Especialistas explicam sobre a virada do ciclo pecuário, que pressiona para a maior oferta de animais; Confira
O clima de desânimo entre os produtores da pecuária de corte no Noroeste paulista reflete o que os especialistas denominam de ciclo pecuário, já esperado para o ano de 2023 em todo o país. Porém, a pressão de baixa de preços para a arroba do boi gordo, de animais de reposição e de bezerros, no mês de agosto, superou e pressionou ainda mais o mercado brasileiro de carne bovina, resultando na insegurança dos pecuaristas ao negociar animais.
De acordo com pesquisadores do Centro de Estudos Avancados em Economia Aplicada
(Cepea), a pressão sobre os valores do animal vem tanto da oferta quanto da demanda. O mês de agosto, segundo os dados do Cepea, marcou a forte queda nos preços de negociação do boi gordo. No estado de São Paulo, a arroba registra média de R$ 222,32 no mês (até o dia 29), com baixas de 11,4% na comparação ao mês anterior e de significativos 24% em relação à de agosto do ano passado.
Para os pecuaristas, o clima no campo está mais favorável, com chuvas que trouxeram pasto para a alimentação dos bovinos, o que segura um pouco o fluxo de caixa, com o alto custo de producão para manter os animais confinados. Isso porque o gasto com alimentos para o confinamento é muito alto, e como a época é de seca, seria um problema a mais para o pecuarista, manter esse rebanho a pasto.
“Se o mercado para a negociação dos animais está desanimador, o pecuarista tem que melhorar a eficiência com o gado. Se ele não quer vender agora os animais, pois os preços estão mais baixos, a solução é manter o semiconfinamento. Choveu bem neste ano, tem pasto como alimento e com isso, o pecuarista garante menos despesa com a alimentação”, orienta o consultor e zootecnista Maurício Lerro.
Mais fêmeas
Segundo Maurício, nos últimos dois anos houve a maior retenção de fêmeas da história do
país, o que significa a maior oferta de bezerros, com preços que estavam muito atrativos para os pecuaristas. “Mas os preços dos bezerros também despencaram e o pecuarista começou a enviar as fêmeas para o abate. Com mais oferta de animais para o abate, o frigorífico tem uma escala maior, e os preços ficam menos interessantes para o produtor” explica Maurício.
Ele diz que esse é o ciclo pecuário, por isso a recomendação para o produtor é manter a eficiência no campo e continuar a investir para quando essa virada do ciclo da pecuária voltar a ser mais atrativa para o mercado de carne bovina. “Em termos de perspectiva a gente não sabe ainda, mas é possível para os próximos meses, um preço interessante. Porém, o pecuarista não deve ficar pensando em um preço da arroba que atinja R$ 300, como ocorreu anteriormente”.
Maior oferta de carne bovina
Na avaliação do analista de mercado da Scot Consultoria, o zootecnista Felipe Fabbri associa o mercado pecuário de 2023 em queda, muito relacionado ao ciclo pecuário de preços, já que ocorreu a maior oferta de fêmeas para o abate. “O abate de novilhas com menos de 36 meses, por exemplo, chegou a mais de um milhão de cabeças no primeiro trimestre deste ano, sendo o maior volume de fêmeas abatidas nesta categoria na nossa história”, explica Felibe.
Ele comenta que a pressão foi de baixa de preços, com a cotação da arroba do boi a R$ 200 no estado de São Paulo, representando o pior cenário de preços desde julho de 2017. “Esses fatores acabaram refletindo diretamente na oferta de carne, que aumentou, juntamente com um menor volume de exportação neste ano. É o que tem sido reportado pela indústria, que há uma maior oferta de carne, com um número maior de animais abatidos, para enfrentar essa forte pressão que ocorre no mês de agosto”, conclui Felipe.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), as exportações totais de carne bovina em agosto apresentaram uma redução de 29% na receita e praticamente empataram no volume movimentado. Em agosto de 2022, a receita foi de
US$ 1,3 bilhão, com a comercialização de 230,1 mil toneladas de carne bovina. Em agosto de 2023, a receita foi de US$ 962,2 milhões e o volume de 229,7 mil toneladas.
Os dados também apontam a queda nas exportações de carne bovina para a China, o principal país importador do produto brasileiro. Segundo a Abrafrigo, na comparação entre os meses de agosto de 2023 e 2022, os preços médios das vendas para a China passaram de US$ 6,4 mil por tonelada para US$ 4,4 mil por tonelada, resultando em uma queda de 31,6%. (CC)
Insegurança entre produtores
Em menos de um ano, os pecuaristas sentiram os preços da arroba do boi gordo despencarem de R$ 300 para valores que oscilaram entre R$ 170 e R$ 200. Esse cenário forcou os pecuaristas a preferirem manter mais animais em vez de negociá-los a preços que, segundo eles, não cobrem os custos de criação, recria ou engorda. Além disso, consideram que a carne bovina brasileira é de melhor qualidade e tem um preço mais baixo para exportação.
“A nossa carne bovina é a mais barata do mundo. Algo está errado com o Brasil, e nós, pecuaristas, ficamos à mercê de grandes monopólios para a comercialização dessa carne.
Neste momento, temos menos frigoríficos credenciados para a exportação, então os precos pagos pela arroba do boi estão caindo cada vez mais”, afirma o produtor Osmair Guareschi, de Rio Preto.
O produtor atua nas três fases da pecuária de corte, desde a criação até a recria e a engorda do rebanho. “Não vejo perspectivas no mercado da pecuária de corte neste ano e nos próximos. Também vejo um problema sério com tantas fêmeas indo para o abate e como será o mercado sem a reposição dos animais”, diz o pecuarista.
Augusto Cavalin, um pecuarista de Fernandópolis, explica que está mantendo os animais no semiconfinamento e não vê muitas expectativas para negociá-los a preços tão baixos. “Agora, a opção é esperar um pouco mais antes de entrar em qualquer negociação”, comenta. Para ele, até o final do ano, o mercado de bovinos pode se recuperar um pouco, mas ainda existe muita incerteza no mercado da pecuária de corte. (CC)
Fonte: Diário da Região
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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