Mutação no DNA da raça Senepol faz com que os animais sejam termotolerantes e se adaptem melhor ao clima tropical do Brasil.
Por Alisson Freitas
Após pouco mais de uma década e meia no Brasil, o Senepol tem ganhado espaço ao oferecer uma nova alternativa ao cruzamento industrial. A taurina composta surgiu há mais de 100 anos em Saint Croix, Ilhas Virgens, e é fruto do cruzamento de várias raças bovinas. Inicialmente, acreditava-se que o Senepol nasceu apenas do cruzamento entre a africana N’Dama e a britânica Red Poll. No entanto, ao longo dos anos foi descoberta a presença do DNA de diversas outras raças na composição genética dos animais Senepol, inclusive de gado zebuíno.
Com o avanço do uso da genômica, pesquisadores americanos identificaram o segredo para a rápida adaptação da raça ao clima tropical: o gene slick. A presença do gene causa uma mutação no cromossomo receptor de prolactina e faz com que os animais sejam termotolerantes ao calor, permitindo manter a produtividade mesmo expostos à temperaturas excessivas. Esses indivíduos são visualmente identificados por terem pelagem curta ou pelo zero.
De acordo com o pesquisador Tad Sonstegard, diretor científico (Chief Scientific Officer) da empresa norte-americana Acceligen, a seleção de mais de 100 anos no Caribe e países da América do Norte fez com que o Senepol absorvesse o slick de uma das raças utilizadas em sua formação. No entanto, ele destacou que ainda não é possível saber de qual raça essa característica foi herdada.
Gene slick do Senepol
O slick é uma característica de alta herdabilidade e pode ser transmitida por machos ou fêmeas da raça. Para garantir que a progênie nasça com o gene, é necessário o uso de animais homozigotos para essa característica, já que eles carregam duas cópias do alelo em seu DNA. Os exemplares heterozigotos, que possuem apenas uma cópia do gene, também podem transferir o slick a sua progênie, no entanto, não é garantido que os animais nasçam com a característica, uma vez que podem herdar os alelos não slick de seus pais.
De olho no crescente interesse por animais homozigotos, a Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol) firmou parceria com a Embrapa Gado de Corte e a Agroparthners Consulting. O grupo já genotipou cerca de 3.500 animais da raça, desde touros de central até animais que participaram de provas de desempenho. O objetivo é que no próximo sumário já estejam presentes informações de quais reprodutores são homozigotos e heterozigos para o gene slick e também para dupla musculatura. A publicação será lançada no II Mega Encontro, realizada entre 30 de agosto e 9 de setembro, em Uberlândia, MG.
Embora sejam de extrema importância, o pesquisador Gilberto Menezes, da Embrapa Gado de Corte, destaca que os produtores devem ter atenção no uso das informações. “Esses dados devem complementar um trabalho de seleção e não devem ser um único aspecto de valor na hora de planejar um acasalamento. Um touro bom continua sendo bom independente de ser heterozigoto ou homozigoto”, destacou.
Em pesquisa realizada com cerca de 300 fêmeas participantes da edição 2017.1 do Programa Safiras, em Pirajuí, SP, foi identificado que cerca de 80% dos animais eram homozigotos para o slick e os 20% eram heterozigotos. “Embora a amostragem seja pequena perto do rebanho brasileiro da raça, estimado em quase 90.000 cabeças, os resultados apontam que, possivelmente, a maior parte dos animais multiplicadores de genética do Brasil conseguem passar a característica aos seus filhos”, afirmou José Fernando Garcia, da Agroparthners Consulting.
Novos horizontes da raça Senepol
Mesmo sendo uma particularidade do Senepol, o slick pode ajudar outras raças bovinas a também serem mais tolerantes ao calor. Isso aconteceria por meio da técnica de edição gênica, que permite a retirada ou adição de determinada característica de um animal ou raça a qualquer outro indivíduo do mesmo tipo. Para isso, é necessário extrair a fração de DNA correspondente à informação desejada e adicioná-la ao material genético de outro animal durante o período embrionário.
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No Brasil, estão sendo realizadas pesquisas que visam a adição do slick em animais Angus, visando tornar a raça termotolerante a altas temperaturas, como as do Brasil Central. Embora os estudos ainda estejam em fase de testes, há expectativas que resultados preliminares sejam apresentados até o próximo ano.
Fonte: Portal DBO