Preço do litro de leite já chega em algumas regiões do país a quase R$ 10; valor já subiu cerca de 30% em 2022 e não deve cair ao menos até setembro
De repente, o assunto virou o preço do leite, que disparou e chegou a patamares nunca antes alcançados, entre R$ 7 e R$ 10, acima até do litro da gasolina. A crise no setor lácteo, no entanto, não surgiu de maneira súbita. Foi se avolumando nos últimos três anos, num contexto de pandemia, alta do dólar e inflação, agravado pela seca na última safra e a guerra na Ucrânia. O custo do milho, principal prato bovino, foi às alturas, assim como o de outros itens que pesam na produção leiteira, como suplementação mineral, fertilizantes e combustíveis.
Fato é que todo esse cenário fez diminuir a oferta de leite no País em 10,3% no primeiro trimestre, ou 10 milhões de litros por dia. E os preços dispararam. Nos últimos doze meses, até maio – portanto, sem contabilizar a alta de junho – , o leite UHT em caixinha subiu 29,43% para o consumidor, os queijos 17,4%, o iogurte 20,4% e a manteiga 17,4%, todos acima da inflação medida pelo IPCA, de 11,7%.
Tradicionalmente, entre abril e julho, há uma elevação no preço por causa do período da seca, onde há menor oferta do produto. O clima mais seco prejudica a disponibilidade e a qualidade das pastagens. E, pra compensar, os produtores complementam a alimentação dos animais com ração, o que encarece.
As contas, no entanto, apertaram primeiro para o lado do produtor de leite, antes de apertar para o consumidor. Isso fica claro quando se olha para a relação de troca do leite com os insumos. Há cinco anos, o produtor precisava vender 37 litros de leite para comprar um saco de ração para o gado. Hoje, são necessários 51 litros para comprar o mesmo produto.
O depoimento emocionado vem lá de Viamão, município do Rio Grande do Sul. A produtora de leite Nilza Menezes faz desabafo explicando, na opinião dela, os motivos do preço do leite estar tão caro na prateleira do supermercado. Confira o vídeo:
Nos comentários do vídeo alguns produtores clamam por subsídios dos governos das esferas estaduais e federais – “Talvez a melhor idéia fosse o governo federal conceder um subsídio temporário até que os produtores consigam se estruturar. Todos nós sabemos que o aumento do custo dos insumos para fazer uma vaca produzir mais leite e com mais qualidade provocou essa crise no setor.” – relatou um internauta.
Nos últimos anos os produtores têm investido em tecnologias, ordenhas mecanizadas, armazenamento refrigerado, geradores de energia, nutrição volumosa e concentrada, construções de compost barn e free stalll. Segundo produtores, nada disso adiantará se as políticas de preços nos laticínios e cooperativas leiteiras não forem revistas.
“Infelizmente os produtores estão tornando-se escravos dessas grandes empresas que também são abastecidas pelas cooperativas pequenas. É inaceitável que as cooperativas paguem em média apenas 30% do valor do litro de leite que é vendido no comércio. Esse percentual não cobre mais os custos da produção de um litro.” – exclama o internauta Luiz Vaz Ferreira.
Posição da CNA
O assessor técnico da CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Thiago Rodrigues, afirma que atualmente o produtor está gastando quase a metade do que ganha apenas para alimentar os animais.
“A ração está representando 45% do custo dele. Esse é o principal ponto. O principal chamariz. Milho e soja são os ditadores do mercado, que vão influenciar nesta questão de preço. A gente tem ainda a questão do sal mineral, que também tem onerado bastante o produtor, tendo em vista a dependência do mercado brasileiro de fontes de matéria-prima de mercados externos”.
Por esses motivos, o fazendeiro que produz mais de 10 mil litros de leite por hectare/ano, viu o lucro por cada litro do alimento cair de R$ 0,19 em 2018 para R$ 0,10, em 2022. Uma queda de 47%, a pior dos últimos cinco anos no Brasil. Os dados fazem parte de um levantamento feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil a pedido da CBN.
A maior produtora de leite do país, a Fazenda Colorado, em Araras, no interior de São Paulo, produz cerca de 100 mil litros de leite por dia. O gestor de produção da propriedade, Sergio Soriano, afirma que o ideal seria que o lucro do produtor passasse de R$ 0,19 para R$ 0,30.
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“Eu acho que uma margem que deixa o produtor em uma condição de fazer os investimentos na condição que ele precisa, seria algo em torno de R$ 0,30, R$ 0,40 por litro de leite. Tirando os custos de criação. Abaixo disso, fica muito difícil do nosso negócio continuar reinvestindo”.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil defende a desoneração de impostos. A isenção do PIS e Cofins poderia provocar uma redução de até 9% no preço de itens básicos, como da ração dos animais.
Com informações da CBN e Gazeta do Povo