Produção de carne: Focar no mercado interno ou externo?

A pecuária vive um momento de crescimento, com um mercado consumidor mais exigente e concorrentes mais determinados. Como ganhar?

O Brasil assume um papel de grande destaque frente aos seus principais concorrentes mundiais. Alcançamos a marca de maior exportador de carnes do mundo, temos também o maior rebanho comercial com um número expressivo que soma mais de 200 milhões de cabeças. Todo esse crescimento tem um preço, um retorno e um lucro que envolve dificuldades.

Diante de todas essas questões, e com grande determinação, o pecuarista tem tentado, a cada dia que passa, realizar as suas tarefas de forma magnifica. Entretanto ainda sofre com questões que não são da sua alçada resolver. Exemplos disso são: Operação carne fraca, queda no poder de compra do consumidor, eleições e uma credibilidade do produto no mercado externo.

O mercado interno passa por grandes entraves quanto ao poder de compra do consumidor e a competitividade com as outras fontes de proteína animal. Além disso, temos o grande entrave com a “cultura” de que o homem do campo vive do desmatamento, sendo que é totalmente o contrário. Segundo o Presidente da Assocon, Alberto Pessina, em entrevista concedida ao Compre Rural, durante o INTERCONF 2018 realizado em Goiânia, o mercado interno representa um consumo total de 70% da nossa produção, e deve ser visto com bons olhos pela cadeia produtiva da carne.

Ainda segundo ele, quando questionado quanto aos entraves como política e as operações como a carne fraca ele ressalta “O momento da carne fraca é um evento, não é algo normal e ele trás um impacto, mas nós já passamos esse momento”. Quando comparamos o preço da nossa carne de julho desse ano com o mesmo período do ano passado, onde tivemos o pico da carne fraca, nós já atingimos preços bem maiores esse ano. Isso confirma o que foi afirmado pelo Pessina, ou seja, foi um evento e nós já superamos.

Dentro do mercado interno nós temos, atualmente, uma estabilidade no preço da arroba e no mercado da carne. Entretanto é preciso entender que ele continua com uma demanda sem viés de alta e ainda sentido de crise. E diante disso é que chegamos ao ponto que mais se fala “MERCADO EXTERNO”, ou seja, exportação é o grande diferencial esse ano.

“Quando olhamos o mercado externo, nós tivemos um primeiro semestre muito bom com preços um pouco acima, então não foi o preço e sim o volume. Quando você vende mais carne com mesmo preço, isso quer dizer que a sua demanda por esse produto está boa. Então, o Brasil está tendo uma demanda excelente e nós estamos vendendo muita carne pra fora com o mesmo preço. Onde está a diferença? No câmbio. O custo da arroba, em dólar, esse ano está mais barato que o custo da arroba no ano passado. Pra indústria, ela está com mais margem já que ela compra um boi em dólar mais barato e exporta ele com o mesmo preço”.

Essa analise reforça a situação atual da industria do mercado interno com uma margem mais apertada quando comparado as margens da industria exportadora. Para se ter ideia, apenas 3 indústrias exportadoras representam quase 80% do mercado de exportação, tidas como as maiores.

Uma análise que o Pessina ainda levantou dentro do nosso bate-papo, foi em relação a grande importância que o mercado externo representou esse ano. Quando enxergamos o impacto que esse mercado trouxe para o nosso economia, precisamos começar a pensar políticas e incentivos por parte de toda a cadeia e principalmente das instituições para realizar incentivos para que indústrias menores também tenham a capacidade de entrar nesse mercado e agregar valor.

Ele ainda ressalta alguns pontos como “O que nós podemos fazer para ganhar esse mercado externo?”. Quanto ao consumidor final ele aborda que ” Precisamos respeitar o consumidor. Criar regras para que o consumidor internacional se sinta bem. Nós somos vendedores de carne barata no mundo. Para que chegar a carne gourmet, nós precisamos dar credibilidade e criar a confiança. Isso são processos dentro do processo de produção que vão desde você rastrear até você fazer dentro da indústria um processo de tipificação da sua carne e entregar aquilo que você está prometendo. Se você não tem um processo de classificação e de tipificação você não consegue garantir nada, pois você não demonstra isso as pessoas. Então são passos que precisam ser mexidos nesse processo, nessa construção para que a gente possa conquistar mercados melhores e mais caros lá fora.”

Nós somos grandes exportadores, mas em mercados baratos

“Queremos entrar nos melhores mercados? Eles estão demandando, mas eles ainda olham o Brasil com o pé atrás. Pra gente entrar depende de todos nós”. O produtor também se encaixa dentro de toda essa cadeia da carne. Temos um grande exemplo que é a Austrália. Ressaltamos que nós precisamos de responder as regras e como disse o o Pessina ao final da entrevista, “Quanto mais expostos a essas regras, mais nós temos que responder a elas. Ou seja, é uma oportunidade e um desafio que possui um risco“.

Alberto Pessina

Agradeço a grande oportunidade de mais uma vez poder conversar com o amigo Alberto Pessina, que, na minha opinião, é um dos ícones que a pecuária de corte possuí. Grande pessoa, com grandes idéias e um trabalho magnífico dentro da cadeia produtiva da carne. Ele que foi presidente da Assocon e que trás, em breve, um sistema que vai auxiliar o produtor a realizar a sua análise de mercado, o Pecuária de Decisão.

Exportações gera liquidez na pecuária de corte

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