Produção de soja deve bater novo recorde

Os produtores brasileiros de soja darão partida nesta semana ao plantio de mais uma safra que promete render bons retornos e resultados positivos para o país.

A expectativa é que neste ciclo 2019/20 a área de cultivo aumente e que o rendimento das lavouras também seja mais elevado. Essa combinação deverá resultar em uma colheita farta, maior que a da temporada 2018/19 e próxima do recorde de 2017/18, capaz de atender à demanda doméstica e abrir espaço para a recuperação das exportações – que, embaladas por câmbio e prêmios, serão fundamentais para sustentar as margens de lucro num cenário de custos maiores.

As estimativas disponíveis indicam que em Mato Grosso, no Paraná e no Rio Grande do Sul, que lideram a produção brasileira de soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, a área semeada vai aumentar. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea/Famato), no Estado, onde o plantio terá início no dia 15, o avanço será de 0,6%, para 9,8 milhões de hectares. No Paraná, cuja semeadura será deflagrada na quarta-feira, a expansão deverá se aproximar de 1%, para 5,5 milhões de hectares, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura. E no Rio Grande do Sul, a expansão deve beirar 2%, para 6 milhões de hectares, conforme a Emater/RS.

Nos três Estados as produtividades médias tendem a crescer. Mas, se em Mato Grosso a alta prevista pelo Imea é de 0,4%, para 56,26 sacas de 60 quilos por hectares, para o Paraná, prejudicado por intempéries em 2019, o Deral espera um forte aumento de 21%, para 49,8 sacas por hectares. No Rio Grande do Sul a alta esperada pela Emater/RS é de 4 3% para 55,3 sacas por hectares. No Rio Grande do Sul, a alta esperada pela Emater/RS é de 4,3%, para 55,3 sacas por hectares. Assim, os órgãos citados esperam para a safra 2019/20 colheitas de 32,8 milhões de toneladas em Mato Grosso, 1% acima de 2018/19 e acima do recorde de 2017/18 (32,6 milhões); de 19,8 milhões de toneladas no Paraná, 22% a mais do que em 2018/19; e de 19,7 milhões no Rio Grande do Sul, incremento de 6,8%.

Se essas projeções se confirmarem, o volume adicional dos três Estados chegará a 5 milhões de toneladas. Independentemente de outros Estados (como Goiás) e regiões produtoras como o “Matopiba” (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), estará praticamente garantido um aumento significativo da colheita nacional em relação à safra 2018/19 – que somou 115 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – e um novo recorde poderá ser batido. Em 2017/18, a produção foi de 119,3 milhões de toneladas.

Conab vai divulgar seu primeiro levantamento sobre a atual safra de grãos amanhã, mas já divulgou no mês passado que espera um aumento da área de plantio de soja no país de 1,7%, de produtividade média de 2,3 sacas por hectare e de colheita de 7 milhões de toneladas mais que em 2018/19 – ou seja, um recorde com 122 milhões de toneladas. Segundo a consultoria INTL FCStone, serão 121,4 milhões de toneladas, e conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 123 milhões. Para os EUA, que vêm liderando a produção global do grão nas últimas safras, o USDA prevê 104,6 milhões. Ou seja, além de liderar as exportações, como já vem acontecendo, o Brasil também assumirá a ponta na colheita mundial.

Esse movimento é influenciado pelas disputas comerciais entre Washington e Pequim, que taxou a soja americana – inicialmente em 25%, percentual que subiu para 30% neste mês – e ceifou a competitividade americana naquele mercado. Em parte por isso, os EUA produzirão quase 20% menos em 2019/20 (100,2 milhões de toneladas) e as exportações do país deverão se manter em patamar mais baixo do que vinha sendo observado até 2017/18, antes do início da guerra. Mesmo que o volume de compras da China esteja em queda por causa da peste suína africana, que reduz a demanda local por ração, o país dever responder por 56% das importações mundiais, conforme o USDA.

Mas nem só de volumes vivem produtores e exportadores. E é aqui que a porca torce o rabo e a estratégia de cada player faz diferença. Na bolsa de Chicago, as cotações da soja permanecem em baixo patamar, já que a demanda chinesa está mais restrita, e analistas alertam para a necessidade de se aproveitar picos de alta do dólar e de prêmios nos portos para garantir margens confortáveis, já que os custos estão maiores. De acordo com cálculos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Cepea/Esalq/USP, os preços dos principais fertilizantes derivados do fosfato e do potássio usados em lavouras de soja alcançaram em 2019 os maiores valores nominais em nove anos, com altas em relação a 2018 que, em alguns casos, chegam a 30%.

Em boa medida por causa do encarecimento dos adubos – mas também de sementes e defensivos, “dolarizados” porque o Brasil é grande importador desses insumos -, em Mato Grosso, segundo o Imea, os custo total nesta safra 2019/20 é de R$ 3.899,35 por hectare, 7,5% maior que em 2018/19. Segundo o consultor Carlos Cogo, o custo de produção da oleaginosa no Cerrado brasileiro deve garantir uma margem bruta média de 21,3% em 2019/20 e uma margem líquida (descontados juros, amortizações, depreciação) de 1,9%. No Sul, ele estima margem bruta de 46,2% e líquida de 22,8%. Na safra passada, diz, a margem bruta do Cerrado foi de 24% e a líquida de 4%. No Sul, os percentuais ficaram em 48,2% e 17,5%, respectivamente.

Victor Ikeda, analista do Rabobank, corrobora o quadro de margens mais apertadas. Nas contas do banco de origem holandesa, a margem operacional média será de 31% em 2019/20, ante 36% em 2018/19. “As últimas safras foram muito boas pela ótica de preços. Mas agora os estoques americanos e argentinos estão elevados e a demanda chinesa está menor, o que limita os ganhos nessa frente”, afirma.

As informações são do Valor Econômico.

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