Produtores europeus temem escassez de soja brasileira devido à lei antidesmatamento da UE

Esta medida, que entra em vigor a partir de 2025, coloca em risco cerca de um terço das exportações brasileiras de soja para o bloco.

A recente regulamentação da União Europeia que veta a importação de alimentos associados ao desmatamento preocupa os agricultores europeus, especialmente os que dependem da soja brasileira para alimentar seus rebanhos de vacas e porcos. Esta medida, que entra em vigor a partir de 2025, coloca em risco cerca de um terço das exportações brasileiras para o bloco.

David Saelens, pecuarista na região do Somme, ao norte da França, e responsável pela nutrição animal em uma cooperativa agrícola local, expressa preocupação com a incerteza sobre os preços da soja para o próximo ano: “Não temos ainda uma previsão de cotação para 2025, o que dificulta o planejamento dos compradores. Isso gera problemas logísticos para as fábricas de ração e aumenta o risco de interrupções no fornecimento, além de possíveis tarifas mais elevadas.”

O avanço de medidas protecionistas na UE, impulsionadas pelo aumento da influência da extrema direita, intensifica as restrições comerciais que afetam o Brasil. A nova legislação visa banir a importação de café, cacau, borracha, óleo de palma, carne bovina e madeira cuja produção esteja associada ao desmatamento.

Uma nova diretiva da União Europeia que veta a entrada de alimentos provenientes de áreas desmatadas está causando apreensão entre os agricultores europeus, que dependem da soja brasileira para alimentar seus rebanhos de vacas e porcos. A medida, prevista para entrar em vigor em 2025, poderá afetar significativamente até um terço das exportações brasileiras para o bloco.

Produtores europeus temem escassez de soja brasileira devido à lei antidesmatamento da UE
Foto: Divulgação

David Saelens, pecuarista no departamento de Somme, ao norte da França, e encarregado da nutrição animal em uma cooperativa agrícola local, destacou a incerteza quanto aos preços da soja para o próximo ano: “A cotação da soja para 2025 ainda não foi determinada, o que dificulta a previsão de custos para os compradores. Isso acarreta desafios organizacionais para as fábricas de ração, aumentando o risco de interrupções no abastecimento e possíveis aumentos tarifários.”

O avanço de políticas protecionistas na UE, impulsionado pelo crescimento da influência da extrema direita, tende a intensificar as restrições comerciais que impactam o Brasil. A nova legislação visa proibir, a partir de 2025, a importação de café, cacau, borracha, óleo de palma, soja, carne bovina e madeira provenientes de áreas desmatadas.

A implementação detalhada da nova regulamentação ainda não está clara, especialmente no que diz respeito à certificação da soja importada para garantir que não contribua para o desmatamento, conforme observado pelo sindicato francês da indústria de nutrição animal. A falta de transparência da lei antidesmatamento da UE está gerando preocupações tanto entre os agricultores europeus quanto os exportadores brasileiros.

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Essa incerteza está impactando diretamente os importadores e fornecedores, que suspenderam suas cotações devido à falta de informações completas sobre disponibilidade de soja. Os fabricantes de ração animal, por sua vez, estão operando com dados muito limitados, o que pode resultar em interrupções no fornecimento e possíveis aumentos de tarifas.

A indústria do aço no Brasil também está reagindo às novas regulamentações da UE, temendo um aumento nas importações devido às restrições destinadas a reduzir a pegada de carbono. Este cenário afeta não apenas a França, um dos maiores produtores de carne e leite da UE, mas também países vizinhos como a Espanha, que é um grande produtor de carne suína.

Neste contexto, a associação espanhola do setor, Unistock, expressou recentemente sua preocupação com a medida. Apesar dos esforços para aumentar a produção local, a França continua importando mais de 90% da soja utilizada na alimentação animal, principalmente do Brasil, conforme apontado pela cooperativa agrícola.

A Solteam, uma das principais importadoras de soja na França, afirma confiar em sua capacidade de cumprir com a nova regulamentação, embora reconheça enfrentar desafios operacionais, segundo seu gerente Laurent Houis. Enquanto aguardam detalhes adicionais da Comissão Europeia sobre a implementação da diretiva, a empresa optou por não divulgar publicamente os preços de mercado além de dezembro de 2024.

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Por outro lado, o grupo Louis-Dreyfus, outro grande importador de soja, está trabalhando na coleta de dados e certificações de origem da soja, mas também depende de mais informações da Comissão Europeia para implementar plenamente as novas exigências.

Claude Soudé, subdiretor da federação de produtores de sementes oleaginosas e proteínas da França, alerta que as empresas que não seguirem as novas regras poderão enfrentar sanções severas, incluindo multas de até 4% do faturamento ou até mesmo a proibição de acesso ao mercado.

Essas medidas não apenas afetam a logística e a transparência na cadeia de fornecimento de soja, mas também têm potenciais repercussões negativas para pequenos produtores no Brasil, destacando um desafio significativo para todos os envolvidos no setor agroalimentar internacional.

Por isso, afirmam, estão evitando qualquer tipo de risco.

No Brasil, as empresas do setor garantem estar completamente preparadas. Os comerciantes estão intensamente focados nessa questão, especialmente na logística, para assegurar a rastreabilidade exigida”, declarou Azael Pizzolato Neto, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja do estado de São Paulo.

Pizzolato Neto enfatizou que o Brasil já possui uma legislação rigorosa contra o desmatamento, assegurando que qualquer escassez de soja no mercado europeu não será por falta de produtos que atendam aos requisitos, mas sim devido a eventuais ineficiências europeias.

Carolina Teodoro, da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, que representa cerca de 168.000 agricultores, confirma que os produtores estão altamente interessados em manter relações comerciais com os clientes europeus. “Esperamos que as certificações ambientais existentes sejam suficientes”, afirmou à AFP.

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Neste contexto, o Ministério do Comércio do Brasil solicita que a União Europeia leve em consideração os dados e sistemas brasileiros para determinar as políticas de combate ao desmatamento.

Por outro lado, a Confederação Nacional da Agricultura do Brasil expressa preocupação de que os requisitos europeus possam penalizar os pequenos produtores, que têm menos recursos para fornecer dados, especialmente por satélite, para comprovar que suas plantações não contribuem para o desmatamento, conforme explicou um de seus gerentes, Sueme Mori.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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