A iniciativa visa apoiar a geração de conhecimentos, tecnologia e inovação para ganhos econômicos, sociais e ambientais de ambos os países.
As iniciativas do Brasil como país estratégico no cenário da agricultura sustentável e da bioeconomia foram tema do webinar “Cooperação Internacional Brasil e Alemanha”, realizado nesta semana pelo Green Rio, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.
“As ações aqui compartilhadas não são conhecidas ou divulgadas o quanto merecem. E é essa a nossa proposta, divulgar e promover esses ativos transformadores, inovadores e sustentáveis”, destacou a diretora do Planeta Orgânico e coordenadora do Green Rio, Maria Beatriz Costa.
Uma dessas iniciativas traz os resultados do programa Bioeconomia Brasil – Sociobiodiversidade, apresentados pelo coordenador-geral de Extrativismo do Mapa, Marco Pavarino. A política pública, lançada em 2019, visa ampliar a participação dos agricultores familiares e dos povos e comunidades tradicionais nos arranjos da bioeconomia, no uso sustentável da biodiversidade a partir de processos inovadores.
“Nesses dois anos e meio do programa, tivemos 15 projetos apoiados, que estão beneficiando direta e indiretamente mais de 30 mil famílias de agricultores familiares e de povos e comunidades tradicionais com assistência técnica, oficinas e outras ações. Já são mais de R$ 12 milhões investidos nesses projetos apoiados pelo Mapa por meio do programa”, disse Pavarino.
Dentre as ações realizadas está a parceria entre o Mapa e o Governo do Amazonas para apoiar as cadeias produtivas do pirarucu, da castanha-do-Brasil e do guaraná. Foram aportados R$ 2,2 milhões para apoiar cerca de 7 mil beneficiários com qualificação da gestão dos empreendimentos, promoção de acesso a novos mercados e desenvolvimento de soluções tecnológicas para os processos produtivos.
Por meio do programa federal, também foram celebrados oito convênios com Consórcios Intermunicipais nos seguintes estados: Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A iniciativa, que está em andamento, visa a implementação de Roteiros da Sociobiodiversidade, beneficiando mais de 14 mil pequenos produtores. As ações são voltadas para a capacitação de agricultores e a gestão dos empreendimentos, agregação de valor aos produtos e resgate de saberes.
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O coordenador-geral também destacou o Pronaf Bioeconomia, linha de crédito criada pelo Mapa para possibilitar que os produtores familiares sejam inseridos nos arranjos da bioeconomia. “Já são mais de 1.500 acessos a esses recursos, totalizando quase R$ 100 milhões para implantação de energia solar nas propriedades, desenvolvimento de atividades sustentáveis, promoção do turismo rural e outras ações”.
Marco Pavarino ressaltou a necessidade de ampliar o acesso a mercados para os produtos da sociobiodiversidade tanto no mercado interno quanto no externo. “Existe um potencial enorme que precisa ser explorado, mas que precisa ser apoiado também pelos outros países, que demandam de nós sustentabilidade, qualidade e regularidade de preço. Nós temos toda a possibilidade de oferecer tudo isso. O Brasil pode dar resposta para esse consumo, que demanda, cada vez mais, sustentabilidade e rastreabilidade, e a nossa biodiversidade, a nossa agricultura familiar, a agricultura do nosso país consegue dar essa resposta”, afirmou.
COP 26
O tema bioeconomia será debatido durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), que ocorrerá em Glasgow (Reino Unido), de 31 de outubro a 12 de novembro.
“Estamos às vésperas da COP 26, todos unidos diante do grande desafio que representa encontrarmos soluções urgentes para o problema do aquecimento do planeta. Sabemos que essa solução inclui necessariamente o desenvolvimento da bioeconomia”, disse o secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, Fernando Camargo.
