Estudo aponta dinâmica dos preços de commodities agrícolas e as perspectivas para os próximos meses; Ipea, Conab e Cepea analisam os principais produtos agropecuários brasileiros
A nota Preços e Mercados Agropecuários, divulgada nesta terça-feira (2/5), fruto do levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), traz um acompanhamento da dinâmica dos preços domésticos e internacionais até março de 2023, suas perspectivas, e o balanço de oferta e demanda dos principais produtos agropecuários brasileiros referentes à safra 2022-2023.
O cenário atual aponta para recorde na produção de várias commodities agrícolas no Brasil, um dos principais players do mercado internacional. Os dados mostram também que há um movimento de queda nos preços domésticos e internacionais de alguns dos principais produtos, como soja, milho e trigo no primeiro trimestre deste ano, sem expectativas de alta nos próximos meses.
José Ronaldo Souza Júnior, coordenador de Crescimento e Desenvolvimento Econômico no Ipea, sinaliza que o panorama é favorável para o país. “O Ipea estimou um crescimento de 11,6% do produto interno bruto (PIB) do setor agropecuário para 2023, conforme divulgado na Carta de Conjuntura em março deste ano. E o atual cenário para o setor contribuiu significativamente para a estimativa de crescimento da economia brasileira neste ano”, assinalou o especialista.
No início do ano passado, em função do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, houve um boom nos preços das commodities agrícolas. Mas, depois, com o cenário de boa produtividade na lavoura, somada a medidas como as rotas de escoamento de safra no Mar Negro, o mercado voltou a se acalmar. Apesar disso, segundo a pesquisadora associada do Ipea e uma das coordenadoras da publicação, Ana Cecília Kreter, “a carne bovina deve ser manter valorizada no mercado internacional, tanto pela queda na oferta de concorrentes, como Argentina e Uruguai, quanto pela expectativa de alta do consumo chinês, principal destino da carne bovina brasileira”, lembra Kreter, sinalizando que isso aconteceu após o fim do último lockdown no país asiático.
Ainda sobre a carne bovina, desde 2019, o desempenho das exportações brasileiras de carne bovina vem sendo um fator preponderante na formação de preços da cadeia nacional de pecuária de corte. O último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture – USDA) projeta crescimento de 4% no volume de carne bovina exportado pelo Brasil em 2023.
No caso da soja, as estimativas indicam, mais uma vez, produção recorde no país, diante do bom desenvolvimento das lavouras e do aumento da área plantada. Segundo a Conab, a colheita deve ser 22,4% superior à safra anterior no Brasil, com produtividade registrando recordes históricos de área de plantio, produtividade e produção. Além disso, a quebra da safra argentina tem permitido a ampliação da comercialização de derivados da soja (farelo e óleo).
Ainda sobre a soja, o Indicador Cepea/Esalq Paraná registrou queda no preço do grão após a negociação antecipada de produtores apenas de pequeno percentual da safra, que provocou a elevação nas vendas à medida que a colheita avançou no mês de março. Para Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea e professora da Esalq/USP, “os prêmios de exportação de soja com base no porto de Paranaguá (PR) voltaram a ficar negativos, registrando os menores patamares para um primeiro trimestre, considerando-se a série histórica do Cepea, iniciada em 2004”. Os preços da soja no primeiro trimestre de 2023 voltaram a ser negociados nos níveis mais baixos desde 2020. O movimento de queda no preço é atenuado pela alta do volume das exportações.
O café volta a recuperar a produção no ano que seria de produção mais moderada, depois de uma safra de bienalidade positiva em 2022 com baixa produtividade no Brasil. Mas a Conab estima alta na produção do grão frente à safra passada. De acordo com Wellington Teixeira, superintendente de Gestão da Oferta da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), “o arábica, que é o tipo de café mais produzido e comercializado pelo Brasil, sinaliza recuperação da produção e aumento da produtividade, em especial nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná; com expectativa de volume 14,4% acima do produzido na safra passada de bienalidade positiva”. Com a perspectiva de alta no consumo, os preços domésticos e internacionais devem seguir com tendência de alta.
No que diz respeito ao milho, a recuperação da produção tem atendido o mercado doméstico e permitido ao Brasil ampliar os embarques para alguns parceiros comerciais, como os países asiáticos. Segundo a Conab, a previsão é de aumento de 10,4% na produção da safra 2022-2023 do milho. E no cenário mundial, o Brasil passa a liderar a comercialização do grão, após a redução de 25,2% do volume comercializado pelos Estados Unidos, que historicamente é o maior produtor e exportador mundial de milho.
Outro importante produto do setor, o trigo, que antes liderava a pauta de importação, agora levou o Brasil a ocupar a posição de 11º maior exportador mundial do cereal, graças à maior colheita doméstica. No entanto, no cenário internacional, as reduções dos estoques mundiais, pelo terceiro ano consecutivo, devem manter os preços nos mesmos patamares.
O levantamento do Ipea conta com a participação do Cepea/Esalq/USP para as análises dos preços domésticos e da Conab para as análises de produção e dos balanços de oferta e demanda domésticos.
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