Essa característica transforma as raças em uma escolha promissora para atender à crescente demanda por alternativas de laticínios mais amigáveis para pessoas com intolerâncias alimentares; conheça as raças que produzem leite não alergênico
No mundo do agronegócio, a inovação está sempre presente, buscando melhorar a qualidade dos produtos e atender às necessidades dos consumidores. Uma dessas inovações é o leite A2, um tipo específico de leite que vem ganhando popularidade por ser mais fácil de digerir e menos propenso a causar desconfortos digestivos. Pouco se fala sobre as raças bovinas que produzem leite não alergênico no Brasil. Neste artigo, vamos explorar o que é o leite A2, sua composição, história e os aspectos da sua produção, além de destacar as raças brasileiras que contribuem para essa produção especial.
O leite A2 é uma realidade no mercado brasileiro, sendo possível encontrá-lo em diversos pontos de venda em todo o Brasil. Para o consumidor, o produto é uma opção de mais fácil digestão, para produtores e indústrias, representa a possibilidade de agregar valor à matéria-prima e se diferenciarem no mercado. O leite de vaca é composto por uma variedade de proteínas, sendo a caseína a mais abundante, representando cerca de 80% do conteúdo proteico do leite. Dentro das caseínas, a β-caseína assume posição de destaque, constituindo aproximadamente 37% desse total. Notavelmente, existem duas variantes principais da β-caseína: a A1 e a A2.
O que é o Leite A2?
O leite A2A2 contém apenas a beta-caseína A2, uma proteína que difere da beta-caseína A1 encontrada no leite convencional. A distinção entre essas proteínas está em um único aminoácido, mas essa pequena diferença pode impactar significativamente a digestão. Muitos estudos sugerem que a beta-caseína A1 pode causar desconfortos digestivos, enquanto a beta-caseína A2 é mais facilmente digerida, tornando o leite A2A2 uma alternativa atrativa para muitas pessoas.
⚠ IMPORTANTE: O leite A2 é isento de uma das frações da caseína, mas suas demais frações, bem como as proteínas do soro (beta-lactoglobulina, alfa-lactoalbumina, albumina sérica bovina, entre outras) se manteriam íntegras, persistindo o potencial alergênico, ou seja, a exclusão de uma das frações proteicas não torna o leite hipoalergênico!
Composição e Benefícios
A beta-caseína é a segunda proteína mais abundante no leite de vaca. No leite A2, a ausência da beta-caseína A1 evita a formação de beta-casomorfina-7 (BCM-7) durante a digestão, um peptídeo que pode estar associado a desconfortos digestivos. Embora ainda sejam necessários mais estudos, muitos consumidores relatam melhor digestão e menor incidência de problemas gastrointestinais ao consumir leite A2A2.
Do ponto de vista nutricional, tanto o leite A1 quanto o leite A2 são praticamente idênticos em termos de proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas e minerais. A distinção crucial entre as β-caseínas A1 e A2 reside na composição dos aminoácidos na posição 67, onde a A1 apresenta histidina e a A2 apresenta prolina (Xiao et al., 2022).
História e Produção do Leite A2
A ideia de separar o leite A2 do leite convencional surgiu na Nova Zelândia na década de 1990, após pesquisas que identificaram as diferenças entre as proteínas A1 e A2. Desde então, a produção de leite A2A2 tem crescido em vários países, incluindo Brasil, onde os produtores estão cada vez mais atentos às demandas dos consumidores por produtos lácteos de melhor digestibilidade.
Raças Brasileiras que Produzem Leite A2
A produção do leite A2 acontece por seleção genética e, para isto acontecer, a fazenda necessita realizar o mapeamento genético das vacas para identificar se são aptas a produzir este tipo de leite. Essas vacas devem ser separadas e inseminadas artificialmente com sêmen de bovinos também de genótipo A2A2.
