utilização da Integração Lavoura Pecuária.
O mais caro de se resgatar numa propriedade degradada é, sem dúvida, recuperar a fertilidade e estrutura do solo. Isso exige investimentos, a maioria destas áreas estão em solos muito pobres, muitas vezes arenosos e que exigem grandes quantidades de insumos para recuperá-los.
Este primeiro passo de reconstrução de solos, do qual foi drenado suas reservas sem nenhuma reposição durante muitas décadas, agora exige atenção, conhecimento, empenho e capital para resgatá-lo.
Um caminho que muitos têm adotado, tem sido através da introdução da agricultura nestas áreas degradadas de pastagens que possuem aptidão agrícola, solos com topografia relativamente plana, logística para receber insumos e escoar produção e clima compatível com atividades agrícolas.
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Com o bom momento das commodities, vivido nos últimos anos, o cultivo de grãos está conseguindo pagar contas efetivamente, desta forma se transformaram em uma ferramenta de recuperação de pastagens e que têm se disseminado em várias regiões do país.
Ao mesmo tempo, o inverso também estamos assistindo, a introdução de gramíneas e leguminosas em consórcio ou sucessão em áreas de agricultura.
Áreas estas que estão enfrentando desafios que o sistema tradicional não tem dado respostas, seja em função de clima, pragas, doenças, solos arenosos e erosão, entre outros.
Com isso, agricultores tem introduzido principalmente as gramíneas para converterem estes solos em áreas produtivas. Principalmente pela “safra de raiz”, que consegue melhorar significativamente a quantidade de matéria orgânica destes solos e pela quantidade de palha que se consegue para proteger o solo, evitando a esterilização pelo sol.
Também hoje, estes agricultores sofrem desafios com invasoras de difícil controle químico, como o capim amargoso (Digitária insularis) e a buva (Conyza bonariensis), com a introdução da gramínea como as braquiárias e os panicuns, estes desafios se resolvem, pois ele terá apenas uma espécie para controlar e muito susceptível ao herbicida glifosato.
Enfim, antes de mais nada, a Integração Lavoura Pecuária tem sido uma grande ferramenta, uma tecnologia a mais, disponível aos produtores para conseguirem reverter dificuldades de produção em suas áreas desafiadoras.
Porém, esta tecnologia carrega consigo alguns benefícios que estão indo além do simples econômico. A tecnologia dita sustentável, tem sido amplamente disseminada com este foco.
O que podemos extrair disso: primeiramente sustentável em nível econômico, sem dar dinheiro, nenhuma tecnologia irá se estabelecer em um país capitalista; depois as questões sociais, com a introdução do ILPF temos maior geração de emprego e renda, na fazenda e nas cidades circunvizinhas; e por fim o aspecto ambiental, com a introdução de gramíneas em consórcio ou rotação fazemos um serviço ao solo, com melhoria no balanço das emissões de gases de efeito estufa, diminuição de erosão, melhor retenção de água nos solos e melhoria significativa na biodiversidade do solo.
Quando agregamos o componente florestal ao sistema, passamos a criar uma ambiência com sombra e refúgio que confere bem-estar animal, algo cada vez mais presente no dia a dia da população urbana, que cobra cada vez mais responsabilidades de bem-estar animal dos produtores que lidam com animais de produção. Algumas cadeias produtivas estão tendo que alterar todo seu sistema de produção em função da opinião pública, que considera maus tratos algumas técnicas tradicionais de produção, como é o caso das matrizes suínas em gaiolas, vacas em free stall, poedeiras em gaiolas, confinamento bovino, entre outras atividades, obrigando estas cadeias a se adequarem a novos modelos de produção, ditas mais humanizadas.
Fonte: arquivo pessoal do autorAs cobranças mundiais para uma agricultura sustentável vêm ao encontro com a ILPF. Vamos assistir a uma crescente demanda por alimentos nas próximas décadas, teremos cerca 9,5 bilhões de habitantes mais ricos e mais dispostos a adquirir alimentos, nossos ambientes produtivos serão cada vez mais desafiados à uma crescente produtividade, porém com preceitos novos e impactantes quanto às questões ambientais, sociais, econômicas, de bem-estar animal, entre outros aspectos que passam a ser relevantes e influenciando diretamente nos processos produtivos.
“Tudo muito bonito!” E aí, por onde começar, como fazer para sair da zona de conforto e partir para a ação?
Por todo o Brasil temos visto maneiras criativas de se iniciar com a Integração. Não existe fórmula mágica, temos sim que buscar informações com pessoas e instituições sérias, que realmente irão compor com este pecuarista ou agricultor e buscar soluções que caibam primeiramente no bolso, no tipo de solo, no clima e nas questões familiares e de gestão destes produtores. Profissionais com um conhecimento mais holístico, que busquem entender o todo que circunda esta fazenda.
Atualmente este é o nosso maior desafio, temos profissionais capacitados a entender o todo de uma propriedade rural e saber orientar estes produtores em caminhos seguros para construírem uma agropecuária que atenda às demandas e aos anseios de uma população urbana cada vez mais exigente.
Por William Marchió (ILPF- Embrapa)