Quanto vale um cavalo? Raça Mangalarga Marchador

Com base nos diferenciais do Mangalarga Marchador, foi sancionada a Lei 12 975/14 que declara a “raça de cavalos Mangalarga Marchador como a raça nacional”.

O Mangalarga Marchador é uma das raças preferidas por criadores e usuários e a que mais atrai pessoas que pretendem investir na criação daquele tipo de cavalo. Uma das razões é que, por ser um animal de sela (montaria), ele se destaca por sua versatilidade, entre elas a de transportar o cavaleiro de maneira cômoda e ser montado por pessoas de qualquer faixa etária.

Além disso, possui outro diferencial que o valoriza ainda mais no mercado: em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12 975/14 que declara “a raça de cavalos Mangalarga Marchador, a raça nacional”.

Origem e formação da raça

A raça Mangalarga Marchador é tipicamente brasileira e surgiu há cerca de 200 anos na Comarca do Rio das Mortes, no Sul de Minas, através do cruzamento de cavalos da raça Alter – trazidos da Coudelaria de Alter do Chão, em Portugal – com outros cavalos selecionados pelos criadores daquela região mineira.

A base de formação dos cavalos Alter é a raça espanhola Andaluza, cuja origem étnica vem de cavalos nativos da Península Ibérica, germânicos e berberes. Os cruzamentos dessas raças deram origem a animais de porte elegante, beleza plástica, temperamento dócil e próprios para a montaria.

Os primeiros exemplares da raça Alter chegaram ao Brasil em 1808, com D. João VI, que se transferiu para a Colônia com a família real. Os cavalos dessa raça eram muito valorizados em Portugal e a família real investia em coudelarias (haras) para o aprimoramento da raça. A Coudelaria de Alter foi criada em 1748 por D. João V e viveu momentos de glória durante o século XVIII, formando animais bastante procurados por príncipes e nobres europeus para as atividades de lazer e serviço.

Minas Gerais já se destacava como centro criador de equinos desde o século XVIII e a chegada dos cavalos da raça Alter veio aprimorar ainda mais seus criatórios. A Comarca do Rio das Mortes tinha um potencial de ouro muito baixo, mas chamou a atenção dos colonizadores por causa das suas boas condições para a criação dos animais. Havia água em abundância e a vegetação era constituída de matas, capões e ervas pardacentas, adequadas para a produção de forragem.

O Mangalarga Marchador teve como berço a fazenda Campo Alegre, no Sul de Minas. Ela pertencia a Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, a quem é atribuída a responsabilidade pela formação da raça. A fazenda era uma herança de seu pai, João Francisco Junqueira. Outro fazendeiro importante na história do Mangalarga Marchador foi José Frausino Junqueira, sobrinho de Gabriel Junqueira. Exímio caçador de veados, José Frausino aprendeu a valorizar os cavalos marchadores por serem resistentes e ágeis para transportá-lo em suas longas jornadas.

Há várias versões para o nome Mangalarga Marchador, mas a mais consistente está relacionada à fazenda Mangalarga, localizada em Pati do Alferes, no Rio de Janeiro. O nome da fazenda era o mesmo de uma serra que existia na região. Seu proprietário era um rico fazendeiro que, impressionado com os cavalos da família Junqueira, adquiriu alguns exemplares para os passeios elegantes realizados no Rio de Janeiro.

Quando alguém se interessava pelos animais, ele indicava as fazendas do Sul de Minas. As pessoas procuravam os fazendeiros perguntando pelos cavalos da fazenda Mangalarga e esta referência se transformou em nome. Já o nome Marchador foi acrescentado pelo fato de alguns daqueles cavalos terem a função de marchar em vez de trotar.