No Brasil, algumas raças bovinas são conhecidas por produzir leite A2A2, incluindo:
- Gir
- Girolando
- Guzerá
- Sindi
- Jersey
- Guernsey
Essas raças têm ganhado destaque não apenas pela qualidade do leite, mas também pela adaptabilidade ao clima brasileiro e pela eficiência na produção.
Nas raças Holandesas e Pardo-suíças, há uma probabilidade de 50% de produção de leite A2, o que significa que metade dos indivíduos dessas raças possui o gene para a produção de leite A1. A raça Jersey tem uma probabilidade maior, atingindo 75% da produção de leite A2, o que significa que a maioria dos indivíduos dessa raça possui uma genética para a produção de leite A2. A raça Guernsey, embora seja pouco comum no Brasil, é caracterizada por todos os seus indivíduos serem capazes de produzir exclusivamente leite A2.
As raças zebuínas (subespécie Indicus), incluindo o Gir leiteiro, são predominantes na pecuária nacional, com cerca de 98% dos indivíduos dessas raças possuindo genética positiva para a produção de leite A2, pois a grande maioria dos bovinos zebuínos produz leite A2.
Uma outra grande raça que destaca-se na produção de leite A2 é o gado Guzerá Leiteiro e seus cruzamentos. Os criadores de Guzerá Leiteiro têm investido em tecnologias de melhoramento genético e manejo especializado para maximizar a produção deste tipo de leite, que está cada vez mais valorizado no mercado devido às suas características de um produto não alergênico.
Também é destaque relevante o gado Sindi, originário da província de Sinde, no Paquistão, conhecido por ser uma das raças produtoras de leite com composição A2A2. Essa variante tem ganhado notoriedade crescente devido à sua menor propensão a causar alergias. O leite obtido das vacas da raça Sindi consiste exclusivamente de proteínas de β-caseína A2.
Seleção dos Animais das raças que produzem leite não alergênico
A produção de leite A2 começa com a seleção genética dos animais. Para garantir que os animais produzam apenas a beta-caseína A2, os produtores realizam testes genéticos. As vacas que são homozigotas para o gene A2 (A2A2) são selecionadas para reprodução. Este processo é fundamental para construir um rebanho que produza exclusivamente leite A2.
Em 2019, a Integral Certificações lançou o Selo VACAS A2A2 que garante a origem e rastreabilidade do leite A2 através de certificação de terceira parte. Nesse contexto, e com objetivo de dar mais transparência e robustez ao processo de certificação, foi assinado um acordo de cooperação entre a Integral Certificações e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A certificação pode ser solicitada por produtores rurais e indústrias e envolve o cumprimento das regras estabelecidas no protocolo VACAS A2A2.
Aspectos da Produção
Produzir leite A2 requer um cuidado especial para manter a pureza do produto. Isso inclui a separação rigorosa dos rebanhos, a prevenção de contaminação cruzada com leite convencional e um monitoramento contínuo da genética dos animais. Além disso, práticas de manejo sustentável e de bem-estar animal são frequentemente adotadas pelos produtores de leite A2, agregando valor ao produto final.
As fazendas que já fizeram esse trabalho de genotipagem dos animais podem ser certificadas e produzir leite de vacas A2A2 no Brasil. A Agrindus é a marca com maior produção de leite A2 no País, mas não é a única. Outras marcas como Xandô, da Fazenda Colorado, e Piracanjuba também estão neste mercado, aumentando, dessa forma, a concorrência.
Em 2020, o mercado global do leite A2 e seus derivados foi avaliado em US$ 8 bilhões, segundo a empresa canadense Precedence Research. Para 2030, a projeção “consistente” é de US$ 25 bilhões.
O leite A2 representa uma significativa inovação no setor lácteo, oferecendo uma alternativa mais digestível para muitos consumidores. No Brasil, raças que produzem leite não alergênico estão na vanguarda dessa produção, contribuindo para um mercado que valoriza a qualidade e a saúde dos consumidores. Se você ainda não conhece os benefícios do leite A2, talvez seja hora de explorar essa opção e descobrir como ele pode fazer a diferença na sua dieta.
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