Perda de produções, rebanho, infraestrutura e, sobretudo, de ribeirinhos; Veja os danos tragos pela tragédia
As enchentes e chuvas intensas provocadas pelo ciclone extratropical, que ocorreu no início de setembro no Sul do Brasil, geraram grandes transtornos e prejuízos. Até o momento, 47 mortes foram confirmadas no Rio Grande do Sul e um óbito em Santa Catarina. O fenômeno causou danos pelos altos volumes precipitados, ocorrência de granizo localizados e transbordamento de leitos de rios e arroios, ocasionando estragos em 102 cidades gaúchas, de acordo com o último boletim da Defesa Civil, divulgado na manhã desta sexta-feira (15).
O ciclone extratropical teve origem em um sistema de baixa pressão e provocou chuva de granizo, rajadas de vento acima dos 100 km/h e tempestades, que causaram enxurradas e inundações em vários pontos do estado gaúcho.
De acordo com o mais recente balanço divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul, existem ainda nove pessoas desaparecidas, 3.130 pessoas foram resgatadas, 4.898 estão desabrigados, que são pessoas que necessitam de abrigo público, e 20.973 desalojados, que se encontram em outras residências. O total de afetados chega a 354.701 mil pessoas. Além disso, há 943 feridos.
As cidades mais atingidas foram das regiões Norte, Serra e Vale do Taquari.
Pequenos produtores foram os mais afetados
Conforme balanço parcial da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar), na zona rural os pequenos agricultores foram os mais prejudicados. Houve perdas de produção, rebanho e infraestrutura, sobretudo, de ribeirinhos que se dedicam à produção de hortigranjeiros, avicultura, suinocultura e pecuária leiteira. Os danos também afetam unidades agroindustriais.
A Emater/RS-Ascar indica que 665 localidades e 10.787 propriedades foram afetadas. Em relação à infraestrutura, o evento climático afetou 4.456,8 quilômetros de estradas vicinais e causou problemas de escoamento da produção em 197 comunidades até o momento.
Houve danos em 1.192 casas, 621 galpões, 12 armazéns, 116 silos, 25 estufas de fumo, 25 estufas/túneis plásticos para horticultura, 128 açudes (piscicultura/irrigação), 53 aviários e 45 pocilgas.
Na pecuária morreram 29.356 animais, entre bovinos de corte e de leite, suínos e aves. Foram perdidas 370 caixas de abelhas e 35,5 toneladas de peixes, totalizando 346 produtores prejudicados. A produção não coletada de leite chega a 500 mil litros, lesando cerca de 813 produtores. Além do comprometimento de silos que foram alagados. “Mais de 800 produtores de leite de várias cidades gaúchas, principalmente das regiões da Serra e do Vale do Taquari, foram atingidos diretamente com danos na estrutura das suas instalações, assim como com a morte de animais”, ressalta o presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang.
Na produção primária, as chuvas torrenciais resultaram em sérias perdas na produção de frutas, olericultura, fumo e grãos, principalmente nas lavouras de milho e trigo, que tiveram grandes áreas atingidas e alto volume de produção perdidas. Ao todo, 1.616 produtores tiveram perdas na produção de grãos, 88 na fruticultura, 2.691 no fumo e 198 na olericultura.
As perdas na produção de forragens impactam diretamente na atividade pecuária, afetando a produção de carne e de leite, e representam um desafio adicional para os produtores, que buscam alternativas para suprir as necessidades alimentares de seus rebanhos. Foram atingidos 1.880 hectares de pastagem nativa, 10.730 hectares de pastagem cultivada e 50 hectares de silagem, com um total de 1.022 produtores prejudicados. Houve perda de 35,5 mil pés de eucalipto.
“Essas são informações gerais de todo o setor agropecuário. Mas a Emater/RS-Ascar está trabalhando no levantamento de perdas, produzindo laudos que geram informações técnicas eficientes e coordenando outras estratégias junto às famílias atingidas. Temos conhecimento dos estragos feitos, mas acredito, que logo teremos informações concretas dos danos causados por esse desastre natural”, menciona o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Luis Folador.
Desde a passagem do ciclone extratropical no Rio Grande do Sul, existe uma mobilização pela situação de calamidade, com o intuito de socorrer as vítimas afetadas pelo desastre natural.
