Fator fundamental para a queda dos preços internacionais é a redução das compras em grandes países produtores de grãos, como Brasil e Estados Unidos.
Depois da forte valorização de preços nos últimos dois anos, sobretudo desde 2021, o segmento de adubos vislumbra o início de um ciclo de baixa das cotações internacionais. O movimento de alta que afetou os três principais grupos de nutrientes básicos para as fórmulas de fertilizantes – nitrogenados, fosfatados e potássicos (NPK) – vem perdendo força desde abril, como reflexo, sobretudo, da redução das compras dos produtores mundo afora.
A ureia, o nitrogenado mais popular entre os agricultores brasileiros, caiu 35% de lá para cá. A tonelada do produto, que bateu recordes históricos e chegou a US$ 1 mil no início de abril, já caiu para US$ 648 na semana passada, segundo a consultoria StoneX. O MAP (fosfatado) recuou 20% entre abril e o início deste mês, para US$ 1.078 por tonelada, e o potássio, nutriente do grupo com a oferta mais restrita, cedeu 3%, para US$ 1,1 mil a tonelada. Os preços são referência no porto no Brasil.
Fator fundamental para a queda dos preços internacionais é a redução das compras em grandes países produtores de grãos, como Brasil e Estados Unidos, avaliam analistas. Segundo a StoneX, os agricultores americanos reduziram em 40% as importações de potássio e em 27% as de fosfatados (MAP e DAP) de agosto de 2021 a abril de 2022. Apenas as compras de ureia cresceram, 21%.
“Cabe destacar que na última grande crise no mercado global de adubos, em 2008 [período de altas históricas], os EUA cortaram o uso de fósforo em 30% e o de potássio em 40%”, lembra Carlos Cogo, consultor da Cogo Inteligência em Agronegócio. Os preços do insumo vinham subindo nos últimos dois anos por um desequilíbrio entre oferta disponível e aumento da demanda nos principais países produtores de grãos.
Além disso, problemas geopolíticos como a guerra na Ucrânia e as sanções econômicas que Estados Unidos e União Europeia impuseram em 2021 a Belarus – que, como a Rússia, é um importante fornecedor -, intensificaram as altas e criaram risco de desabastecimento. “Por causa desse risco, nossos clientes saíram às compras [após o início da guerra] mesmo com os altos preços”, disse Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da StoneX.
Apesar disso, os agricultores do Brasil, mercado altamente dependente de fertilizantes importados, compraram menos adubo neste ano que em safras anteriores. As commodities que abastecem o caixa das fazendas se valorizaram, mas os preços do insumo subiram mais. Para evitar maior impacto sobre as margens, muitos produtores resolveram adubar menos as lavouras e aproveitar o banco de nutrientes do solo para manter a produtividade.
Ademais, mesmo com a continuidade da guerra, a Rússia está conseguindo exportar adubos, o que contribui para o recuo recente das cotações. “Os fertilizantes não entraram na lista de sanções de EUA e UE à Rússia. Os embarques russos, embora abaixo do normal, estão acontecendo”, diz Cogo. “Os riscos de desabastecimento no Brasil diminuíram substancialmente”. Rússia, Belarus e Ucrânia, vale lembrar, representam 40% do comércio global de nitrogenados e potássio.
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A redução de demanda global por adubos pode marcar o fim do atual ciclo de alta de preços, acreditam os agentes. Para Cogo, os recuos das últimas semanas tendem a se acentuar no curto e médio prazos. “Mas devem seguir ocorrendo de forma gradual”, comenta.
Para ele, os preços dos nitrogenados devem continuar recuando neste mês. Os dos fosfatados, por sua vez, podem antecipar baixas antes previstas para agosto e setembro, e o potássio deve ter queda mais forte a partir de agosto. Mello, da StoneX, acredita que o recuo a patamares anteriores aos do ciclo de alta se intensificará em 2023, a partir da acomodação da atual crise geopolítica e do retorno da China ao mercado.