Qual dos lotes traz mais lucro ao pecuarista: machos ou fêmeas cruzados?

Com a demanda por carne de qualidade e a eficiência biológica em foco, entender o desempenho e os custos de produção entre machos e fêmeas cruzados é crucial para o pecuarista garantir a lucratividade.

No cenário da pecuária de corte, a escolha entre machos ou fêmeas cruzados é uma questão que impacta diretamente a rentabilidade do produtor. Com a crescente demanda por carne de alta qualidade e a eficiência biológica no foco das discussões, entender as diferenças de desempenho e os custos de produção entre os dois gêneros pode ser a chave para aumentar a lucratividade na fazenda. Mas afinal, qual deles oferece o melhor retorno financeiro? É o macho com sua carcaça mais robusta e rendimento de carne commodity, ou a fêmea, conhecida por produzir cortes premium?

Para tratar do assunto, nada mais adequado que ele: Roberto Barcellos, agrônomo e zootecnista, é um nome de destaque no setor de produção de carnes no Brasil. Dono da renomada marca BBQ Secrets, Barcellos compartilha sua paixão pelo tema, trazendo insights valiosos sobre toda a cadeia produtiva. Com profundo conhecimento que vai desde a origem dos animais até a precificação final dos cortes, ele se tornou uma referência ao unir técnica e experiência prática para elevar a qualidade e o valor da carne no mercado.

Barcellos compartilhou em suas redes sociais, nesta semana, uma discussão relevante sobre a produção de carne bovina no Brasil. A imagem em destaque acima, publicada pelo especialista, mostra dois lotes de bovinos prontos para o abate. Além disso, seu texto, que será analisado a seguir, levanta questionamentos importantes para a cadeia da carne bovina: “Macho ou fêmea cruzados: qual traz maior lucro ao pecuarista?”.

Os animais apresentados na imagem e na análise comparativa têm uma composição genética de 50% Nelore e 50% Angus. Além disso, é importante destacar que eles são irmãos de mesma idade, pertencem à mesma geração e têm a mesma origem, sendo divididos de forma equitativa em machos (lote A) e fêmeas (lote B).

“Macho ou fêmea cruzados: qual traz maior lucro ao pecuarista?”

Vamos analisar os dados fornecidos sobre os lotes de machos e fêmeas, considerando os aspectos de rentabilidade e eficiência biológica, para responder à pergunta inicial.

Detalhes dos lotes

A) Machos Inteiros

  • 100% dente de leite
  • Rendimento de carcaça: 56,81%
  • Peso da carcaça: 21,25@
  • Acabamento: 100% mediano
  • Eficiência biológica estimada: 140 kg MS/@

B) Fêmeas

  • 100% dente de leite
  • Rendimento de carcaça: 54,07%
  • Peso da carcaça: 16,22@
  • Acabamento: 50% mediano e 50% uniforme
  • Eficiência biológica estimada: 180 kg MS/@

Análise de Rentabilidade:

  • Animal A (machos): Produz carne commodity.
  • Animal B (fêmeas): Produz carne de alta qualidade.

Pergunta: Qual dá mais lucro?
Conforme apontou Barcellos, para calcular o lucro [fazer a análise], “é necessário avaliar a eficiência biológica e o mercado final para cada tipo de carne”. Ele ainda completou em conversa com o Compre Rural: “Está claro, mas pouca gente entendeu a importância da eficiência biológica nessa conta.”

A eficiência biológica é um indicador que mede a quantidade de alimento necessário para a produção de carne em uma propriedade. Ela é calculada em termos de quilos de matéria seca (MS) necessários para produzir uma arroba (@) de carne. Uma eficiência biológica mais alta indica que menos alimento é necessário para gerar a mesma quantidade de carne, refletindo um melhor aproveitamento dos recursos.

  • Machos: Para produzir uma arroba, são necessários 140 kg de matéria seca.
  • Fêmeas: Para produzir uma arroba, são necessários 180 kg de matéria seca.

