Rei do Agro, com mais de 670.000 ha, cria gigante do setor sementes

Em poucos anos, a SLC Sementes despontou como uma das maiores do país. Num setor ainda muito pulverizado, a impressionante escalada da companhia — que planta em mais de 670 mil hectares e faz R$ 9 bilhões em receita — facilitou o rápido crescimento do negócio.

O setor de sementes é lucrativo? Quando a SLC Agrícola, uma das maiores empresas do agronegócio brasileiro, investiu e ingressou no mercado de sementes, criando a SLC Sementes, há cerca de cinco anos, talvez conseguisse entender a escala que o negócio poderia tomar. Entretanto, mesmo após sua guinada, ainda hoje, há quem acredite que a companhia da família Logemann esteja produzindo apenas as sementes para o próprio consumo. Um belo engano, apenas um terço é consumo próprio..

Com inovação, gestão e uma visão macro sobre a cadeia produtiva agrícola, em poucos anos, a SLC Sementes despontou como uma das maiores do país. Num setor ainda muito pulverizado, a impressionante escalada da companhia — que planta em mais de 670 mil hectares e faz R$ 9 bilhões em receita — facilitou o rápido crescimento do negócio.

Conforme divulgado pelo balanço da empresa, hoje, a SLC Sementes já aproxima-se de um volume de produção de players como a Petrovina (uma das maiores sementeiras de Mato Grosso, com R$ 700 milhões em faturamento) e ainda vê muito espaço para avanço. “Nossa estratégia em sementes é continuar crescendo. É uma questão de tempo para as pessoas conquistarem o mercado e atingirem a nossa capacidade instalada”, disse Aurélio Pavinato, CEO da SLC, em entrevista ao The Agribiz.

A SLC Sementes conta com todo suporte, tecnologia e expertise das áreas de pesquisa da SLC Agrícola, presentes em 13 fazendas. Estas por sua vez, avaliam e selecionam os melhores cultivares conforme o potencial produtivo, o ciclo, as características agronômicas e biotecnologias, necessárias para obter os melhores resultados em cada lavoura, adequada a cada região. “A SLC Sementes nasce com o objetivo de fornecer ao produtor brasileiro acesso às melhores variedades, aliadas a um serviço de compartilhamento de conhecimento, amparado em décadas de experiência no Cerrado brasileiro“, afirma a empresa.

Com o crescimento e expansão da sua atuação, a SLC já possui uma capacidade para produzir 2 milhões de sacas de sementes de soja. A título de comparação, a líder Boa Safra espera fechar o ano com uma capacidade de cerca de 5,5 milhões de sacas.

Nesta safra, a SLC deverá produzir 1,12 milhão de sacas de sementes de soja e 122 mil sacas de sementes de algodão. Cerca de dois terços serão vendidos com a marca SLC Sementes — por meio de revendas ou vendas diretas aos produtores, concorrendo diretamente no mercado com as sementeiras. Apenas um terço é consumo próprio.

Para os analistas que acompanham o negócio, ver a SLC no topo também em sentimentos é, de facto, uma questão de tempo. “É difícil comparar a SLC Sementes com qualquer outro player porque ela já nasce tendo como cliente um produtor que adota o nível mais alto de tecnologia (a própria SLC). Então, provavelmente, ela terá um nível referencial de margem maior do que a média”, afirmou Leonardo Alencar, da XP Investimentos.

SLC Sementes
Foto: Divulgação

Modelo “asset light” da SLC Sementes

O modelo de negócios em sementes da SLC adota uma abordagem “asset light” – uma estratégia de redução de custos em que a empresa mantém a menor quantidade de ativos possíveis, diferentemente do que é comum nas empresas do setor. Ao invés de investir em indústrias de beneficiamento, a SLC terceiriza todo esse processo. Estas indústrias parceiras estão situadas em Mato Grosso, Bahia, Goiás e Minas Gerais.

Enquanto a maioria das empresas foca na atividade de beneficiamento e obtém sementes de produtores integrados, na SLC, as sementes são provenientes de suas próprias fazendas. De acordo com Pavinato, a abordagem de terceirização no beneficiamento permite um menor investimento de capital, o que otimiza o retorno sobre o capital investido (ROIC).

Dessa forma, com o objetivo de seguir em crescimento, a SLC busca ampliar parcerias para desenvolver novas regiões nas fazendas que se identificam como promessas para produção de sementes. Atualmente, a empresa opera em sete estados do Cerrado. Entretanto, Pavinato não exclui a chance de investir em beneficiamento, caso considere vantajoso.

SLC Sementes
Aurélio Pavinato, CEO da SLC: empresa busca parceiros em beneficiamento para crescer | Crédito: Ricardo Jaeger (Divulgação)

Geração de valor

No ano passado, o negócio de sementes adicionou R$ 100 milhões ao Ebitda da SLC, com uma margem Ebitda de 22,5% — abaixo da margem com a operação agrícola, de 38,6%, mas acima da margem Ebitda da Boa Safra, que foi de 13%.

O lucro líquido obtido pela SLC só com a operação de sementes foi de R$ 57,4 milhões. “É uma geração de valor adicional”, disse Pavinato. Nesse projeto gerencial, a companhia calcula quanto agregado de lucro em relação à alternativa de venda do produto como grão.

Outro diferencial do modelo da SLC é o controle de todo o processo, desde a escolha das variedades até a produção, que acontece nas fazendas operadas pela empresa. O grão que vira semente é o mesmo que poderia ser vendido para consumo ou esmagamento, mas ele precisa ser mais vigoroso para germinar. Dessa forma, os melhores são selecionados para virar sementes.

