Mesmo resultando em maior custo em termos de desembolsos totais em relação a um cenário sem a reformulação da pastagem, o produtor pode ganhar mais.
Novos cálculos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) atestaram que investimentos em reforma de pastagens de fato são capazes de gerar ganhos substanciais de produtividade e receita aos pecuaristas brasileiros – que podem ser aplicados em novas tecnologias. Com financiamento “verde”, por meio do Programa de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), é possível expandir em cerca de 50% a produção, e em mais de 140% a margem líquida.
Os números, segundo a entidade, justificam a adoção das novas técnicas e soluções. Mesmo resultando em maior custo em termos de desembolsos totais em relação a um cenário sem a reformulação da pastagem, o produtor pode ganhar mais, reduzir custos e se fixar na atividade no médio e longo prazos.
Uma simulação feita pela entidade mostra que investimentos em apenas 20% da área da fazenda podem gerar ganhos de 50,7% na produção anual, para 10,1 arrobas por hectare, 3,4 arrobas a mais que no cenário sem reforma. A lotação do pasto pode crescer 62%, para 0,65 Unidade Animal (UA) por hectare, e os custos caem 5%, pelo efeito da diluição de custos fixos com depreciação de máquinas, equipamentos, benfeitorias e outros itens no custo final.
A margem líquida pode subir 141%, conforme a CNA, já que os ganhos de produtividade geram receita para arcar com os desembolsos e remunerar o produtor (pró-labore). E há ainda um montante para cobrir custos com depreciações, algo que não ocorre no modelo antigo.
“A margem líquida da atividade deixa de ser negativa, sinalizando que a atividade produtiva se manterá em médio ou longo prazos”, afirma documento da entidade. “Quando o efeito dos gastos com pastagem é isolado nos dois cenários descritos, pode-se observar o potencial de aumento da receita média por arroba comercializada – neste caso, 2,4 vezes maior no cenário pós-reforma em virtude dos benefícios oriundos da maior capacidade suporte das pastagens”.
A simulação considerou o exemplo de uma propriedade de 500 hectares em Mato Grosso, com baixo investimento na formação de pastagem, apenas com preparo do solo, compra e aplicação de calcário e compra e semeio da forrageira. A CNA simulou a obtenção de um financiamento via Plano ABC para recuperação de pastagens degradadas na propriedade. O recurso foi destinado para reforma de 20% da área – 100 hectares – no valor de R$ 658,8 mil com juros de 7% ao ano, cinco anos de prazo e um de carência. Com custos adicionais, como cartório e tributação, a taxa final ronda os 25%.
O dinheiro também é destinado para a compra de animais de reposição para aproveitar a nova capacidade de suporte implementada com a área reformada. A idade de abate foi mantida em 30 meses.
Na simulação, foi adotado maior nível tecnológico na fazenda. Além das despesas habituais, foi considerada a utilização de fertilizantes para essa etapa. “O incremento nos custos com a manutenção das áreas de pastagem é uma prerrogativa quando o objetivo é elevar a taxa de lotação, que consequentemente resulta em maior nível de produção”.
Segundo a CNA, a adoção de boas práticas na formação da pastagem é importante para o sucesso da exploração pecuária, tendo em vista a ampliação de sua vida útil e de sua capacidade suporte. “A pastagem deve ser vista como um investimento por representar a base da alimentação dos animais dentro do modelo produtivo e, assim, assegurar bons índices zootécnicos ao sistema”, diz.
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Conforme a simulação, com a reforma da pastagem e a compra de animais de reposição, o custo operacional efetivo (COE) do pecuarista aumentou 58,3%. Contudo, quando se analisa o aumento do volume de arrobas comercializadas, a alta é de 3,3% por arroba. Quando analisado o custo operacional total (COT), o custo por arroba cai 4,9% entre os cenários, o que justifica o aporte.
A CNA destaca que o nível baixo de tecnologia limita os ganhos no segmento. Apesar dos desafios para conseguir o financiamento – e seu custo -, a entidade diz que a falta de investimento estrangula a atividade.
Fonte: Valor Econômico.