Nos últimos anos ferramentas permitiram que o produtor aumentasse a produtividade dentro da porteira e levasse carne de melhor qualidade para as mesas dos consumidores
“Abatemos animais mais jovens, mais pesados e produzidos em menor área. Não existe melhor conceito de sustentabilidade na pecuária de corte do que a realidade brasileira”. Assim Luciano Vacari, diretor da Neo Agro Consultoria, resumiu o sistema produtivo da carne bovina durante o Fórum Pecuária Brasil 2021, realizado nesta quarta-feira (14), pela Datagro e pelo Grupo Pecuária Brasil (GPB). O painel “Perspectivas futuras para a pecuária brasileira – Os desafios da sustentabilidade” foi apresentado no primeiro dia do Fórum, que segue com programação on line e gratuita até quinta-feira (15).
Ao lado do presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Rivaldo Borges, e do presidente do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), Caio Penido, Vacari apresentou dados sobre a evolução produtiva da pecuária de corte brasileira. Entre 1997 e 2021, por exemplo, o peso médio da carcaça bovina aumentou 2,5 arrobas, um ganho produtivo de 17%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, estes animais estão ficando prontos mais jovens. De acordo com o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), a participação dos animais com mais de 36 meses nos abates passou de 65% em 2006 para 30% em 2021 e os animais com menos de 24 meses representavam somente 2% do total abatido e hoje são 21%. Ou seja, os animais são produzidos em menos tempo.
“Esta evolução é resultado do investimento em tecnologia. Nos últimos anos, ferramentas como recuperação de pastagem, manejo sanitário, semi-confinamento e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) permitiram que o produtor aumentasse a produtividade dentro da porteira e levasse carne de melhor qualidade para as mesas dos consumidores”, explicou Vacari.
Animais mais jovens, pesados, pastos mais eficientes e redução na abertura de novas áreas são fatores que levam a pecuária de corte brasileira a ter ativos ao invés de passivos. Para Luciano Vacari, é preciso rever a conta. “Estamos falando em desmatamento evitado, ILPF, crédito de carbono e isso tem preço. Precisamos regulamentar o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) para que a informação chegue ao consumidor e a conta no bolso do produtor”.
De acordo com Luciano Vacari, o acesso aos modelos sustentáveis não é maior devido aos limites financeiros e técnicos. “Sem crédito, assistência e remuneração, a sustentabilidade fica restrita aos grandes produtores”.
O presidente da ABCZ, Rivaldo Borges, complementou falando sobre projetos da associação que buscam incluir os pequenos e médios produtores em programas de melhoramento genético. “Assim conseguimos incluir uma grande parcela de produtores que também são fornecedores de toda a cadeia”.
Para Caio Penido, além da dificuldade para acessar os pacotes tecnológicos, a burocracia e os custos também limitam a participação dos pequenos no processo de regularização ambiental.
Por fim, Luciano Vaccari destacou a importância da comunicação para mostrar tudo que vem sendo feito. “Precisamos furar a bolha, parar de falar de nós para nós mesmos. Existem muitas coisas positivas que não chegam ao conhecimento dos consumidores, seja da dona de casa ou do grande varejista europeu”.