Implicação: Para que a fêmea, nessa análise, produza uma arroba, ela precisa consumir 40 kg a mais de matéria seca em comparação aos machos. Com a matéria seca custando R$ 1 por quilo, isso representa um custo adicional de R$ 40 por arroba para a fêmea.

Considerando o rendimento de carcaça, o lote de machos apresentou um rendimento de 56,81%, enquanto as fêmeas têm um rendimento de 54,07%. Isso significa que os machos, em média, proporcionam uma maior quantidade de carne por unidade de peso vivo.

Uma eficiência biológica mais alta indica que menos alimento é necessário para gerar a mesma quantidade de carne, refletindo um melhor aproveitamento dos recursos.

Agora você deve estar pensando: a fêmea produz uma carne de alta qualidade e recebe bonificações no valor da arroba, enquanto isso, por outro lado, o macho produz uma carne commodity e tem uma arroba mais “barata”.

Segundo Roberto Barcellos, os pecuaristas recebem uma premiação de 6 a 10% pela qualidade da carne proveniente de fêmeas cruzadas. Considerando um valor de R$ 270/@, o ganho extra para fêmeas seria de:

  • 10% de R$270 = R$27/@.

Essa premiação é suficiente para poder garantir retorno lucrativo? Não. Se voltarmos acima, vamos ver que a fêmea tem uma eficiência biológica menor e precisa de 40 kg de matéria seca ä mais para produzir a mesma arroba que o lote A, de machos. Dessa forma, a sua bonificação ainda deixa uma diferença negativa de R$ 13/@.


Assim, após analisar os dados, o especialista compartilhou suas reflexões sobre questões surgidas ao longo de seus 30 anos de experiência na área, respondendo de forma clara a algumas dessas dúvidas. Confira:

Quando questionado sobre quanto deveria valer a mais o produto do lote B em relação ao lote A, ele explica que o valor da bonificação precisa compensar a diferença da eficiência biológica. “No mínimo, o valor que cubra a perda de eficiência na produção de animais do lote B em comparação ao A. Isso significa que a carne de alta qualidade (B) deve compensar o maior custo de produção devido à menor eficiência biológica.”

Dando sequência ao assunto, ele comentou sobre a diferença de preços entre A e B: “Não, a diferença atual não incentiva o produtor a investir na carne de alta qualidade. A questão é: B está barato ou A está caro? É provável que os preços de ambos se distanciem ainda mais no futuro”, enfatizou Barcellos.

Se o lote B produz uma carne de qualidade e não uma commodity, na sua opinião: Por que o preço de B segue indexado ao de A, com um adicional de premiação? “Este é um erro antigo. A carne de alta qualidade não deve ser tratada como uma commodity, mas sim com contratos de produção específicos e planilhas de custo abertas para garantir a viabilidade”, respondeu.

Ainda durante o bate papo, o especialista alertou sobre as mudanças iminentes no mercado de carne no Brasil. Segundo ele, “uma grande ruptura no mercado está a caminho”. Essa situação, embora negativa à primeira vista, surge em um contexto em que a demanda por carne de alta qualidade tem aumentado, enquanto a oferta ainda é insuficiente para atender a essa crescente procura. No entanto, o especialista acredita que essa ruptura pode sinalizar um novo começo para o mercado de carne de qualidade no Brasil, indicando a necessidade de adaptação e inovação entre os produtores para aproveitar as oportunidades que estão por vir.

“Uma grande ruptura no mercado está a caminho”, aponta Barcellos.

Portanto, a decisão entre optar por machos ou fêmeas deve ser orientada pelas prioridades do pecuarista: se a eficiência e a rentabilidade são os principais objetivos, os machos se mostram como a melhor escolha. Entretanto, se o foco for a qualidade e a oportunidade de venda premium, as fêmeas podem oferecer vantagens financeiras significativas.

Conteúdo especial do Compre Rural, produzido pelo Diretor de Conteúdo Thiago Pereira em parceria com Roberto Barcellos

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