Danos à suinocultura
De acordo com a Acsurs, as chuvas afetaram duas granjas comerciais de suínos. Uma dessas granjas estava destinada para creche e os leitões haviam sido transferidos para a próxima fase de recria e engorda a cerca de três ou quatro dias antes da enchente, e a outra era responsável pela terminação dos suínos. “Na granja em que os animais estavam prontos para serem enviados ao frigorífico ocorreu a perda de quase todos os suínos”, lamenta Folador. “Foram somente duas granjas de suínos afetadas, estimo que os danos com a criação perdida e a infraestrutura das duas granjas atingidas devem ser próximos a R$ 4 milhões”, aponta.
O presidente da Acsurs ressalta que esses prejuízos foram localizados e não tiveram um impacto significativo no setor da suinocultura do Rio Grande do Sul.
SOS Rio Grande do Sul
A Acsurs concentra seus esforços em apoiar e promover as iniciativas que o governo do Rio Grande do Sul está implementando para auxiliar os produtores afetados pela enchente.
Uma dessas ações é a divulgação da conta SOS Rio Grande do Sul, criada no Banrisul para receber doações em dinheiro daqueles que quiserem ajudar as vítimas das enchentes. Foi estabelecida uma chave PIX (CNPJ: 92.958.800/0001-38) que já está disponível para que empresas e pessoas físicas possam repassar qualquer valor, de forma segura, para um canal oficial. “Neste momento, estamos focando nossos recursos e energia em disseminar informações sobre essa conta, a fim de incentivar contribuições tanto de dentro do Rio Grande do Sul como de todo o Brasil. Dessa forma, a Acsurs contribui indiretamente para o apoio aos produtores rurais e a todas as pessoas afetadas pela enchente”, expõe Folador.
Além disso, o presidente da Acsurs frisa que o governo gaúcho está disponibilizando recursos próprios para a recuperação e reconstrução das áreas afetadas, enquanto o governo federal também anunciou medidas para auxiliar na recuperação das regiões danificadas pela enchente. Nesse contexto, a Acsurs atua como um canal de divulgação e mobilização para que a solidariedade e o apoio cheguem de maneira mais efetiva aos afetados.
Atividades suspensas temporariamente
A Cooperativa dos Suinocultores de Encantado (Cosuel) teve suas instalações inundadas pelas águas da enchente, tendo que suspender temporariamente suas operações de abate enquanto realiza os reparos e restaura o que foi danificado pelo desastre. “Durante este período os animais dos produtores cooperados integrados à Cosuel serão redirecionados para outras agroindústrias a fim de manter o fluxo de produção. Essa mudança, sem dúvida, deverá resultar em prejuízos para a cooperativa. O montante exato dessas perdas é difícil de estimar no momento”, ressalta Folador.
Prejuízos podem chegar a R$ 100 milhões na suinocultura gaúcha
Conforme Folador, o Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (Sips) estima que a cadeia suinícola gaúcha deve ter um prejuízo que varia entre R$ 70 a R$ 100 milhões, tanto de forma direta quanto indireta, devido às dificuldades no transporte de ração e na logística para retirada dos animais nas unidades produtoras afetadas pelo ciclone. “Esses prejuízos afetam não apenas a Cosuel, que foi a mais impactada, mas também outras agroindústrias de suínos na região”, pontua.
Perdas na indústria de aves são estimadas em R$ 220 milhões
A Organização Avícola do Rio Grande do Sul (Asgav/Sipargs) estima que os impactos ocasionados pelas enchentes e chuvas intensas decorrentes do ciclone extratropical podem chegar a R$ 220 milhões em prejuízos para as indústrias de aves e derivados na região do Vale do Taquari.
Com participação de 21% na produção total do Rio Grande do Sul, a região foi a mais atingida pelas chuvas. Segundo informações da Asgav, seis indústrias localizadas no Vale do Taquari foram danificadas pela passagem do ciclone extratropical. “A tragédia que atingiu a região não impactou totalmente esta participação, mas gerou danos consideráveis a seis indústrias locais”, afirmou em nota sobre o levantamento parcial dos prejuízos do setor.
Os danos estão relacionados a estruturas de indústrias, aviários, mortalidade de animais, genética, logística, danos elétricos, avarias em máquinas e equipamentos, além de impactos no mercado.
Segundo a associação, tanto as indústrias quanto os produtores afetados estão apurando os reais prejuízos que devem ter em decorrência do ciclone. No entanto, ainda são necessárias avaliações técnicas para obter uma visão mais precisa dos danos. “É um momento crítico para a região, para as indústrias e produtores impactados. O amparo governamental e de outras instituições será extremamente necessário e vital para a retomada”, avalia o presidente executivo da Asgav/Sipargs, José Eduardo dos Santos.
