Se as paralisações dos caminhoneiros já causam estragos nas prateleiras dos supermercados, para os produtores nacionais de alimentos, os prejuízos são irreparáveis, segundo representantes do setor.
Existe o temor de que se repita o que aconteceu em 2005, quando os bloqueios nas estradas causaram um prejuízo de R$ 1 bilhão, por falta de abastecimento de combustíveis e insumos, perda de produtos perecíveis, mortalidade de animais e suspensão de atividades de frigoríficos.
— Os prejuízos do movimento grevista aos produtores e à economia nacional são irreparáveis. Por mais que o movimento seja seja legítimo, entendemos que é importante que a liberdade de ir e vir seja garantida, pois isso prejudica a segurança alimentar. Várias plantas e frigoríficos fecharam as portas e haverá impacto tanto no mercado doméstico como na exportação — alertou a superintendente técnica adjunta da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Natália Fernandes.
Entre as preocupações do setor, está o escoamento da safra de grãos. A colheita do milho “safrinha”, por exemplo, vai começar nos próximos dias. E muito produtores de soja, que se planejaram para escoar a produção a fim de disponibilizar os armazéns para a chegada do milho, estão impedidos pela greve.
— As rações não estão chegando aos animais, como aves e suínos, e o abate também está comprometido. Quando falamos em proteína animal, são produtos perecíveis, que não podem ser armazenados por muito tempo. O leite, por exemplo, não pode ficar no tanque por mais de 48 horas. E já há descartes de produtos nas próprias estradas, como batatas, frutas e hortaliças — disse a técnica.
Segundo a CNA, além da questão do impacto dos aumentos dos preços dos combustíveis sobre o frete e, por consequência, a produção nacional, as condições das estradas não ajudam. Embora o modal rodoviário represente 61,1% da matriz de transporte, 61,8% da extensão das rodovias brasileiras têm algum tipo de deficiência na pavimentação, na sinalização ou na geometria da via.
Os técnicos da entidade afirmam que a má condição das rodovias brasileiras reduz a segurança viária e aumenta o custo de manutenção dos veículos. Com isso, cresce o consumo excessivo de combustível, lubrificantes e outros insumos.
Dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostram que, nas piores rotas, o desperdício médio de combustível é de 5%. Este percentual corresponde a um consumo desnecessário de 832,30 milhões de litros de diesel.
Por O Globo