Com a crise iniciada antes da pandemia e com o conflito Rússia-Ucrânia, as próximas safras de grãos devem ter o máximo de organização em função das menores margens de lucro e maior custo de produção.
O planejamento faz parte da atividade agrícola e, mesmo que o produtor não possa prever o futuro, as decisões tomadas meses antes do início de uma nova safra são primordiais para evitar prejuízos e ter boa rentabilidade ao final do ciclo. No entanto, o cenário que o mundo vive hoje, de aumento no custo de produção e incertezas sobre a disponibilidade de insumos agrícolas, exige ainda mais organização.
Munida de informações, a classe produtora pode se preparar para os desafios que as próximas safras vão trazer. Com esse intuito, de apoiá-los no planejamento assertivo, o XXII Encontro Técnico Soja, realizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), iniciou na noite de ontem, em Cuiabá-MT.
O painel ‘Impactos do Cenário Global para o Agronegócio’ abriu o evento, com a presença dos especialistas Jeferson Souza, da Agrinvest, Christian Lobhauer, da CropLife Brasil e André Pessôa, da Agroconsult, que trouxeram dados valiosos sobre os principais aspectos que vão interferir na safra de grãos 2022/23. A jornalista, comentarista agro e apresentadora, Kellen Severo, moderou o painel.
Como chegou até aqui
Jeferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest, esclareceu que, na verdade, o conflito Rússia-Ucrânia foi só a cereja do bolo para o cenário atual dos insumos. “Isso começa lá atrás, com os problemas ligados à exportação da China (demanda brasileira ficou ameaçada), sanções aplicadas contra Belarus que trouxeram impacto no preço do cloreto de potássio antes da guerra. E aí vem a pandemia elevando o valor de fretes marítimos, que por sua vez também trouxe aumento no preço dos fertilizantes”, relata o especialista. Para ele, a guerra é a eclosão do problema que já estava instalado e foi potencializado.
No período de janeiro de 2021 a abril deste ano, o incremento nos preços dos fertilizantes atingiu patamares inéditos, conforme os números apurados pela Agrinvest, que serão apresentados hoje no painel ‘Cenário Global do Mercado de Fertilizantes’. As altas foram de 202% para o fertilizante granular fosfato monoamônico (MAP), 379% para o cloreto de potássio (KCL), 197% para ureia, 196% para sulfato de amônio, 266% para superfosfato simples, 256% para superfosfato triplo e 397% para nitrato de amônio. Jeferson destaca, porém, que esse incremento não é uma exclusividade do Brasil, e que nos principais polos consumidores o aumento é equivalente ou até mesmo maior.
É preciso se preparar e comprar
De forma unânime, os especialistas orientaram os produtores a decidirem pela compra dos insumos necessários nesse momento. André Pessôa destacou que usar a relação de troca como ferramenta de tomada de decisão é a melhor maneira de se orientar na aquisição. “Em termos históricos, a relação de troca estava favorável, então quem usou essa metodologia, que é um indicador de margem, comprou melhor do que quem ficou olhando só para preço (que vem subindo desde 2021) e ainda não comprou”, pontuou. Hoje, a relação de troca do pacote de insumos está quase 10 sacas por hectare mais cara que há um ano atrás.
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Pessôa explicou também que na indisponibilidade da Rússia e Belarus em suprir potássio para outros países, como o Brasil, o Canadá é a melhor opção. “Canadenses tem volume suficiente, mas tem que comprar antecipadamente”, reforçou. Ele acredita que os insumos não terão queda de preço até o início da safra, em setembro, e também por esse motivo o produtor não deve esperar. “Se não comprou até agora é porque tá seguindo a orientação de preço, então reveja seu processo de decisão porque o correto é orientação por margem, e dessa forma já teria resolvido a questão de insumos”, acrescentou.
Christian Lobhauer, da CropLife Brasil, entidade que representa as indústrias de defesa vegetal, seguiu na mesma orientação, ressaltando que o ambiente de preços não deve se regularizar tão cedo. E acrescentou que o ano eleitoral no Brasil faz com que os efeitos na agricultura tenham mais um fator de instabilidade.
“A palavra mágica para o produtor rural é planejamento, pois as margens vão reduzir. Quanto mais cedo ele conseguir comprar defensivo, fertilizante, escolher as culturas, melhor, porque será um ano de margens reduzidas, custos muito altos, instabilidade já conhecida por mudança de câmbio (quando tem eleição), e combinado com guerra, rompimento das cadeias de suprimento, tá dado o quadro de dificuldade que o produtor tem que se preparar”, aconselhou.
Fonte: Fundação MT