Tal preocupação ganhou destaque nos bastidores da caravana do Circuito Aprosoja, que esteve em Porto dos Gaúchos na última semana
A anomalia que começou a causar o apodrecimento de grãos e vagens de soja e o tombamento das plantações no médio-norte de Mato Grosso no início deste ano segue sem respostas conclusivas a respeito da causa. Os produtores da região central do estado estão apreensivos com a próxima safra. Eles temem que o problema volte a prejudicar a produtividade das lavouras e a comprometer a qualidade da produção.
Celso Bonfim Sobrinho, agricultor, precisa entregar 20 mil sacas de soja para cumprir um contrato de venda da temporada 21/22. No entanto, está enfrentando dificuldades para concluir o acordo. O problema está no volume de grão avariado, que está acima do que é permitido pela compradora. “Algumas empresas que têm o mercado interno e a exportação conseguiram direcionar os nossos contratos para o mercado interno e nos ajudaram, só que em algumas empresas e trades que não atuam nesse mercado interno existe uma dificuldade. Em média como existe soja padrão e soja avariada, a média dá entre 10%, 12%, às vezes no momento do sito, 15% de avariado, mas você vai dosando e organizando, e para conseguir alcançar no máximo 8% nos grupos de avariados, nós tivemos muita dificuldade este ano. Esse padrão é exigido quando a soja é embarcada para exportação”, exemplifica.
Nesta safra o agricultor cultivou 1.600 hectares de soja. Pelas suas contas, 25% da produtividade foi comprometida. “Especificamente o apodrecimento de vagens foi o maior prejuízo, mas no último terço da colheita o quebramento de caule resultou no acamamento da soja, na dificuldade de colheita, com muita área que fica no solo. Então foi uma colheita dificultosa e com bastante avariados por causa da umidade do solo”.
Marcelo Fontanelle, presidente do Sindicato Rural de Porto dos Gaúchos, diz que mais produtores enfrentaram problemas semelhantes. “Só lavouras novas e lugares plantados no primeiro ano que escaparam, mas do restante foi parelho. Não tem um produtor rural de soja que não reclamou. [Houve] reflexo direto no resultado da produtividade do município. Teve produtores [que perderam] 30% [da produção]. Eu tenho áreas que arrendo que caiu 50%”, conta.
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A falta de respostas conclusivas sobre o caso deixa os agricultores do município apreensivos. Tal preocupação ganhou destaque nos bastidores da caravana do Circuito Aprosoja, que esteve em Porto dos Gaúchos na última semana. De acordo com o vice-presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, a entidade trabalha para dar respostas. “Estamos debruçados desde o início da safra enquanto as lavouras estavam se desenvolvendo e o problema apareceu, seja no tombamento, seja na podridão da haste, ou também na podridão das vagens, com os pesquisadores para tentar encontrar o problema. Várias plantas contaminadas foram levadas por esses pesquisadores e vários testes e exames de DNA estão sendo feitos para diagnosticar e se chegar ao problema”, garante.
Já Fernando Cadore, presidente da Associação, destaca a necessidade de estabelecer parcerias ou novas diretrizes para comercialização da soja. “Não tem como – e eu vou bater nesta tecla a vida inteira – o produtor rural arcar com as adversidades climáticas e não ter como segregar o seu produto. Embora tenha tido muito problema de anomalia, muito grão avariado, teve muito grão entregue abaixo de 8%. A gente sabe que esse avariado não vai para o lixo, [então] onde está esse avariado, onde está a média ponderada? A gente sabe que o avariado não é descartado, é misturado, então tem que se usar bom senso. A gente pede encarecidamente para as empresas: não vamos arruinar uma relação contratual de futuro pensando só na renda financeira”, ressalta.