Medidas em apoio aos produtores rurais
Lideranças sindicais, representantes de associações, prefeitos e secretários municipais de 23 cidades, além de deputados, participaram de uma reunião com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (AL-RS), a qual teve como foco principal discutir medidas de apoio aos agricultores afetados pelas chuvas nas regiões da Serra, Vale do Taquari e Vale do Rio Pardo.
Durante a reunião, foram formuladas 12 medidas em apoio aos produtores das áreas atingidas, que agora estão sendo apresentadas aos governos estadual e federal para que possam ser atendidas.
Dentre as reinvindicações ao Governo Federal estão a suspensão imediata da cobrança de todas as operações de crédito rural (custeios, investimentos, credito fundiário), vincendas nos próximos 180 dias, contratados por agricultores e pecuaristas atingidos pela intempérie climática (enchente, ciclone); anistia das operações de custeio e investimento, não amparadas por seguro (Proagro ou seguro agrícola); renegociação das dívidas de custeio e investimento contratadas pelos agricultores e pecuarista, atingidos pelo fenômeno climático; linha de crédito emergencial, para recuperação das unidades produtivas (recuperação de solo, compra de maquinários e equipamentos, reconstrução de Galpões, Pocilgas, Aviários, Estufas etc); com prazo de 10 anos para pagamento, 3 anos de carência, sem juros e com bônus de adimplência %; habitação – inclusão das famílias do meio rural que perderam suas casas, nas políticas de habitação destinadas a reconstrução das unidades habitacionais dos municípios atingidos; que os critérios para escolha dos municípios nos programas do Minha Casa Minha Vida, seja a situação de calamidade pública; linha de crédito não reembolsável, para compra de mobiliário e utensílios domésticos perdidos com a enchente, tendo por base o valor do saque emergencial do FGTS; (R$ 6.200,00); e recursos para recuperação de estradas vicinais, pontes e pontilhões, para permitir o escoamento da produção e o deslocamento entre as propriedades rurais.
E ao Governo do Rio Grande do Sul serão solicitados recursos para recuperação de estradas vicinais, pontes e pontilhões, para permitir o escoamento da produção e o deslocamento entre as propriedades rurais; suspensão imediata da cobrança de todas as operações de crédito rural (custeios, investimentos, FEAPER), vincendas nos próximos 180 dias, contratados por agricultores e pecuaristas atingidos pela intempérie climática (enchente, ciclone); habitação – Inclusão das famílias do meio rural que perderam suas casas, nas políticas de habitação destinadas a reconstrução das unidades habitacionais dos municípios atingidos; anistia das operações de custeio, investimento e FEAPER, não amparadas por seguro (Proagro ou seguro agrícola); e linha de crédito não reembolsável, para compra de mobiliário e utensílios domésticos perdidos com a enchente, incluindo os agricultores no anúncio feito pelo estado de R$ 2,5 mil para as pessoas da CAD Único.
R$ 741 milhões de recursos federais
Governo federal destinou R$ 741 milhões em recursos para as regiões afetadas pelas chuvas provocadas pelo ciclone extratropical no Rio Grande do Sul. O Ministério das Cidades é o que vai destinar mais recursos às áreas afetadas, custeando a construção de moradias na região com R$ 195 milhões. Em seguida vem o da Integração, que vai disponibilizar R$ 185 milhões para ajudar na reconstrução dos municípios atingidos pelas chuvas.
Entre outras ações, o governo também vai ajudar a reconstruir as Unidades Básicas de Saúde (UBS), a refazer uma ponte da BR-116 sobre o Rio das Antas e a liberar um auxílio de R$ 800 por pessoa, em duas parcelas de R$ 400, para os municípios afetados.
RS em alerta
O Rio Grande do Sul segue em alerta para altos volumes de chuva e temporais nos próximos dias, sobretudo na Metade Sul. O boletim da Sala de Situação do governo estadual, coordenada pela Defesa Civil e pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), aponta até esta sexta-feira (15) para risco de tempo severo em grande parte das regiões. Os volumes de chuva podem variar entre 100 milímetros e 200 milímetros nas regiões Sul, Campanha, Oeste, Centro, Sudeste, Leste e Noroeste e ultrapassar 250 milímetros em alguns pontos. Além disso, o risco é alto para queda de granizo.
Fonte: O Presente Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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