Entidade que representa a maior parte dos produtores de fertilizantes disse que cerca de 70% da capacidade de produção do insumo foi suspensa. Veja!
Segundo dados divulgados pela Fertilizers Europe, entidade que representa a maior parte dos produtores de fertilizantes do continente europeu, cerca de 70% da capacidade de produção do insumo foi suspensa em função do aumento do gás natural. Os reajustes impactam especialmente as indústrias de fertilizantes nitrogenados, já que o gás natural é utilizado pelo setor como matéria-prima e fonte de energia.
A disparada nos preços é reflexo das sanções impostas à Rússia em função dos conflitos com a Ucrânia – cerca de 40% da demanda da Europa era suprida pelos russos.
Para Fernando Tallarico, CEO da Aguia Fertilizantes, a crise ultrapassa o continente europeu e pode representar um risco alimentar global. Com menos oferta de fertilizantes, os preços tendem a subir, o que impacta diretamente no valor e na disponibilidade de alimentos.
“Caso não haja investimentos na produção de fertilizantes, só nos restam duas alternativas. Ou o produtor aceita o preço do mercado e reajusta o valor dos alimentos ou diminui o uso do insumo, o que reflete diretamente na produtividade. Atualmente, a Europa tem mais condições de encarar esse reajuste, mas, e quanto aos países menos desenvolvidos? O impacto pode ser brutal”, pondera Tallarico.
Produção nacional é a melhor alternativa
De janeiro a maio deste ano, o Brasil importou mais de 14 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários, enquanto a produção nacional foi de apenas 3,2 milhões de toneladas – o que representa menos de 20% da demanda do país, segundo dados divulgados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) em agosto deste ano.
“É urgente e necessário olhar com ainda mais cuidado para o setor nacional de produção de fertilizantes. É preciso políticas e investimentos para desenvolver e expandir esse mercado. Temos um solo fértil e condições mais do que propícias para isso. Não podemos ser um dos maiores produtores agrícolas do mundo e o maior importador de fertilizantes. São questões que estão interligadas e o desenvolvimento do agronegócio brasileiro depende diretamente de investimentos em fertilizantes nacionais”, defende o executivo da Aguia.
Por que o Brasil não produz fertilizantes?
O Brasil é o terceiro maior produtor e exportador de alimentos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Apesar dessa potência, o Brasil não é autossuficiente e depende da importação de fertilizantes para chegar à colheita das suas safras.
Dos insumos agrícolas utilizados nacionalmente, 80% são importados, e 20% destes vêm da Rússia, a maior exportadora para o Brasil. Mas quais foram os motivos que levaram o país a não investir na produção de fertilizantes e ficar tão dependente do mercado externo?
Por que depender de fertilizantes?
Antes de entender os motivos que levaram o Brasil a parar de produzir fertilizantes, é necessário entender por que o país usa tanto esses insumos.
Os solos brasileiros são mais pobres em nutrientes importantes para as plantas, principalmente os da Região do Cerrado pelas suas características tropicais. Algumas das culturas mais plantadas no Brasil estão entre as plantas que mais carecem de nutrientes, como é o caso da soja.
Quando somados, soja, milho, cana-de-açúcar e algodão consomem 90% dos fertilizantes usados no País. Vale ressaltar que essas estão entre as principais commodities exportadas pelo Brasil que movem a agroindústria nacional.
Os principais nutrientes necessários para as plantas são sintetizados por nitrogênio, potássio e fósforo (NPK). O Brasil tem a capacidade e já chegou a ser grande produtor de fertilizantes, mas escolhas estratégicas e o menor custo dos produtos estrangeiros levaram à produção nacional a ficar defasada.
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Próximos passos
Pelas dificuldades tecnológicas e logísticas, pelo abandono do investimento no setor e pelas privatizações, o Brasil deixou de produzir fertilizantes em um nível relevante para a produção nacional.
Por isso, em um primeiro momento, a solução é procurar novos parceiros exportadores (principalmente o Canadá). Especialistas alertam, porém, que a falta da oferta russa de fertilizantes pode causar um desequilíbrio na balança do produto, e alguns países podem ficar sem o produto, e os que conseguirem deverão pagar bem mais caro.