Ondas de frio reduzem estimativa de produção de milho segunda safra para 60,9 milhões de toneladas; equipes do Rally da Safra avaliaram os danos causados nas lavouras
Não é exagero dizer que nunca se viu uma segunda safra de milho como a atual. Começou com o plantio mais tardio da história e continuou com as lavouras se desenvolvendo sob clima irregular em abril e maio. Para fechar, três ondas sucessivas de frio -– a primeira em 29 de junho, a segunda em 20 de julho e a última nos dias 29 e 30 – resultaram em geadas severas no Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Essas características muito peculiares levaram duas equipes extras do Rally da Safra a percorrer, na segunda quinzena de julho, as principais regiões produtoras para atualizar os números de safra divulgados ao final do roteiro regular, em 24 de junho.
No campo, os técnicos avaliaram as condições do milho mais tardio e os danos causados pela geada. Resultado: um novo corte de 4,4 milhões de toneladas, reduzindo a estimativa de produção feita pela Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, de 65,3 milhões para 60,9 milhões de toneladas— uma quebra de 20,6% sobre a safra anterior, quando foram produzidas 76,7 milhões de toneladas. “Normalmente, julho é um mês de poucos acontecimentos para a segunda safra, quando a colheita se aproxima do fim e a produtividade das lavouras está praticamente definida. Esta temporada, porém, está sendo completamente diferente”, diz André Debastiani, coordenador da expedição.
A primeira equipe extra percorreu o Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais de 20 a 25 de julho. As avaliações de campo indicaram que as estimativas de produtividade estavam adequadas, a não ser pela necessidade de um ajuste para 46,4 sacos por hectare (52% abaixo da safra anterior) nas lavouras de Minas Gerais, mais prejudicadas pela seca do que se esperava. Mato Grosso manteve a produtividade de 94,5 sacas por hectare (14% inferior à safra passada) e Goiás permaneceu com 67,8 sacas por hectares (queda de 35%).
O segundo grupo rodou pelo Mato Grosso do Sul e o Paraná de 26 de julho a 1º de agosto, com foco principalmente em averiguar os problemas causados pela geada, também resultando em revisões negativas. Em relação ao fim de junho, as estimativas de produtividade foram revistas para 43,7 sacas por hectare no Paraná (48% menos do que em 19/20) e 42,7 sacas por hectare no Mato Grosso do Sul (queda de 49%).
A projeção para a produção de milho segunda safra, divulgada em janeiro, no início do Rally, era de 83,9 milhões de toneladas. Os bons preços no mercado doméstico estimularam tanto o crescimento de área de 9,3% sobre a safra 19/20, chegando a 14,7 milhões de hectares, quanto a disposição dos produtores em aumentar os investimentos em tecnologia nas lavouras. A estiagem de abril e maio e a sucessão de geadas causou perdas de mais de 23 milhões de toneladas. “O grande problema dessa safra não foi a geada, que costuma ocorrer nessa época, mas sim o atraso no plantio que fez com que as lavouras estivessem em estado crítico de desenvolvimento quando as ondas de frio ocorreram”, afirma Debastiani.
Os integrantes das equipes extras do Rally ouviram diversas vezes no campo que a segunda safra parece não ter fim. No momento, as baixas temperaturas atrasam a perda de umidade das lavouras e postergam ainda mais a colheita, principalmente no Paraná e no Mato Grosso do Sul.
Atividades durante a pandemia
As 26 equipes do Rally da Safra percorreram 62 mil quilômetros em mais de 500 municípios de 9 estados brasileiros e coletaram 1.679 amostras nas etapas de soja e milho, com informações sobre população de plantas, número de grãos por planta, número de espigas, estádio de desenvolvimento, peso de grãos, umidade e incidência de pragas e doenças, entre outras. Já as duas equipes extras totalizaram 4.793 quilômetros percorridos entre os dias 20 e 31 de julho último, com 137 amostras coletadas.
Devido à pandemia, não houve visitas aos produtores nas propriedades, mas as atividades online permitiram obter informações sobre os desafios desta safra, do plantio até a colheita, e a conjuntura atual por meio de mais de 100 reuniões virtuais com agricultores.