Baixo valor pago pelo litro do leite é um dos motivos. Houve uma queda de 22% no número de produtores no estado.
Em um ano, quase 25 mil produtores de leite abandonaram a atividade no Rio Grande do Sul, segundo a Emater. O principal motivo é o valor pago pelo litro nos últimos anos, que tem sido insuficiente para que os produtores se mantenham e até paguem pelos custos da produção.
De acordo com o técnico da Emater de Lajeado, Martin Schmachtengerg, houve uma queda de 22% no número de produtores no estado. A diminuição na produção leiteira, atividade do agronegócio que mais emprega pessoas no Brasil, produz reflexos negativos também na economia gaúcha.
“Nenhuma outra atividade agrícola emprega tantas pessoas, utiliza tanta mão de obra quanto essa atividade. Então é uma importância social muito grande, além da importância econômica”, avalia o técnico.
Além disso, conforme a professora e pesquisadora da Univates, que estuda o desenvolvimento regional no Vale do Taquari, Cíntia Agostini, o setor leiteiro também está afetado pelas crises de corrupção, fraude do leite e a crise financeira.
“No meio disso várias empresas de médio porte deixaram de existir, decretaram falência e nós temos produtores hoje que ainda não receberam o recurso de pelo menos quatro ou cinco empresas. E agora, especificamente, uma crise banstante forte, vinculada à produção do leite em pó que está competindo com o leite dos nossos produtores”, comenta ela.
Exemplo desta situação é a produtora rural Roseli Sulzbach, de Estrela, no Vale do Taquari. Após seis anos trabalhando com a produção de leite, ela e o marido abandonaram a atividade por conta da parte financeira. A ocupação que já foi a principal fonte de renda da família e chegou a render R$ 7 mil mensais com a ordenha de 30 animais, se transformou em apenas uma vaca que fornece leite para o consumo familiar.
O casal permanece no campo, mas agora trabalha com gado de corte e criação de suínos. “Produzindo leite a gente precisa trabalhar muito. Dá muito serviço em função das vacas, tem que tratar, levar na pastagem, fazer cilo e o custo é muito alto”, conta a produtora rural.
Outro fator que causa preocupação para quem trabalha com bovinocultura no Rio Grande do sul é a falta de mão de obra. Ainda segundo a Emater, dos quase 174 mil produtores gaúchos, 38% veem o futuro dos negócios ameaçado pela falta de interesse em continuar a profissão dos pais.
“Muitos jovens abandonam a propriedade porque não veem uma expecativa muito grande de continuar na atividade. Os jovens saem da propriedade para procurar outras atividades ou então, permanecendo n local, buscam outro ramo dentro da atividade agrícola”, analisa o técnico da Emater.
Há mais de 20 anos o casal Darci e Claci Mallmann, que vivem no interior de Cruzeiro do Sul, trabalham sozinhos na produção de leite. Dos dois filhos do casal, um deixou a propriedade para atuar na área mecânica e o outro ainda é criança.
“Vamos continuar até pudermos. A vida do leite é assim, é diário, cansativo, mas temos que produzir enquanto conseguirmos”, diz Darci.
Já na propriedade da família Sprandel, de Teutônia, também no Vale do Taquari, o amanhã está garantido. A filha mais nova de Fridalina e Astor Sprandel, a estudante de engenharia civil Jaíne Sprandel, pretende aproveitar os conhecimento da faculdade e expandir a atividade bovinocultura de leite. A mãe fica feliz com escolha.
“A gente ficava em dúvida, não pressionados nada, foi uma opção dela. É uma alegria pra nós”.
Fonte: Globo