O racionamento de água para irrigação, determinado em julho pela Agerh, ajuda no consumo consciente, mas não evita perdas significativas na agricultura do ES.
A falta de chuvas tem trazido prejuízos para os produtores rurais da região serrana e do noroeste do Espírito Santo. O racionamento de água para irrigação — que teve início em julho, por determinação da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) — ajuda no consumo consciente, mas não evita perdas significativas na agricultura.
O racionamento atinge produtores dos municípios de Santa Teresa, Itarana, Itaguaçu e São Roque do Canaã. Este último decretou situação de emergência e adotou rodízio de água também para o consumo humano.
Em Santa Teresa, o produtor rural Edival Corteletti conta que passou a retirar água da nascente para irrigar suas plantações de café e tomate. Ele disse que precisou parar de molhar parte do café para molhar o tomate, mas, mesmo assim, tem amargado prejuízos.
“Eu posso captar água um dia e ficar dois sem captar. E essa porcentagem hoje que eu posso tirar, eu levo em torno de 15 dias para encher um poço e daria para eu molhar não todo o café uma vez. Então eu já abandonei em torno de 80% da minha área de café e eu tenho uma área de tomate. Nessas proporções de água, se eu continuar molhando ele a cada dois dias, eu não vou colher”, disse.
“Fizemos um investimento. Um investimento hoje de um pé de tomate custa em torno de R$ 10. Eu tenho R$ 40 mil. Então se eu não colher tomate ali, qual vai ser o meu prejuízo?”, completou.
Para tentar amenizar a situação, Edival chegou a criar um novo ponto de captação de água de nascente na propriedade dele, mas acabou sendo notificado pela Agência Estadual de Recursos Hídricos.
“Volta e meia existem situações pontuais em que a ação fiscalizadora tem que atuar para fazer com que eles passem a cumprir a regra. Se eles não cumprirem a regra, eles podem ser autuados, que vão desde um processo de notificação até um processo de deflagração de um processo judicial e o lacramento da bomba”, ressaltou o presidente da Agerh, Fábio Ahnert.
Seca
A falta de chuvas mudou a cara da paisagem na zona rural de Santa Teresa. No lugar do verde, é comum encontrar o tom amarelado da vegetação seca. “Já tem uns três meses que não corre água mais aqui”, contou o produtor rural Lúcio Strutz.
Os produtores que sofrem mais são aqueles que vivem longe das nascentes, que não têm dado conta de abastecer córregos e rios. O leito do Rio Perdido, um dos afluentes do Santa Maria do Doce, secou completamente.
O Rio Santa Maria do Doce é responsável por abastecer parte do noroeste do Estado, junto com o Santa Joana. Os dois formam as duas bacias mais prejudicadas pela seca no Espírito Santo.
“Dos últimos cinco anos para cá, o Espírito Santo, em média, tem recebido uma quantidade de chuva anual abaixo do que se espera. Isso tem contribuído muito para a pouca recarga dos aquíferos. Toda água que sustenta o rio, no período de estiagem, é a água que está no subsolo. São as águas dos lençóis freáticos. Então se esse reservatório, que é o solo, não foi recarregado, se não teve chuva suficiente para recarregá-lo, ele acaba aportando pouca água ao rio no período de seca”, explicou Ahnert.
Para o ambientalista Claudiney Rocha, a falta de água também é decorrente do desmatamento desordenado do solo, sem a devida fiscalização por parte do poder público. “Para resolver esse problema, tem que recuperar as matas: topo de morro, nascentes e as matas ciliares. É a única forma que vai conseguir segurar água da chuva. Vai fazer com que essa água vá para o subsolo, alimentando o lençol freático e as nascentes. Aí sim vai voltar a ter água na região”, afirmou.
Isso sem falar no desperdício de água. Segundo especialistas, muitos produtores rurais utilizam, na irrigação, mais água do que precisam e mais do que é permitido. “A água é um bem público. É um direito de todos”, frisou a professora de agronomia do Ifes, Paola Alfonsa Viera Lo Monaco.
A professora afirma ainda que é possível atravessar o período de seca sem passar dificuldades. Ela destaca práticas de cultivo e de irrigação que podem evitar desabastecimento e prejuízo.
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“Existem algumas práticas que melhoram a infiltração da água no solo, algumas práticas que a gente chama de conservacionistas, numa bacia hidrográfica. É você fazer o plantio em nível, uso de caixas secas, cobertura morta, cordões de vegetação permanentes. São práticas muito importantes e que melhoram sobremaneira a infiltração da água no solo”, destacou.
“Se não fizer o reflorestamento, se não fizer de novo toda a cobertura vegetal na região, é impossível ter água. Não vai ter água”, completou Claudiney Rocha.
Fonte: Folha Vitória