Em pesquisa da Emater-RS observou-se que a “Falta ou deficiência de mão de obra” foi o principal desafio citado pelos produtores; Veja
Na rotina das fazendas leiteiras o dia começa cedo e o trabalho vai longe. Muito trabalho e poucos colaboradores, nem sempre por opção do produtor. A escassez de mão de obra nas fazendas leiteiras, qualificada ou não, é realidade atual que tem desafiado até o mais experiente dos produtores.
Antes, famílias eram formadas nas fazendas e ali construíam sua vida, criavam seus filhos que, possivelmente, assumiriam cargos ao crescerem. Mas a realidade atual é outra. Várias fazendas enfrentam uma alta rotatividade de funcionários, que impacta diretamente na produtividade e qualidade do leite. Além de dificultar a expansão e perpetuidade do negócio.
Em pesquisa realizada pela Emater-RS em 2021, divulgada no Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite, observou-se que a “Falta ou deficiência de mão de obra” foi o principal desafio citado pelos produtores – tendo mais relevância do que o descontentamento com a remuneração da atividade. Na terceira posição, também destaca-se a dificuldade enfrentada para sucessão familiar, conforme podemos ver abaixo.
Tabela 1. Dificuldades enfrentadas pelos produtores para a produção e comercialização de leite
E de quem é a culpa?
Por um lado, temos que reconhecer que as condições de trabalho e compromisso com horários podem ser fatores negativos, por outro, pontos positivos como salários que têm apresentado aumentos, somado à oferta gratuita de moradia (muitas vezes para toda a família e sem contas como água e luz para pagar) além do leite para o consumo familiar, oferecem oportunidade de qualidade de vida aos que atuam na cadeia leiteira.
Não há um culpado. O que há é falta de método para contratação, treinamento e combinar as entregas. Sem isso alinhado é basicamente contar com a sorte de encontrar alguém bom, que entenda o que o produtor quer e que faça isso corretamente todos os dias. É possível? Sim, em 1% dos casos. O resto, em geral, é o sofrimento de ambas as partes.
Causas do sumiço dos trabalhadores
Segundo o médico veterinário Pedro Luppi, o problema se inicia na contratação. “Muitas fazendas ainda contratam por indicação, sem ter o conhecimento se o perfil do funcionário é compatível com a função.“ Pedro está correto na sua afirmação, pois se algo teve um resultado ruim é importante olhar com cuidado o começo do processo, pois provavelmente a falha inicial se entende até o fim. Em geral a preocupação é baixa sobre se o funcionário tem por exemplo um perfil mais metódico e analítico que é crucial para um cargo de tratador, por exemplo. Ou se o responsável pelo bezerreiro é extremamente higiênico e observador.
Mariana Brant, também veterinária, concorda com Pedro, “as fazendas pecam não só na contratação, mas também na motivação.” E ressalta que é preciso entender o que o funcionário busca na atividade e o que valoriza. A maioria dos empregadores acreditam que seja apenas o salário, mas nem sempre é assim, alguns valorizaram o ambiente de trabalho, condições e resultados que alcançaram.
Além do problema inicial, a escassez de mão de obra nas fazendas leiteiras pode ser atribuída a uma combinação de fatores que afetam a atração e retenção de trabalhadores nesse setor. Algumas das principais causas incluem:
Processo seletivo: Em geral, fazendas não contam com um método que analise de fato os candidatos. Os produtores na maioria das vezes estão com tanta pressa de contratar que não gastam tempo conversando com o candidato, tentando extrair respostas, experiências anteriores, etc. Há risco? Sim, mas estes serão infinitamente maiores se não houver conversa.
Trabalho bastante exigente: o trabalho em uma fazenda leiteira é fisicamente exigente e muitas vezes envolve longas horas de trabalho, incluindo fins de semana e feriados. Isso pode tornar o emprego menos atrativo para algumas pessoas. Além do que muitas fazendas não dão condições de trabalho adequadas. É comum haver máquinas quebradas, cabos de vassoura curtos e outros itens que podem parecer detalhes mas que dificultam muito o trabalho diário.
Falta de qualificações e treinamento: muitas vezes o trabalho requer habilidades específicas, como conhecimento sobre manejo animal, ordenha e operação de equipamentos agrícolas. A falta de treinamento adequado ou qualificações específicas pode limitar a disponibilidade de trabalhadores, lembrando que para um treinamento ser eficiente, primeiramente é necessário ter as tarefas e processos organizados para que o funcionário saiba exatamente o que se espera dele.
Envelhecimento da força de trabalho: à medida que os trabalhadores mais experientes se aposentam, falta reposição da mão de obra. O que pode ser resultado da falta de interesse de jovens em entrar nesse setor, já que a geração atual tem muito mais atração para trabalhar na cidade e viver com mais facilidades proporcionadas pela vida urbana.
Condições de trabalho: é um fator primordial na atração e retenção de trabalhadores. Fatores como a falta de moradia adequada, falta de benefícios e condições de trabalho difíceis podem afastar potenciais trabalhadores.
Falta de reconhecimento e valorização: o trabalhador muitas vezes não recebe o reconhecimento e valorização adequados, e nem mesmo sabem o impacto positivo de suas ações nos resultados da fazenda, como melhora na qualidade do leite e na produtividade do rebanho. Este é um item muito sensível pois aparentemente é supérfluo ou adiável mas para todo tipo de mão de obra é crucial saber que o trabalho diário faz diferença no resultado final do negócio.
Qual a solução?
O leite é produzido pelas vacas, mas quem cuida são pessoas, por isso uma boa gestão de pessoas e da fazenda é fundamental para achar soluções e colocá-las em prática. Nesse aspecto, a capacitação dos gestores e demais líderes da fazenda é muito importante, para que se tenha maior efetividade nas contrações e melhor engajamento da equipe da fazenda.
Outro ponto principal é a inclusão de tecnologias no campo, que cada vez mais aprimoradas podem reduzir o número de funcionários necessários. Ainda assim, é preciso pessoas para desempenharem as funções do dia a dia, mesmo nas fazendas altamente qualificadas. E ainda mais importante é a capacitação dessas pessoas para atuação com as novas tecnologias e os processos da fazenda.
O investimento em estrutura, treinamentos e qualidade de vida dos funcionários auxiliam na retenção na mão de obra. Pedro Luppi relata que algumas das fazendas que atende além do treinamento e escola na fazenda, há “plano de carreira para o colaborador, assim ele sabe onde vai chegar”, além de saber quais os passos necessários para isso.
Além disso, o ambiente de trabalho é muito importante para garantir a qualidade de vida dos colaboradores. “Tratar bem da família, e não só da mão de obra, ajuda a reter o funcionário.”, afirma Pedro. Moradia, educação para as crianças, facilidade de adquirir alimentos, internet, são pontos de atenção para garantir a adequação da família e manter a satisfação dos colaboradores.
Sem a correta gestão, preocupação com a qualidade de vida dos funcionários, treinamento e gestão de processos, a rotatividade da mão de obra dentro das fazendas leiteiras continuará sendo um problema dentro da atividade. Considerando tudo isso, a atração e retenção de mão de obra passa obrigatoriamente por uma gestão dedicada e que se avalia diariamente.
Fonte: Milk Point
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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