Afinal de contas, qual o preço justo para a arroba? Você venderia seus animais no atual preço, ou acha que a indústria pode pagar mais? Veja!
Comentários como “isso é comprado pela indústria” ou “só querem derrubar o preço do boi gordo”, apenas são vistos em momentos onde o preço da arroba segue em baixa. Mas calma, não estou aqui criticando o pecuarista, até porque, assim como vocês, leitores, também vivo da engorda da boiada. Dito isso, vamos tentar entender e descobrir a resposta da pergunta inicial: “Qual o preço justo para a arroba?”.
Os preços da arroba estão subindo, a meses que temos uma arroba acima de R$ 200 nas principais praças pecuárias do Brasil. Segundo o Indicador do Boi Gordo CEPEA/ESALQ, nos últimos seis meses o menor preço observado foi de R$ 199,57 e o maior de R$ 228,50. Diante disso, existe uma forma eficiente para formação dos preços?
Segundo Rogério Goulart, também pecuarista, “não penso que haja mercado eficiente na formação de preços. Quem acredita que os preços hoje estejam ruins é porque acredita que exista um preço justo para a arroba. Obviamente, isso é uma ilusão. Não existe um preço justo, correto para a arroba, assim como não existe um preço de custo unificado entre os produtores“, ressalta ele em matéria divulgada pela Scot Consultoria.
Um ponto que precisa ser colocado em questão, principalmente no Brasil, é quanto ao custo de produção. Em qualquer área ou setor, o problema real é quanto se gasta para produzir, não por quanto se vende o produto. O preço da arroba não é, e também não deve ser, tabelado pelo governo.
O embate, ou crise, entre os frigoríficos e pecuaristas, é algo que sempre irá existir, assim como pecuaristas e laticínios. Quem vende quer o melhor preço e quem paga quer o menor preço. Isso é a lei do mercado e do ser humano. Agora vamos ao preço justo da arroba!
Tenho visto alguns produtores reclamando que os preços estão baixos, concordo, mas também existe muita gente que está ganhando dinheiro nesses níveis de preços. É nesse ponto que erram os que reclamam dos preços atuais da arroba. Precisa ficar claro, de uma vez por todas que, os preços das commodities (boi, soja, milho) são formados na margem, isto é, normalmente o preço é o bastante para cobrir os custos da produção e um pequeno lucro para o produtor mais eficiente (eficiente = que produz mais barato).
Gráfico 1 – Histórico de preço do Indicador do Boi Gordo CEPEA/ESALQ.
Ser eficiente é produzir mais e com menor custo! A precificação de commodity não é pensada para fazer o produtor ganhar na unidade, mas sim no volume.
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Ainda segundo o especialista, Rogério Goulart, “a ironia é que esse é o principal problema da produção agrícola – não há ganho de escala. Os custos fixos e variáveis aumentam proporcionalmente ao volume, e não o contrário de outras commodities. É uma pena. Não concorda comigo? Só para lembrar, algumas vezes o produtor esquece que ele também derrubaria os preços de sua matéria-prima se ele tivesse oportunidade. Por exemplo, se existir uma oferta abundante de touros, o criador forçará ainda mais a queda; se houver oferta abundante de bezerros, o recriador/invernista barganhará para comprar mais barato. Então, por que quando há uma oferta abundante de bois gordos (ou uma demanda abaixo da oferta existente, o que dá na mesma) o frigorífico, concentrado ou não, paga mais pela arroba? Quando você vai comprar sua calça jeans, você dá uma gorjeta de R$100,00 para o vendedor porque ele foi legal? É óbvio que não — você irá forçá-lo a cortar na carne para te dar desconto, diminuindo a margem de lucro dele. Mas você ficou feliz por ter comprando mais barato, não é? Então, por que a regra de oferta x demanda pode funcionar com o resto do mercado, mas não no mercado de boi? Por que um frigorífico pagaria mais pela arroba se ele tem oferta abundante de gado? Não sejamos hipócritas, caro leitor. Eu acreditava em Papai Noel até os dois anos de idade. Hoje não acredito mais. Até o outro argumento de que a concentração amortece a alta é meio capenga”, finaliza ele em seu artigo “Existe preço justo para a arroba?”, publicado em 2009, na Scot Consultoria, mas que se encaixa no atual momento vivido.
Em suma, não estou aqui defendo o lado A ou lado B, mas precisamos parar de ser “mesquinhos” e parar de avaliar o mercado pela ótica de terceiros. Encare a sua realidade, busque conhecer a sua produção e limitações, aproveite as oportunidade e reduza os riscos das suas negociações, com planejamento estratégico, com conhecimento de mercado. A fazenda é uma empresa, e assim deve ser vista, tendo gestão eficiente e visão do futuro!
Texto produzido com algumas informações da Scot Consultoria e CEPEA/ESALQ