De acordo com o secretário do Mapa, a agricultura brasileira pode contribuir com soluções substanciais para descarbonização do planeta, entre elas a agricultura de baixo carbono, contemplada no Plano ABC. “Essas tecnologias envolvem desde a utilização de sistemas integrados de cultivo, que pode unir lavoura, pecuária e floresta na mesma área, o tratamento de dejetos animais para produção de energia, como biogás, e até o uso de bioinsumos também oriundos desse processo de produção de energia”.
Fernando Camargo destacou que, por meio do Plano ABC, o Mapa promoveu a expansão da adoção dessas tecnologias de produção agrícola sustentável em 52 milhões de hectares, mitigando cerca de 170 milhões de toneladas de carbono (CO2) equivalente.
“Quanto ao desafio específico do metano, os sistemas de produção que integram na mesma área lavoura, pecuária e floresta têm se demonstrado altamente eficientes na neutralização das emissões desse gás. Esses sistemas proporcionam absorção de gases tanto pelo solo quanto pelas florestas plantadas na mesma área e têm se demonstrado serem muito eficientes para adaptação e resiliência dos sistemas produtivos, aumento da biodiversidade, melhora do microclima da área e bem-estar animal”, disse Fernando Camargo.
Outro destaque foi o Programa Nacional de Bioinsumos, lançado pelo Mapa em 2020 com o objetivo de estimular a adoção dos bioinsumos pelos produtores por meio da concessão de crédito rural. Nos últimos 20 anos, o Mapa registrou 433 produtos biológicos. “Isso confirma a tendência crescente no uso de produtos biológicos na nossa agricultura. A perspectiva é de que esse mercado deva crescer a taxas de até 18% ao ano até 2030”, avaliou Camargo.
Para o secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Flávio Bettarello, não existe uma solução padrão para todos os países. “A sustentabilidade, nós todos temos que ir atrás dela, mas cada um trilhando o seu próprio caminho, até porque um caminho que, às vezes, funciona para um, não funcionará para outros”, ressaltou.
Betarello destacou que o Brasil possui uma forte agricultura familiar e, ao mesmo tempo, uma grande agricultura comercial. “Explorarmos a utilização e a potencialidade de todos os nossos sistemas produtivos é o único caminho possível para resolvermos o duplo desafio de alimentar uma população ainda crescente e, por outro lado, fazer isso mantendo uma preservação, uma conservação ambiental, promovendo a sustentabilidade nos seus três pilares: econômico, social e ambiental”.
Parceria
O secretário de Pesquisa e Formação Cientifica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcelo Morales, ressaltou a importância da parceria entre os governos do Brasil e da Alemanha. “Essa cooperação bilateral já rendeu diversos frutos em diversas áreas e vale lembrar que o Brasil possui o maior parque industrial alemão fora da Alemanha, refletindo aqui em vínculos importantes nas áreas de ciência, tecnologia e inovação”.
Um dos resultados do trabalho articulado entre os dois países foi o lançamento da primeira Chamada Conjunta Brasil-Alemanha para pesquisa e desenvolvimento. Uma parceria entre os ministérios brasileiros de Ciência, Tecnologia e Inovações e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com os ministérios alemães da Educação e Pesquisa e da Alimentação e Agricultura.
“Esta chamada está servindo para o estreitamento dos laços entre o Brasil e a Alemanha para o desenvolvimento de conhecimento e tecnologia, que está focada em uma bioeconomia sustentável e circular nos dois países, e isso é extremamente importante para todos nós”, afirmou Marcelo Morales.
A iniciativa visa apoiar o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, produtos, serviços e processos baseados nos temas de “Uso industrial de recursos renováveis (biomassa)” e de “Plantas aromáticas e medicinais”, promovendo a geração de conhecimentos, tecnologia e inovação para ganhos econômicos, sociais e ambientais de ambos os países.
O webinar contou, ainda, com a participação da diretora-geral do Ministério da Alimentação e Agricultura da Alemanha, Eva Müller; do presidente do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL), Ingo Plöger; do chefe de Bioeconomia da GIZ no Brasil, Benno Pokorny; e do CEO da Bayer no Brasil, Marc Reichardt.
Fonte: MAPA