Elaborar um plano financeiro e estar atento para os efeitos da crise nos demais elos da cadeia produtiva são pontos críticos para ficar de olho
A pandemia da COVID-19 vem trazendo impactos sem precedentes aos mercados e à vida de milhões de pessoas em escala global, e no agronegócio não é diferente. Apesar de ser um setor considerado prioritário para abastecimento de alimentos e combustível, muitos agentes já têm relatado perdas resultantes do isolamento social e da variação dos preços das commodities, do dólar e do petróleo, e com índices de aversão ao risco batendo recordes.
As altas taxas de contágio da COVID-19 levaram governos de vários países, incluindo os EUA, a adotar medidas de quarentena. Assim, a crise atual afeta a economia de duas formas: tanto pelo lado da oferta, já que a produção sofre interrupções por parte da mão-de-obra afastada; quanto pelo lado da demanda, pois os comércios fechados por tempo indeterminado e pessoas em isolamento afetam de forma significativa o consumo.
Em relação ao agronegócio brasileiro, estamos finalizando uma safra recorde de quase 124 milhões de toneladas de soja, e as ações de campo seguem a todo vapor para o plantio da segunda safra. A temporada de cana-de-açúcar está se iniciando, com queda de preços a despeito do mercado apertado. Em vista da grande interdependência dos mercados globais e aos aspectos relacionados à segurança alimentar, não acreditamos em uma interrupção dos fluxos comerciais.
Entretanto, nos preocupam as consequências que os preços em queda e do dólar alto trarão aos produtores para a formação de custos e definição de margens esperadas para a próxima safra (2020/21). Apenas para ilustração, a saca de soja era vendida em março de 2019 por quase U$ 20, ajustando-se a preço e câmbio de 2020, essa mesma saca vale atualmente pouco mais de U$ 17, uma queda de quase 13%.
Em vista desse cenário, nossas recomendações aos produtores cobrem três grandes tópicos: liquidez; performance e custos. Com maior aversão ao risco, os produtores devem ser cautelosos e tomar medidas efetivas de mitigação desse cenário.
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Em primeiro lugar, deve assegurar liquidez para o seu negócio, sacando linhas de crédito disponíveis e contratando linhas já compromissadas, reforçando o caixa. Em segundo lugar, tomando medidas que assegurem o funcionamento do negócio, adotando todas as cautelas necessárias para a sua segurança e sustentabilidade, de forma a não interromper a produção e seu escoamento. Por fim, estar atento aos preços dos produtos e seus efeitos nos custos de formação para a safra 2020/21, avaliando a possibilidade de margens negativas.
Sugerimos ainda algumas ações para a gestão e preservação de caixa. Em momentos como este, vale a máxima “cash is king” (o caixa é o rei). O produtor deve realizar um diagnóstico criterioso de sua condição de caixa e de necessidades de liquidez para o curto prazo. Se possível, suspender investimentos momentaneamente. Deve atualizar a previsão do caixa, analisando cenários e sensibilidade – e se aquele pagamento não entrar? E se o dólar subir mais ou cair? – e também revisar instrumentos financeiros, analisar a sua flexibilidade e possíveis fontes adicionais de financiamentos versus disponibilidade de garantias.
Na sequência, o produtor deve elaborar um plano financeiro claro e assegurar uma comunicação efetiva com os seus financiadores, em vista de uma provável retração do crédito, que fica mais difícil e mais caro. Vale estar atento para os efeitos da crise nos demais elos da cadeia produtiva, analisando o risco daqueles a quem concede crédito/prazo. Entregar e ter atrasos no recebimento pode acontecer, abrindo “buracos” no seu fluxo de caixa.
Finalmente, deve assegurar a sustentabilidade das ações tomadas, controlando suas posições financeiras em cenários que mudam constantemente; melhorando os processos de tesouraria (incluindo aqui recursos tecnológicos), e buscando a aprendizagem contínua para o ajuste dos planos de médio e longo prazos.
São ações simples, que devem ajudar os produtores e o agronegócio brasileiro a superar essa crise. Que temos certeza, será superada!
Oswaldo Junqueira Franco e José Luiz Rampazo, Economistas e sócios da Agrobrain Consultoria