Padrão da raça

Aparência geral

  1. Porte médio, ágil, estrutura forte e bem proporcionada, expressão vigorosa e sadia, visualmente leve na aparência, pele fina e lisa, pelos finos, lisos e sedosos, temperamento ativo e dócil.
  2. Altura: Para machos a ideal é de 1,52m, admitindo-se para o registro definitivo a mínima de 1,47m e a máxima de 1,57m. Para fêmeas a ideal é de 1,46m, admitindo-se para o registro definitivo a mínima de 1,40m e a máxima de 1,54m.

Cabeça

  1. Forma: triangular, bem delineada, média e harmoniosa, fronte larga e plana;
  2. Perfil: retilíneo na fronte e de retilíneo a sub-côncavo no chanfro;
  3. Olhos: afastados e expressivos, grandes, salientes, escuros e vivos, pálpebras finas e flexíveis;
  4. Orelhas: médias, móveis, paralelas, bem implantadas, dirigidas para cima, de preferência com as pontas ligeiramente voltadas para dentro;
  5. Garganta: larga e bem definida;
  6. Boca: de abertura média, lábios finos, móveis e firmes;
  7. Narinas: grandes, bem abertas e flexíveis;
  8. Ganachas: afastadas e descarnadas.

Expressão e caracterização

O que exprime e caracteriza a raça em sua cabeça, aparência geral e conformação.

Pescoço

De forma piramidal, leve em sua aparência geral, proporcional, oblíquo, de musculatura forte, apresentando equilíbrio e flexibilidade, com inserções harmoniosas, sendo a do tronco no terço superior do peito, admitindo-se, nos machos, ligeira convexidade na borda dorsal – como expressão de caráter sexual secundário – crinas ralas, finas e sedosas.

Tronco

  1. Cernelha: bem definida, longa, proporcionando boa direção à borda dorsal do pescoço;
  2. Peito: profundo, largo, musculoso e não saliente;
  3. Costelas: longas, arqueadas, possibilitando boa amplitude torácica;
  4. Dorso: de comprimento médio, reto, musculado, proporcional, harmoniosamente ligado à cernelha e ao lombo;
  5. Lombo: curto, reto, proporcional, harmoniosamente ligado ao dorso e à garupa, coberto por forte massa muscular;
  6. Ancas: simétricas, proporcionais e bem musculadas;
  7. Garupa: longa, proporcional, musculosa, levemente inclinada, com a tuberosidade sacral pouco saliente e de altura não superior à da cernelha;
  8. Cauda: de inserção média, bem implantada, sabugo curto, firme, dirigido para baixo, de preferência com a ponta ligeiramente voltada para cima quando o animal se movimenta.
  9. Cerdas finas, ralas e sedosas.

Membros anteriores

  1. Espáduas: longas, largas, oblíquas, musculadas, bem implantadas, apresentando amplitude de movimentos;
  2. Braços: longos, musculosos, bem articulados e oblíquos;
  3. Antebraços: longos, musculosos, bem articulados, retos e verticais;
  4. Joelhos: largos, bem articulados e na mesma vertical do antebraço;
  5. Canelas: retas, curtas, descarnadas, verticais, com tendões fortes e bem delineados;
  6. Boletos: definidos e bem articulados;
  7. Quartelas: de comprimento médio, fortes, oblíquas e bem articuladas;
  8. Cascos: médios, sólidos, escuros e arredondados.

Membros posteriores

  1. Coxas: musculosas e bem inseridas;
  2. Pernas: fortes, longas, bem articuladas e aprumadas;
  3. Jarretes: descarnados, firmes, bem articulados e aprumados;
  4. Canelas: retas, curtas, descarnadas, verticais, com tendões fortes e bem delineados;
  5. Boletos: definidos e bem articulados;
  6. Quartelas: de comprimento médio, fortes, oblíquas e bem articuladas;
  7. Cascos: médios, escuros e arredondados;
  8. Aprumos: corretos.

