“Produtor rural brasileiro merece respeito”, afirmam entidades após boicote do CEO do Carrefour

Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) rebate decisão do CEO do Carrefour de suspender compra de carne do Mercosul, acusa protecionismo e divulga nota oficial; confira o posicionamento completo

O recente posicionamento do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, de suspender a compra de carne bovina proveniente dos países do Mercosul para as lojas na França, gerou fortes reações no Brasil, especialmente no setor do agronegócio. A decisão foi atribuída a preocupações com desmatamento e impactos ambientais associados à pecuária na região. Entretanto, a declaração foi duramente criticada pela Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) e outras entidades, que enxergam na medida uma tentativa de criar barreiras comerciais disfarçadas de preocupações ambientais.

Em nota oficial, a Acrimat repudiou o que considera ser “protecionismo econômico mascarado de ambientalismo”, acusando o Carrefour e outras empresas europeias de utilizarem discursos ambientais como estratégia para enfraquecer a competitividade dos produtores brasileiros. O presidente da associação, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, destacou que o Brasil já possui um dos marcos regulatórios ambientais mais rigorosos do mundo, o Código Florestal, e que medidas como a “Lei Antidesmatamento” europeia desrespeitam a soberania nacional.

Manifestação de Mauro Mendes

O governador Mauro Mendes também se posicionou sobre o tema. Ele criticou duramente a decisão do Carrefour, sugerindo que os brasileiros apliquem a “lei da reciprocidade” ao grupo francês, boicotando as lojas Carrefour e Atacadão. “Se o Brasil não serve para vender carne para eles, então eles não servem para vender produtos franceses aqui. Essa postura desrespeitosa merece uma resposta à altura”, afirmou Mendes, reforçando a necessidade de valorização do agronegócio nacional.

Outras organizações, como a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), também demonstraram preocupação, argumentando que a decisão pode prejudicar a imagem da carne brasileira no exterior, mesmo com o país adotando políticas de sustentabilidade e rastreabilidade para combater práticas como desmatamento e trabalho escravo nas cadeias produtivas.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) reagiu à decisão do Carrefour, destacando o impacto potencialmente prejudicial ao setor agropecuário brasileiro. “O Brasil é referência mundial em práticas sustentáveis e em sistemas de rastreabilidade.” A entidade ainda enfatizou que questionar a sustentabilidade da produção brasileira compromete a imagem do país e impõe barreiras injustas ao comércio​.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) reafirmou que medidas como as do Carrefour reforçam a necessidade de articulação entre governo e setor privado. “O Brasil tem plena capacidade de provar que sua produção está alinhada com os compromissos globais de sustentabilidade”, afirmou o ministro Carlos Fávaro.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) qualificou a decisão como “uma tentativa de desestabilizar o agronegócio brasileiro por meio de narrativas infundadas.” Segundo o deputado Pedro Lupion, “ações unilaterais ignoram os avanços do Brasil em relação ao Código Florestal e à preservação ambiental.” Lupion convocou o setor a fortalecer iniciativas de comunicação e diplomacia econômica​

Parlamentares e representantes do setor agropecuário têm defendido medidas de reciprocidade nas relações comerciais. Um exemplo disso é o Projeto de Lei 2088/2023, que condiciona a importação de produtos estrangeiros ao cumprimento de padrões ambientais compatíveis com os exigidos dos produtores brasileiros. Tal proposta busca equilibrar as relações comerciais diante de ações consideradas desleais por parte de empresas e governos europeus.

Essas críticas também têm ecoado em um contexto mais amplo, relacionado ao acordo Mercosul-União Europeia, que já enfrenta resistência por questões ambientais e de direitos humanos. Entidades como a Amigos da Terra Brasil apontam que tanto o acordo quanto iniciativas individuais de empresas europeias refletem um modelo de comércio que beneficia grandes corporações às custas do meio ambiente e das populações locais, sem promover mudanças estruturais na sustentabilidade global.

Veja íntegra da nota da Acrimat:

NOTA OFICIAL: RECIPROCIDADE JÁ!

O produtor rural brasileiro está cansado de ser tratado com desrespeito aqui dentro e mundo afora.

O protecionismo econômico de muitos países se traveste de protecionismo ambiental criando barreiras fantasmas para tentar reduzir nossa capacidade produtiva e cada vez mais os preços de nossos produtos.

Todos sabem que é difícil competir com o produtor rural brasileiro em eficiência. Também sabem da necessidade cada vez maior de adquirirem nossos produtos pois além de alimentar sua população ainda conseguem controlar preços da produção local.

A solução encontrada por esses países principalmente a UE e nitidamente a França, foi criar a “Lei Antidesmatamento” para nos impor regras que estão acima do nosso Código Florestal. Ora se temos uma lei, que é a mais rigorosa do mundo e a cumprimos à risca qual o motivo de tanto teatro? A resposta é que a incapacidade de produzir alimentos em quantidade suficiente e a também incapacidade de lidar com seus produtores faz com que joguem o problema para nós.

Outra questão: Por que simplesmente não param de comprar da gente já que somos tão destrutivos assim? Porque precisam muito dos nossos produtos mas querem de graça. Querem que a gente negocie de joelhos com eles. Sempre em desvantagem. Isso é uma afronta também à soberania nacional.

O senador Zequinha Marinho do Podemos do Pará, membro da FPA, tem um projeto de lei (PL 2088/2023) de reciprocidade ambiental que torna obrigatório o cumprimento de padrões ambientais compatíveis aos do Brasil por países que comercializem bens e produtos no mercado brasileiro.

Esse PL tem todo nosso apoio porque é justo e recíproco, que em resumo significa “da mesma maneira”.

Os recentes casos da Danone e do Carrefour, empresas coincidentemente de origem francesa são sintomáticos e confirmam essa tendência das grandes empresas de jogar para a plateia em seus países- sede enquanto enviam cartas inócuas de desculpas para suas filiais principalmente ao Brasil.

A Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), Estado com maior rebanho bovino do País e um dos que mais exporta, repudia toda essa forma de negociação desleal e está disposta a defender a ideia da suspensão do fornecimento de animais para o abate de frigoríficos que vendam para essas empresas.

Chega de hipocrisia no mercado, principalmente pela França, um país que sempre foi nosso parceiro comercial, vendendo desde queijos, carros e até aviões para o Brasil e nos trata como moleques.

Nós como consumidores de muitos produtos franceses devemos começar a repensar nossos hábitos de consumo e escolher melhor nossos parceiros.

Com toda nossa indignação.

Oswaldo Pereira Ribeiro Junior
Presidente da Acrimat

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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