Refrescamento de sangue: genética indiana reafirma vigor

Grupo composto por pecuaristas que apostam no refrescamento de sangue estão importando animais da Índia, trabalho começa a dar resultados.

Novas importações de genética indiana para o Brasil destaca os resultados obtidos a campo e em suas avaliações genéticas. Além da efetiva redução na consanguinidade, os animais têm apresentado características de grande valor econômico, como baixo peso ao nascer, uniformidade de carcaça, rusticidade, boa habilidade materna, maior peso à desmama e ótimas médias para área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS) e marmoreio.

O professor José Bento Sterman Ferraz, da USP Pirassununga, e Márcio Ribeiro Silva, da Melhore Consultoria, que acompanham os animais do Grupo Nelore JOP, identificaram no rebanho touros com DEPs de alta acurácia para baixo peso ao nascer – na última safra de bezerros, as fêmeas nasceram com 28kg, em média, e os machos, com 30kg – que atingiram pesos de 200 e 220kg, aos 7 meses, devido a boa habilidade materna apresentada pelas matrizes.

O refrescamento de sangue proporciona essa melhora em características com alto impacto econômico

Matéria na Revista DBO

Por Carolina Rodrigues

Produtos da nova importação de embriões começam a trazer benefícios para o Nelore brasileiro, com destaque para características adaptativas e de carcaça.

Quando uma nova importação de genética zebuína indiana foi anunciada, em 2009, surgiram inúmeros questionamentos quanto à efetiva contribuição dessa iniciativa para o melhoramento do Nelore, matriz produtiva do rebanho brasileiro. Oito anos depois, resultados de campo e avaliações genéticas confirmam que a decisão foi acertada. Além de produzir um “refrescamento de sangue” (redução da consanguinidade) no Nelore nacional, os animais oriundos dessa importação estão apresentando qualidades importantes para a raça, como o baixo peso ao nascer; maior capacidade para ganho de carcaça, quesito altamente valorizado tanto pelos pecuaristas quanto pela indústria frigorífica, e uma maior produção de leite, que se expressa em boa habilidade materna e maior peso à desmama.

Desde 2009, desembarcaram no País cerca de 2.500 embriões vindos da Índia, representando inserção de nove progenitores importados no rebanho: ChhelanoMakinavari Palen, Jamphur, Gunthur, Thajur, Pallamali, Indirano, Yellamaru e Cacumano.

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Touro Cacumano, uma das nove linhagens introduzidas no Brasil / Foto: Nelore JOP

Mais 2.847 embriões, de três outras linhagens, ainda estão em processo de liberação, e deverão chegar ao País nos próximos anos. Para José Bento Sterman Ferraz, professor da USP Pirassununga, SP, somente esse “sangue novo” já justifica a importação. A iniciativa foi capitaneada pelos chamados “novos importadores”: a dupla Jonas Barcelos, da Fazenda Mata Velha,
MG, e Abelardo Luiz Lupion Mello (Nelore Beka, PR), que influíram decisivamente para liberação dos embriões, e o grupo Nelore JOP.

O processo que pôs fim a quatro décadas de reclusão do zebu no Brasil foi complexo e caro. Para revogar a proibição vigente desde 1964 e liberar a importação exclusivamente de embriões (animais continuam vetados), o governo federal exigiu que se cumprisse extenso protocolo sanitário, para evitar introdução de doenças no País. Os importadores também tiveram de montar uma estrutura na Índia para tornar viável a produção dos embriões e enfrentaram forte burocracia. Todo o trabalho foi conduzido com rigor técnico, para que se pudesse realmente contribuir para o melhoramento do Nelore nacional. Depois de nascidos, os animais passaram por inúmeras avaliações visando à seleção dos melhores indivíduos.

Hoje, já estão disponíveis, inclusive, informações sobre os produtos de cruzamento de reprodutores das linhagens importadas com matrizes nacionais, os chamados “F1 indianos x Nelore PO”. O objetivo das aferições é atribuir real valor ao material genético trazido para o País, além de validar os ganhos dessa heterose intraracial.

Heterose de respeito

À frente do projeto da Mata Velha desde o início dos acasalamentos, Fernando Barros, da SAP Assessoria, confirma a superioridade dos produtos oriundos desse “choque” de sangue. “O touro indiano em vaca nacional garante animais mais uniformes, de tamanho moderado e mais revestido de gordura subcutânea. Não se tem o mesmo resultado cruzando touro
nacional com vaca indiana”, adianta Barros. Já nasceram quatro safras de animais no projeto, mas só há duas gerações os dados são trabalhados isoladamente na Fazenda Entre Lagos, em Ribeirão Claro, PR, com o objetivo de direcionar melhor os acasalamentos, identificar e selecionar o melhor de cada linhagem.

O trabalho já foi reconhecido pelo mercado

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Foto: Alta Genetics

Shakti LEI Mata Velha foi contratado pela Alta Genetics em 2015 pela capacidade de transmitir carcaça e precocidade sexual aos seus filhos. Produziu sêmen de qualidade para congelamento aos 13 meses de idade. Hoje, alguns machos já têm o sêmen coletado a fresco aos 11 meses.

“Quem conhece a história do Nelore sabe que todas as vezes que os produtores decidiram trazer material genético agregaram valor à raça. Não somente em 1962, quando se consolidaram as bases do rebanho brasileiro, mas também na década de 1980, com a entrada do chamado sêmen Nova Opção (importação não oficial), de onde saíram touros como Visual, Big Ben e Fajardo”, pontua Barros, que trabalhou por um longo período com Torres Homem Rodrigues da Cunha, um dos importadores pioneiros de 1962. Hoje, cerca de 90% do rebanho são constituídos por animais Nelore descendentes dessa última grande importação.

Dados da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) revelam que, desde 1908, foram trazidos para o País 6.262 zebuínos, mas algumas linhagens como Karvadi, Taj Mahal, Golias, Godhavari, Rastan, Akasamu e Padhu foram muito usadas, gerando endogamia (acasalamento entre aparentados) e, consequentemente, queda de produtividade. Índices de endogamia acima de 5% já afetam características como adaptabilidade e fertilidade. “Agora eu pergunto: que há de mais importante do que isso para a rentabilidade do produtor brasileiro?”, dispara o professor Bento Ferraz.

Confira a matéria na íntegra, aqui.

Sobre o Nelore JOP

O Nelore JOP teve início em 2003, com o objetivo de buscar no berço do Nelore, a Índia, uma genética inovadora, com foco para as características produtivas e reprodutivas desejadas pela pecuária nacional e que proporcionasse o refrescamento de sangue necessário para o rebanho, diminuindo assim a endogamia e possibilitando ao Brasil continuar a evolução genética do rebanho, mantendo a competitividade da bovinocultura, tanto para consumo interno quanto para exportação.

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Foto: Nelore JOP

Integrantes do Nelore JOP

O Grupo Nelore JOP é composto pelos pecuaristas José Carlos Prata Cunha (Fazenda VRJC), Orestes Tibery Neto (“Bibo”) – e Angelo Tibery (Espólio OT), Pedro Augusto Ribeiro Novis (Fazenda Guadalupe), Carlos Mestriner (Agropecuária Onix), Gilson Katayama (Katayama Pecuária) e José Roberto Colli (Nelore Zeus).

Dr. José Bento fala sobre o Nelore JOP

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