De acordo com o zootecnista o foco do projeto sisteminha é permitir a produção de alimentos em áreas bem pequenas, entre 100 e 1.500 metros quadrados.
Um projeto desenvolvido por um zootecnista está ajudando a mudar a realidade de mais de quatro mil famílias no Brasil e muitas outras em pelo menos oito países africanos. Há 8 anos nascia o ‘sisteminha’, desenvolvido por Luiz Carlos Guilherme para a sua tese de doutorado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais. A tese foi aprovada, o doutorado concluído, mas este era só o começo de um importante trabalho que viria a ajudar – e muito – os agricultores familiares.
De acordo com o zootecnista, que trabalha na Embrapa, o foco do projeto é permitir a produção de alimentos em áreas bem pequenas, entre 100 e 1.500 metros quadrados. A ideia é que as pessoas produzam o próprio alimento no quintal de casa, com a integração entre a criação de peixes, aves, hortaliças, frutas e legumes. A iniciativa ganhou destaque nesta semana no Globo Rural.
Em entrevista ao programa dominical da Globo, o zootecnista disse estar satisfeito com os resultados, principalmente com o resgate da autoestima da população mais carente do país.
“O ideal é que as famílias pudessem fazer um desagravo a fome, [conseguir produzir] no fundo do quintal da sua própria casa, sem a dependência do emprego. E tendo um trabalho que possa valorizar a família, resgatando a autoestima e a dignidade de ter a alimentação para os filhos”. Atualmente, o sisteminha já foi implementado no Piauí, Maranhão, Ceará, Tocantins, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco. São cerca de 4.600 famílias carentes beneficiadas. O projeto também já atravessou o oceano e ajuda famílias de países africanos como Camarões, Etiópia, Tanzânia, Gana, Uganda, Angola, Senegal e Moçambique.
FUNCIONAMENTO
O sisteminha é parecido com a linha de produção de uma fábrica. Em cada fase, algo é acrescentado. Toda a estrutura do sistema custa entre R$ 5 mil e R$ 8 mil, investimento do próprio bolso do agricultor ou de programas públicos para famílias de baixa renda, como ocorre no Maranhão, por exemplo.
O projeto do sisteminha só foi possível graças a uma invenção simples: um balde, um cano de PVC, uma mangueira de limpeza de piscina e uma garrafa pet. Esses itens formam o biofiltro, que é o coração de todo o sistema. O equipamento permite que um tanque com 10 mil litros de água produza 40 kg de tilápia a cada 90 dias.
Já a estrutura do tanque é composta por uma armação principal, que pode ser de madeira ou até bambu, tem forma de círculo ou retângulo, o papelão serve de parede, a argila faz o acabamento, em alguns casos pode ser revestido com plástico para melhorar impermeabilização.
Dentro do tanque, a água com restos de ração e fezes passa por um sedimentador que retém o material sólido. Antes de voltar para o tanque, a água passa pelo biofiltro. No interior, centenas de fios de nylon cheios de bactérias que decompõem a amônia, substância produzida pelas fezes da própria tilápia e que se não for eliminada, mata os peixes.
Parte da água das tilápias é utilizada na irrigação, pois é um biofertilizante que contém nutrientes importantes como nitrogênio, fósforo potássio, cálcio e magnésio, basicamente tudo que a hortaliça precisa pra se desenvolver.
A plantação é escalonada, ou seja, o plantio é feito aos poucos, assim a colheita é gradual, para não faltar nem sobrar alimentos.
O sisteminha conta ainda com galinhas para carne e ovos. O esterco desses animais vira compostagem e, depois de um tempo curtido, vai para um minhocário e se torna húmus, um adubo natural.
Para fazer o download do manual da Embrapa que ensina a como instalar o sisteminha em sua propriedade, clique aqui.
Adaptado de ABZ