Qual a diferença entre o Nelore padrão e o Nelore mocho?

Por seu sucesso em solo brasileiro o Nelore se difundiu de forma massiva na maioria das regiões do país, ao longo das últimas décadas foram se oficializando as variações do Nelore padrão

Difundida por todo território nacional, o Nelore predomina nos nossos sistemas de criação como raça pura ou como base para todos os cruzamentos. Com destacada fertilidade, capacidade de adaptação a vários sistemas de produção, precocidade e desempenho em peso, contribui efetivamente para a produção de carne no país. A pelagem varia predominantemente do branco ao cinza e suas combinações, mas apresenta também variantes pintadas ou malhadas de preto ou vermelho, que ocorrem em menor frequência.

Por seu sucesso em solo brasileiro o Nelore se difundiu de forma massiva na maioria das regiões do país, ao longo das últimas décadas foram se oficializando – principalmente nos livros de registros da ABCZ – as variações do Nelore padrão, principalmente o mocho e o pintado. Hoje em dia ambas variações tornaram-se tão importantes que até parecem outra raça, entretanto não são, a única diferença é o direcionamento de cada criatório. No caso do mocho a única diferença, é a ausência do chifre.

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Foto: Divulgação

O primeiro registro do caráter mocho da raça Nelore no Brasil, ou seja, uma variedade da raça naturalmente desprovido de chifres, se deu no final dos anos de 1960, no entanto, há relatos de Ongole mocho em território indiano mesmo antes da migração desses bovinos à América Latina. A preferência pela variedade mocha da raça Nelore acompanha a tendência mundial de eliminação de chifres no rebanho que gera inúmeras vantagens ao produtor.

Vantagens como qualidade do couro e da carne, que sofrerão um menor impacto de hematomas e cicatrizes relacionadas à presença de chifres; maior segurança para o colaborador e conservação das infraestruturas da fazenda; bem-estar animal; bonifi cação em programas de F1; entre outros, são as principais razões pela preferência na seleção do Nelore mocho.

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Foto: Nelore Mocho Boticão

Neste sentido, são muitas as tentativas na busca de uma ferramenta que auxilie o criador a selecionar animais para a variedade mocha, e que contribua também para a variabilidade genética e menor consanguinidade do rebanho.

No entanto, a maioria dos estudos sobre a hereditariedade do caráter mocho que levaram a essas ferramentas foram realizados em bovinos Bos taurus, o que pode ser a razão da baixa taxa de sucesso dessas tecnologias nos rebanhos zebuínos. Pesquisas recentes demonstram que até mesmo a região do genoma que determina o caráter mocho em zebuínos é diferente do taurino.

Além disso, trabalhos atuais evidenciam que o padrão de herança do chifre, e de suas variantes fenotípicas como calo ou batoque, é mais complexo do que uma única mutação genética inicialmente relatada. Ou seja, são expressas por mais de um gene (característica poligênica), o que dificulta o desenvolvimento de ferramentas como, por exemplo, um marcador molecular para o caráter mocho.

Desta forma, após quatro anos de estudos científicos e coleta de informações, e fazendo-se o uso de ferramentas genômicas, a ANCP lança, pioneiramente, uma DEP genômica para o Caráter Mocho para a raça Nelore. Essa DEP, expressa a probabilidade de um reprodutor ou matriz transmitir o caráter mocho em suas progênies, e objetiva aumentar a opção de uso de touros melhoradores em rebanhos mochos, aumento da variabilidade genética desses rebanhos e consequente aumento do ganho genético do Nelore Mocho.

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Desafio da Boticão – Nelore Líder do PMGZ / Foto: boticao.com.br

Vantagens da ausência de chifres no Nelore

As vantagens de ausência de chifres são perfeitamente conhecidas dos que lidam com o gado. Os chifres são armas e, como tal, oferecem inconvenientes e perigos, seja pela agressão a indivíduos de mesma espécie, seja em relação ao próprio homem. O animal “costeado”, protegido pelo sistema de criação intensiva, onde está a salvo dos inimigos naturais, não tem necessidade de arma de defesa.

