Apesar da contratação acelerada, de mais de R$ 190 bilhões nos primeiros dez meses do atual Plano Safra, o excesso de burocracia continua a ser um entrave.
Uma pesquisa feita pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com mais de 4 mil produtores de todo o país apontou que ainda há muitas dificuldades de acesso ao crédito rural por parte de parcela considerável do setor, principalmente da agricultura familiar. Apesar da contratação acelerada, de mais de R$ 190 bilhões nos primeiros dez meses do atual Plano Safra (2020/21), o excesso de burocracia continua a ser um entrave.
Entre os 4.336 entrevistados, 38% responderam que nunca acessaram nenhum tipo de crédito rural. No ano passado, 8,4% precisaram de financiamentos e tentaram obter os recursos junto aos bancos ou cooperativas, mas não conseguiram. As principais dificuldades destacadas foram o excesso de “papelada” e burocracia, as garantias exigidas nas operações, a demora na liberação do crédito e a falta de informação.
A minoria dos entrevistados (15%) costuma contratar crédito rural e já tomou cinco ou mais financiamentos ao longo da vida. Para 18,2%, o dinheiro chegou só uma vez. Outros 28,5% conseguiram empréstimos entre duas e quatro vezes.
Divulgação e orientação
Os produtores entrevistados exercem 18 atividades agropecuárias diferentes em 727 municípios de 13 Estados e no Distrito Federal, todos atendidos pelo programa de assistência técnica e gerencial do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Cerca de 70% são pequenos, com faturamento anual de até R$ 100 mil. Eles apontaram que é necessário simplificar e agilizar o processo de contratação dos financiamentos e reduzir juros. Também pedem mais divulgação e orientação.
A maior parte dos produtores que já acessaram crédito rural não contratou ou não conhece o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) nem a política de subvenção ao prêmio do seguro rural. Entre os que não recorreram à subvenção, a principal causa apontada foi não saber como fazer (42,5%), seguida de desinteresse (25,5%), custo alto (12,7%) e falta de recursos (11%).
Apenas 26,6% do universo pesquisado (1.150 produtores) contratou crédito rural em 2020. A principal fonte de financiamento dos entrevistados foram as instituições financeiras: 83,8% tomaram recursos com bancos e 34,3% com cooperativas de crédito.
De olho nas dívidas
Entre aqueles que “já acessaram crédito alguma vez” e “precisaram e não acessaram em 2020”, 26,1% declararam que a motivação foram dívidas anteriores, 21,6% declararam problemas com a documentação da propriedade e 12,6% realçaram o limite individual de crédito. O Pronaf Custeio foi a principal linha de crédito contratada pelos produtores no ano passado, atendendo mais da metade dos produtores que acessaram algum tipo de crédito rural.
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Quase metade dos produtores que responderam à pesquisa declarou que pretende acessar crédito rural em 2021, principalmente para investimentos na propriedade e aquisição de insumos. Mas 30% dos agricultores e pecuaristas ouvidos pela CNA não devem buscar financiamentos. A intenção de acesso ao crédito é maior para faixas de renda bruta anual mais elevadas.
A pesquisa será apresentada pela CNA à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, nesta quarta-feira. A entidade também vai entregar os pedidos do setor para a formulação do Plano Safra 2021/22.
Fonte: Valor Econômico.