Especialista mostra o abate de vacas acima de 36 meses da raça Curraleiro Pé-Duro, com média de peso de 13@, e ressalta o marmoreio único e explosão de sabor
Recentemente o engenheiro agrônomo com mais de 25 anos de experiência e dedicação no mundo da carne de qualidade, Roberto Barcellos, divulgou algumas fotos do marmoreio de um resgate genético que uma fazenda está fazendo da raça Curraleiro Pé-Duro em Goiás. Uma raça rústica e com uma excelente qualidade de carne, segundo Barcellos “uma verdadeira explosão de sabor”. Fomos conversar com o pecuarista que está fazendo esse resgate genético para conhecer um pouco mais sobre essa raça genuinamente brasileira.
Primeiramente para entender o motivo de a raça estar em recuperação genética segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations – ou na tradução – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), é pela quantidade dos animais, já que em todo o Brasil não tem mais do que 10 mil animais com essas características raciais, um número que ainda representa risco de extinção.
E porque esses animais entraram em risco de extinção?
Segundo o criador da raça, Cláudio Veloso Mendonça, partir do momento que chegou os zebuínos da Índia, os pecuaristas na época se impressionaram com o porte do zebu e aos poucos foram deixaram de criar e cruzar os Curraleiros principalmente os Curraleiros Pé-Duro.
“Com os animais vindos da Índia deu na época um cruzamento até interessante, aos olhos do pecuarista da época quem estava contribuindo para essa melhoria genética foi os zebu e o Curraleiro foi deixado de uso na época e nesse processo entrou em fase de erosão populacional e genética, porque naquela época não sabia se calcular os reais atributos zootécnicos, índices de desenvolvimento, a pecuária ainda estava num processo embrionário, não tinha informações sobre lotação, desempenho e tudo de uma forma empírica optou-se pelo zebu principalmente o nelore e as raças criolos de um modo geral, tanto o Curraleiro quanto o Caracu, gado Franqueiro foram deixadas de uso por essa influência e chegada do gado zebu no Brasil, principalmente na década de 30 na primeira metade do século 20”, contou.
Para o criador que começou a criar a raça há 10 anos, a principal característica dela é a adaptabilidade, pois é extremamente adaptável aos ecossistemas dos quais ela está inserida atualmente, que basicamente é o bioma da caatinga e no cerrado.
“São animais que se readaptaram depois que chegaram no período colonial no Brasil, passaram por um processo de seleção natural e se adaptaram às condições desses dois biomas brasileiros, depois se multiplicaram. Consomem forrageiras nativas, são de pequeno porte, menos exigentes. São animais fáceis de criar, baratos, pouco exigentes e tem lotação de pastagem muito boa, eu consigo ter um ganho de lotação de 30% em peso de bezerro ao desmame se comparado aos animais da raça nelore, então na mesma área eu consigo desmamar 30% a mais quilos de bezerro por hectare do que os animais da raça nelore”, disse.
Os principais estados brasileiros atualmente com plantéis expressivos da raça Curraleiro Pé-Duro são os Estados de Goiás e o Piauí, majoritariamente, mas existem plantéis expressivos também no Maranhão, Paraíba, Tocantins e Bahia. E, os estados do Pará e Mato Grosso, estão começando também esse trabalho de desenvolvimento da raça. Podemos dizer que no Centro Oeste e no Nordeste brasileiro, principalmente no estado de Goiás, são os principais locais de desenvolvimento e retomada do processo de seleção da raça Curraleiro Pé-Duro, tanto em melhoramento quanto em quantidade.
“Na minha propriedade nós começamos a criar a raça por volta de 2013/14 e o principal objetivo nosso é fazer uma seleção para qualidade de carne. O Curraleiro por ser taurino tem implícito no padrão genético dele um marmoreio natural. Criado a pasto, ele possui um sabor peculiar, único, nós acreditamos que é uma raça que consegue por dentro das prateleiras de supermercados um produto comprovado de fornecimento de carne de qualidade dentre as melhores do Brasil e do mundo, sem dúvida, então o objetivo é produção de carne de qualidade com animais adaptados, com um patrimônio genético exclusivo do Brasil uma raça genuinamente brasileira. Nós abatemos os animais entre 48 e 60 meses, animais tardios dentro do padrão de abate nacional hoje e abate-se o animal entre 450 e 500 quilos em média”, explicou.
O Curraleiro Pé-Duro é uma raça tão antiga quanto o processo de colonização do Brasil, descendente de raças européias portuguesas (Alentejana, Minhota, Mirandesa).
“Responsável pela manutenção do homem na terra, desenvolvimento do sertão nordestino, charqueadas, produção de couro, abastecimento das minas, foi o gado que antes da chegada do zebu, foi o gado que criou o Brasil. Praticamente essa zona pecuária mais antiga do Nordeste e Centro Oeste foi o gado que manteve a economia ativa durante esse período, são animais que possuem característica zootécnica e qualidade de carne incrível, carne extremamente macia, extremamente marmorizada, saborosa. Quem conhece sabe e foi o fator que manteve essa genética viva até hoje porque muitos fazendeiros criavam seu gado nelore mas não abria mão de ter na fazenda um pequeno plantel de Curraleiro Pé-Duro para consumo próprio, tanto da carne quanto do leite, e foi justamente esses pequenos plantéis que mantiveram a raça ativa. Foram nesses plantéis que nós conseguimos buscar hoje esses animais que fazem parte do nosso rebanho. Animais que com desenvolvimento da carne das carcaças, habilidade materna, enfim todos os quesitos básicos para se desenvolver uma raça com características funcionais e economicamente viáveis”, disse.
Geralmente o abate de vacas é acima de 36 meses, com média de 13@ e rendimento de carcaça de 52%. Cortes do Curraleiro Pé-Duro já estão sendo comercializados em casas de carne e supermercados de Goiás.
Confira as fotos das vacas que foram para o abate e fotos dos cortes e carcaças:
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