Ação

  1. Passo: andamento marchado, simétrico, de baixa velocidade, a quatro tempos, com apoio alternado dos bípedes laterais e diagonais, sempre intercalados por tempo de tríplice apoio.
    Características ideais: regular, elástico, com ocorrência de sobrepegada; equilibrado, com avanço sempre em diagonal e tempos de apoio dos bípedes diagonais pouco maiores que laterais; suave movimento de báscula com o pescoço; boa flexibilidade de articulações.
  2. Galope: andamento saltado, de velocidade média, assimétrico, a três tempos, cuja sequência de apoios se inicia com um posterior, seguido do bípede diagonal colateral (apoio simultâneo) e se completa com o anterior oposto.
    Características ideais: regular, justo, com boa impulsão, equilibrado, com nítido tempo de suspensão, discreto movimento de báscula com o pescoço, boa flexibilidade de articulações.

Andamento

Marcha batida ou picada – é o andamento natural, simétrico, a quatro tempos, com apoios alternados dos bípedes laterais e diagonais, intercalados por momentos de tríplice apoio.

Características ideais: regular, elástico, com ocorrência de sobrepegada ou ultrapegada, equilibrado, com avanço sempre em diagonal e tempos de apoio dos bípedes diagonais maiores que laterais, movimento discreto de anteriores, descrevendo semicírculo visto de perfil, boa flexibilidade de articulações.

Pontos de desclassificação

  1. Expressão e caracterização
    1. Quando se distingue da raça.
  2. Despigmentação
    1. Pele (Albinismo)
    2. Íris (Albinóide)
  3. Temperamento
    1. Vícios considerados graves e transmissíveis.
  4. Orelhas
    1. Mal dirigidas (Acabanadas)
  5. Perfil da fronte
    1. Convexilíneo
  6. Perfil do chanfro
    1. Convexilíneo ou concavilíneo
  7. Lábios
    1. Com relaxamento das comissuras (belfo)
  8. Assimetria da arcada dentária
    1. (Prognatismo)
  9. Pescoço
    1. Cangado, invertido (de cervo) e rodado
  10. Linha dorso-lombar
    1. Cifose (de carpa), lordose (selado) e escoliose (desvio lateral da coluna)
  11. Garupa
    1. Demasiadamente inclinada (derreada), de altura superior à da cernelha, tolerando-se, neste caso, nas fêmeas, diferença de até 2 centímetros.
  12. Membros
    1. Taras ósseas congênitas e defeitos graves de aprumos.
  13. Aparelho genital
    1. Anorquidia (ausência congênita dos testículos)
    2. Monorquidia (roncolho)
    3. Criptorquidia (1 ou 2 testículos na cavidade abdominal)
    4. Assimetria testicular acentuada
    5. Anomalias congênitas do sistema genital feminino
  14. Andamento
    1. Andadura
    2. Trote
    3. Marcha trotada

Plantel e valorização dos animais

Animal de sela, o Mangalarga Marchador tem como principal finalidade a lida com o gado, cavalgadas e lazer em geral. De acordo com o levantamento mais recente da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), há cerca de 645 mil cavalos da raça em todo o Brasil, distribuídos por 17.800 criadores. A maior parte (55%) fica localizado em Minas Gerais, mesmo estado de origem da raça.

Em média, um exemplar simples desse cavalo custa 5 mil reais. Apesar disso, um único Mangalarga pode sair por 15 milhões de reais, dependendo da quantidade de prêmios e competições que ganhou ao longo do tempo. Fazendo uma simples comparação, é o mesmo valor de 500 carros populares.

Um exemplo de cavalo com esse preço tão alto é o Galante do Expoente, considerado o mais caro da raça no país. Pertencente a seis sócios; ele está localizado no Haras Zel, em Ouro Fino, no sul de Minas Gerais. Para se ter uma ideia, esses animais tão caros são levados até com escolta para os eventos e exposições.

O Mangalarga Marchador, desde que surgiu há cerca de 200 anos no sul de Minas Gerais, vem sendo aperfeiçoado em sua marcha e morfologia (beleza e estrutura) e atualmente é reconhecido como uma das melhores raças do Brasil. Foi com base nos diferenciais do Mangalarga Marchador – valorização no mercado, qualidade da marcha e da morfologia –, que a ex-presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12 975/14 que declara “a raça de cavalos Mangalarga Marchador como a raça nacional”.