Os chifres têm o inconveniente de reduzir o número de animais nos vagões da estrada de ferro, nos caminhões ou em outros meios de transportes, especialmente quando eles são desenvolvidos. Nos currais, corredores e estábulos, as chifradas prejudicam o couro e determinam machucaduras que afetam a qualidade da carne.

Uma das vantagens da descorna é o aspecto de uniformidade que dá ao rebanho, importante para as raças menos evoluídas, onde os animais apresentam maior diferenciação, como se observa em muitos rebanhos da raças Zebuínas, nas quais os indivíduos variam quanto à inserção, direção, forma e dimensões dos chifres. Eliminados estes, o conjunto adquire agradável homogeneidade.

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Foto: Prata Agropecuária

Assim como na raça Nelore, o Nelore Mocho se caracteriza, de um modo geral, por animais de porte médio a grande, de pelagem branca, cinza ou manchada de cinza, rústicos, resistentes a ectoparasitas. Os touros apresentam elevada longevidade reprodutiva e as fêmeas apresentam elevado índice de fertilidade e excelente habilidade materna, uma característica muito importante em sistemas de criação a pasto.

A ausência de chifres é uma grande vantagem no manejo do gado e o uso de touros mochos em acasalamentos permite o nascimento de um grande número de bezerros mochos, já que essa é uma característica dominante. Os animais têm demonstrado excelente ganho de peso e se destacado nas mais diversas provas zootécnicas.

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Foto: Prata Agropecuária

Facilidade de manejo e bom desempenho do Nelore Mocho impulsionam crescimento da raça

O uso da genética de animais Nelore Mocho vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA) apontam para uma crescimento elevado. A comercialização de touros Nelore Mocho na porteira e nos leilões também segue aquecida. Na opinião do pecuarista Antônio Renato Prata, que é selecionador da raça há mais de 60 anos, as vantagens proporcionadas pela ausência de chifre e as boas características produtivas levaram a esse interesse crescente pelo Nelore Mocho.

“São animais precoces, férteis, rústicos, de bom ganho de peso e boa conformação frigorífica, mas com a vantagem de ocuparem menor espaço no cocho, reduzindo os riscos de lesões, e de serem manejados com maior segurança e facilidade. As fêmeas também são muito dóceis e de boa habilidade materna”, explica o proprietário da Prata Agropecuária, que seleciona a raça na Fazenda 2 Irmãos, em Tarabai/SP.

Prata agropecuaria - nelore mocho - vacada nelore
Foto: Isabela Prata

Na Prata Agropecuária, a seleção prioriza totalmente o caráter mocho, ou seja, somente touros sem chifre são usados nos acasalamentos. “É uma forma de mantermos a padronização racial do nosso rebanho. Trabalhamos com uma grande pressão de seleção, utilizando somente animais bem avaliados pelo PMGZ [Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos]. Outro cuidado que tomamos é evitar a consanguinidade”, esclarece o pecuarista.

Desde a década de 1960, quando iniciaram os registros de Nelore Mocho na ABCZ, até os dias atuais, a entidade conta com mais de 830 mil animais Nelore Mocho com registro genealógico de nascimento, sendo o segundo maior entre todas as raças zebuínas. “Trata-se de um período ainda curto de seleção da raça, mas com resultados impressionantes para a pecuária brasileira. Como esse caráter é dominante [75% de chance de nascer mocho], a raça permite cruzamentos com o Nelore Padrão, obtendo ganhos genéticos para a criação de animais puros”, diz o proprietário da Prata Agropecuária.

Segundo ele, a qualidade dos animais Nelore Mocho tem sido determinante para elevar o número de rebanhos puros no Brasil. “Foi isso que me fez deixar de criar o Nelore Padrão para focar minha seleção apenas em animais Nelore Mocho. Hoje, o mocho é tão prestigiado quanto o padrão”, conta Prata. Juntos, Nelore Padrão e Nelore Mocho representam 80% do rebanho de corte do País.

Com informações do Manual de coleta de dados Caráter Mocho da ANCP

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