A pesquisa também indica que novos bioinsumos podem não garantir independência brasileira sobre fertilizantes.
Focado em gramíneas, como milho, trigo, cana-de-açúcar, arroz e pastagens, um estudo mostrou que produtores brasileiros já economizaram por ano US$ 1,8 bilhão utilizando biofertilizantes à base da bactéria Azospirillum brasilense. Ainda de acordo com o levantamento, se 100% das áreas cultivadas com gramíneas utilizassem esses bioinsumos a economia seria de US$ 5,1 bilhão.
A pesquisa foi feita em parceria entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA), a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) e o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras e apresentada nesta terça, 24. O estudo analisou a troca de fertilizantes nitrogenados por esses biofertilizantes e observou que 36% da área cultivada com gramíneas no Brasil já fazem essa mudança, o que gera uma redução de 2,5 milhões de toneladas de nitrogênio e, consequentemente, uma redução nas emissões de carbono de 6,6 milhões de toneladas.
A pesquisadora do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras, Luana Nascimento, lembrou que esses resultados são apenas para biofertilizantes à base de uma bactéria, não levando em consideração os biodefensivos e nem outros bioinsumos de formulações distintas. “Como era um estudo com foco em fertilizantes, foram usados [no cálculo] apenas inoculantes, biofertilizantes e, em algum grau, bioestimulantes”, disse durante a apresentação.
Além dos dados atuais, a pesquisa também calculou esses valores no caso de 100% da área de gramíneas – o que corresponde a aproximadamente 154 milhões de hectares – fazerem a troca de nitrogênio por esses biofertilizantes. Considerando isso, o Brasil poderia ter uma redução de 18,4 milhões de toneladas das emissões de carbono por ano e também uma diminuição no consumo de nitrogênio de 6,9 milhões de toneladas no mesmo período.
Novos produtos podem não diminuir a dependência externa do Brasil
O estudo também analisou as patentes de novos biofertilizantes voltados para as gramíneas que foram registradas no Brasil de 2018 a 2023. Ao todo, foram patenteadas 40 tecnologias que tinham esse foco. Desse total, apenas 20% são de empresas ou grupos de brasileiros, o que pode significar um risco para os objetivos do país de se tornar menos dependente dos fertilizantes importados.
“Apesar do Brasil aparecer em segundo lugar como país de depósito, a maior parte das patentes depositadas hoje no nosso país não é de empresas ou grupos de brasileiros, o que causa algum tipo de preocupação em algum grau tendo em vista que a ideia é sair um pouco da dependência do importado e isso traz alguma questão de alerta”, pontuou Nascimento. Atualmente, o país importa cerca de 80% dos fertilizantes utilizados nas lavouras e o impacto de crises geopolíticas tornam isso um ponto de atenção para o Brasil.
Outro aspecto que a pesquisa observou foram os microrganismos que são utilizados nessas patentes de novos produtos. Segundo a pesquisadora, há uma tendência de que essas inovações apresentem uma pluralidade maior de bactérias e fungos, além de consórcios entre microrganismos. Além disso, parte dessas novas tecnologias poderão ter um efeito “dois por um”, já que esses seres também funcionam como protetores em alguma medida.
“Um aspecto interessante é que metade dessas patentes indicam que esses microrganismos também têm ação defensiva. Então estão protegendo não só a capacidade desses microrganismos de agirem como fertilizantes, mas também como defensivos”, afirmou a pesquisadora.
Fonte: Agro Estadão
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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