O autor do projeto e criador da raça, deputado federal Arthur Maia, do partido Solidariedade (SDD-BA), justifica a lei dizendo que “era preciso reconhecer um cavalo como símbolo do país”. Sobre a decisão da ex-presidente, diz a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM):

“Mais que uma demonstração de reconhecimento, o título representa uma importante conquista do setor, pois a iniciativa ajuda na promoção e fomento da raça”. “Além disso”, acrescenta, “é um reconhecimento a um cavalo que deixou fortes marcas na história e na cultura de nosso país, sobretudo em Minas Gerais. estado onde a raça surgiu”.

Outras qualidades da raça

O Mangalarga Marchador tem como função principal a marcha, que é distinta das outras encontradas nos demais marchadores do mundo. A marcha, que é o passo acelerado, se caracteriza por transportar o cavaleiro de maneira cômoda, pois não transmite nele os impactos ocorridos com os animais de trote.

O andamento do Mangalarga Marchador é acompanhado de outras importantes características. Ele é dotado de temperamento ativo e dócil e, por isso, pode ser montado por pessoas de qualquer faixa etária e nível de equitação e possui grande capacidade para percorrer longas distâncias e enfrentar desafios naturais.

Além disso, é um animal rustico, podendo ser criado somente em regime de pasto, diminuindo seu custo de produção e manutenção, facilitando seu manejo. A rusticidade é observada também na facilidade de adaptação a quaisquer terrenos e climas, como o tropical, temperado ou frio.

A fácil atuação do Mangalarga Marchador frente a obstáculos naturais demonstra sua aptidão inata para o trabalho e esportes em geral. No enduro, os animais da raça têm valorização crescente pela comodidade da marcha, que garante conforto ao cavaleiro, e pela resistência para percorrer longas distâncias.

ABCCMM e suas realizações

Fundada em 16 de julho de 1949, no Parque de Exposições da Gameleira, em Belo Horizonte (MG), a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) é uma entidade credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para fazer o registro genealógico oficial dos animais da raça Mangalarga Marchador.

Maior entidade de criadores de equinos de uma mesma raça na América Latina, a ABCCMM mantém, desde 1997, home-page na internet para uma melhor comunicação com seus associados e colaboradores, através do endereço eletrônico: www.abccmm.org.br. Diariamente o site recebe cerca de 30 mil acessos.

Também presente e atuante nas Redes Sociais, possui perfil oficial verificado no Faceboook e no Instagram (@abccmmoficial). Na página do Instagram contabiliza-se 139 mil seguidores e no Facebook, 62 mil seguidores. Já em seu canal oficial do Youtube, possui 106 mil inscritos.

Em 2009, passou a produzir o programa televisivo Mangalarga Marchador TV (MMTV), transmitido aos domingos, pelo Canal Rural, de 19h às 20h. A ABCCMM possui, ainda, uma revista oficial. A publicação, de circulação nacional, direcionada aos associados está em sua 89ª edição.

Atualmente, a ABCCMM reúne mais de 18 mil associados ativos. Com 70 núcleos e associações regionais de criadores espalhados em todo o Brasil, o Mangalarga Marchador tem representações oficiais também no exterior: Alemanha, Itália, Estados Unidos e Argentina.

Entre Copas de Marcha e Exposições, são realizados, anualmente, mais de 250 eventos oficiais pelo país, além de 350 leilões (remates presenciais e online). A cada mês de julho, a ABCCMM promove a maior exposição de equinos de uma mesma raça na América Latina. Com participação de mais de 1.600 animais, a Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador é considerada o maior evento privado da capital mineira. Durante a mostra passam pelo Parque da Gameleira mais de 200 mil visitantes.

Fonte: Animal Business

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