A alta dos grãos e a tendência de recuperação da economia brasileira mudaram para melhor o humor dos produtores rurais do Paraná.
Mais bem remunerados graças à guinada de preços diante da quebra da safra argentina, agricultores que plantam soja e milho passaram a conviver com margens menos apertadas e projetam ampliar investimentos nas lavouras no próximo ciclo, enquanto pecuaristas vislumbram uma recuperação da demanda interna para deixar para trás dois anos de retrações e baixa lucratividade.
Reunidos desde o fim da semana passada na Expo Londrina, um dos principais eventos agropecuários do Estado, grandes produtores paranaenses fazem as contas e dizem que vão aproveitar as valorizações de cerca de 15% da soja e de 30% do milho em relação ao mesmo período do ano passado para adquirir pacotes tecnológicos de ponta (incluindo insumos como sementes, fertilizantes e defensivos) para elevar a produtividade de suas plantações no ciclo 2018/19, cuja semeadura terá início em setembro.
E, mesmo cautelosos em meio às indefinições que antecedem as eleições presidenciais, esses mesmos produtores, que ainda mantêm rebanhos bovinos expressivos em meio à acelerada transformação de pastagens em terras agricultáveis, burilam seus planejamentos de recria e engorda com a esperança de que a arroba, hoje em torno de R$ 145, pelo menos se aproxime um pouco mais dos valores praticados no Paraguai, que giram em torno R$ 175. “Estamos otimistas, apesar da questão política”, resume Afrânio Brandão, presidente da Sociedade Rural do Paraná (SRP).
Na área de grãos, na qual o Paraná é o segundo no ranking nacional de produção, atrás de Mato Grosso, não necessariamente os investimentos planejados levarão a um aumento da área plantada. Conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Estado, na temporada de verão desta safra 2017/18 a soja ocupou 5,4 milhões de hectares, 3% mais que em 2016/17. Como em Mato Grosso, o cultivo paranaense de milho é cada vez menor no verão, e agora a segunda safra do cereal, conhecida como “safrinha”, está sendo semeada em 2,2 milhões de hectares, uma queda de 11% em igual comparação.
André Muller Carioba, que produz soja e milho em 2,2 mil hectares no município de São Sebastião da Amoreira, reforça que, no caso da soja, o foco é mesmo a ampliação da produtividade. Na colheita atual, que está na fase final e deverá render pouco mais de 19 milhões de toneladas, o rendimento médio é de 3.512 quilos por hectare, segundo o Deral, 4% menor que em 2016/17, e o objetivo é retomar o caminho do crescimento, desde que o clima ajude. No milho safrinha, a tendência para 2018/19 é de incremento também de área, reduzida agora em virtude dos preços baixos do fim de 2017.
Se em abril do ano passado Carioba chamava a atenção para o fato de que a volumosa produção de soja de 2017/18 estava oferecendo margens muito estreitas ao produtor, no momento ele vê o futuro com mais otimismo. “O cenário melhorou”, concorda Antonio de Oliveira Sampaio, vice-presidente da SRP. Ambos observam que, no mercado futuro, a saca de soja para entrega em abril de 2019 está sendo negociada por R$ 74, e que o custo para o plantio em 2018/19, no caso dos agricultores paranaenses mais eficientes, poderá ficar em cerca de R$ 40, embora alguns insumos estejam subindo. Sampaio ressalva, ainda, que a qualquer momento a crise entre China e EUA pode arrefecer, o que pressionaria cotações e prêmios pagos pela soja no mercado brasileiro.
“Também haverá mais investimentos na pecuária”, afirma Paulo Vilela Filho, que cria 18 mil cabeças de gado bovino no noroeste do Paraná e em Mato Grosso do Sul.
E lembra que, como a arroba está em cerca de US$ 40, muito abaixo do patamar observado no mercado internacional (US$ 85), há espaço para uma recuperação. Mas é crescente o risco de que a melhora de preços não seja tão significativa quanto gostariam os pecuaristas, que em 2017 enfrentaram reflexos negativos da Operação Carne Fraca e da delação dos irmãos Batista, controladores da JBS, maior empresa de proteínas animais do mundo.
Um deles é a própria alta dos grãos, que certamente elevará os custos das rações para a engorda dos animais – esse encarecimento já está em curso. Outro é que a oferta de bois tende a crescer. “Esse crescimento já começou, e o aumento dos abates de vacas leiteiras por causa dos baixos preços nesse segmento poderá acelerá-lo”, afirma Ricardo Rezende, diretor de pecuária da Sociedade Rural do Paraná. Como outros pecuaristas paranaenses, Rezende mantém seu rebanho em Mato Grosso, já que as pastagens do Paraná estão sendo cada vez mais convertidas em áreas de grãos.
Ele também teme que problemas nos segmentos de carnes de frango e suína, sobretudo eventuais barreiras de importadores ao frango, acabem por ampliar a oferta desses produtos no mercado doméstico e afetem o consumo de carne bovina – e, consequentemente, contenham a esperada valorização do boi.
Com informações do Valor.