Normalmente, os jogadores tradicionais pagam um prêmio por esses grãos ao comprar os agricultores. No caso da SLC, esse prêmio acaba sendo capturado pela SLC Agrícola.

“Isso não significa apenas que as margens fiquem em casa, como também propicia uma maior visibilidade dos custos de produção em relação a alguns de seus pares”, escreveu Thiago Duarte, analista do BTG Pactual, em um relatório sobre o negócio de sementes da companhia . Além disso, a SLC pode ser “extremamente meticulosa” ao descartar os grãos que não atendem às exigências para a produção de sementes sem nenhum prejuízo financeiro, observou Duarte.

Vantagens para a SLC Sementes

A proposta de custos é um dos fatores que o analista enumeraram como motivos para a SLC alcançar rapidamente uma posição competitiva no mercado de sementes. Os outros são inteligência de mercado — com o conhecimento necessário para selecionar as variedades corretas —, reconhecimento de marca, grande potencial de crescimento (considerando a sua diversificação geográfica) e um maior controle de qualidade do produto final.

“Com o controle da etapa mais importante no processo de produção de sementes (a produção agrícola), pensamos que a SLC tenha todas as ferramentas para garantir que suas sementes sejam referência na indústria”, completou Duarte. Mas há desafios. Para Alencar, da XP, no médio ou longo prazo a SLC pode ter de originar grãos de outros players para ter mais volume. Na safra passada, a SLC teve uma participação no mercado de sementes de soja de aproximadamente 1,6%, segundo estimativas do BTG.

SLC Sementes
Controle da produção agrícola é o principal diferencial da SLC em sementes, segundo o BTG Pactual | Crédito: Marcelo Coelho (Divulgação)

Mesmo quando atinge a marca de 2 milhões de sacas, o market share seria de apenas 3%, o que pode ser visto como uma oportunidade interessante para grandes grupos em um mercado em consolidações. Não à toa, o Pátria montou uma tese para consolidar o mercado de sementeiras. “Há jogadores que estão em processo acelerado de crescimento, como é o caso do Boa Safra, que devem continuar expandindo e ocupando uma participação cada vez maior. E jogadores como o SLC, que devem seguir ganhando participação no mercado também. Isso vai diminuir o número de sementeiras pequenas e deve ir elevando as margens das maiores empresas de maneira consolidada”, argumentou o analista da XP.

Aposta em biológicos

Se nenhum benefício de sementes a SLC vem optando pelo crescimento por meio de parcerias, em uma estratégia asset light para investir a menor quantidade possível de recursos, os investimentos mais fortes estão direcionados aos insumos biológicos e à agricultura digital.

Segundo Pavinato, essas áreas têm recebido os principais transportes da SLC por apresentarem maiores oportunidades de redução de custos e aumento de produtividade, ao mesmo tempo em que são reduzidos para práticas agrícolas mais sustentáveis. Atualmente, a SLC possui 15 biofábricas distribuídas em suas fazendas e pretende construir mais unidades. O ideal é que cada propriedade tenha sua biofábrica, segundo Pavinato, e hoje a SLC opera em 22 fazendas.

Nesse caso, toda a produção é consumida internamente e a SLC ainda compra alguns produtos biológicos que não são produzidos de terceiros. Neste ano, a companhia deverá substituir entre 10% e 12% de inseticidas químicos por biológicos em sua operação agrícola.

Na produção de produtos biológicos na fazenda, a SLC instala uma fábrica e compra de insumos (bactérias ou fungos) para multiplicá-lo. Tipicamente, os fornecedores de insumos biológicos para multiplicação na própria fazenda são Solubio (uma investida da Aqua Capital) e a holandesa Koppert, disse Pavinato.

Com tecnologia, a SLC vem tentando usar uma aplicação mais seletiva e direcionada a defensivos agrícolas, o que já possibilitou uma economia de R$ 82 milhões com a aplicação de produtos químicos na safra passada.

Tendências da safra

A SLC segue guardando a sete chaves os números de sua área plantada na safra 2023/24, o que se tornará público no próximo mês. Durante a divulgação de resultados do segundo trimestre, Pavinato afirmou que a companhia vai priorizar o plantio do algodão em detrimento do milho devido à baixa atratividade dos preços do cereal. Mas o momento de baixa das commodities também pode resultar em maiores oportunidades de locação, já que os preços das terras iniciam um processo de baixa? 

É natural que comecem a surgir mais oportunidades, mas tudo vai depender de como os preços se comportarão na safra 2023/24”, avaliou Pavinato.

As oportunidades, no entanto, talvez só sejam aplicadas no ano que vem, até porque ainda há muitos produtores capitalizados depois de dois anos de margem recorde. “Essa mudança pode começar a ser percebida de forma mais expressiva no ano que vem”.

SLC na bolsa

Mais relevante companhia do agronegócio no Ibovespa, a SLC está avaliada em R$ 8,7 bilhões. No ano, os papéis caíram 5,5% influenciados pela queda no preço dos grãos.

A família Logemann controla o negócio com 53,9% dos papéis. Desde que a gestora britânica Odey vendeu a posição de quase 10% que detinha, o free float passou de 40%. Entre as gestoras, a SPX possui uma das maiores posições, segundo os últimos dados da CVM.

Compre Rural com informações do conteúdo original publicado pelo The AgriBiz

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