Os preços tiveram três momentos distintos no ano. O primeiro, de janeiro a abril; o segundo, de maio a setembro; e o terceiro, de outubro em diante.
O mercado brasileiro de trigo encerra o ano de 2023 com preços expressivamente mais baixos. A variação da média nacional é negativa em 26,5% na comparação com o final do ano passado. No Rio Grande do Sul, a retração anual é de 16,9%. No Paraná, 23,5%.
Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Elcio Bento, a queda menos intensa no Rio Grande do Sul em relação ao Paraná se explica pelos movimentos da produção em ambos os estados. “Entre janeiro e agosto, o mercado nacional é regido pelo quadro de abastecimento do ano comercial 2022/23 do trigo, com o produto colhido em 2022. Somente no último quadrimestre, os preços refletem com maior intensidade os dados de oferta e demanda da temporada 2023/24”, disse.
Nos primeiros sete meses de 2023, os gaúchos estavam negociando uma safra que ultrapassou 6 milhões de toneladas. O consumo da indústria local é inferior a 2 milhões de toneladas. No Paraná, a produção da temporada 2022/23 foi duramente castigada pelo excesso de chuvas. Cerca de 50% da produção do estado não atingia o padrão de qualidade tipo 01, além de outros indicadores reológicos ruins. A moagem nesse estado é próxima a 3,8 milhões de toneladas.
Os preços tiveram três momentos distintos no ano. O primeiro, de janeiro a abril; o segundo, de maio a setembro; e o terceiro, de outubro em diante.
Janeiro a abril
“No primeiro, ainda sob os reflexos da produção recorde gaúcha e da quebra paranaense, os preços domésticos seguiram uma dinâmica própria e com baixa correlação com as paridades de importação e exportação. Com a Argentina pouco presente no mercado internacional, o grande excedente de grãos no Rio Grande do Sul foi uma alternativa viável para os moinhos paranaenses. Esse movimento interno foi potencializado pela queda acentuada das cotações internacionais. Entre janeiro e abril, o trigo negociado na Bolsa de Chicago recuou 24%. De um lado, a janela da exportação ficou pouco atrativa para os gaúchos. Por outro, o Paraná, principal polo moageiro do país precisava comprar. Sua principal fonte internacional, a Argentina tinha pouco trigo. E esse pouco trigo estava caro”, explicou. O RS servia de referência para a formação de preços no PR.
Maio a setembro
No segundo período, de maio a setembro, os preços no Paraná caíram 46,3%. No Rio Grande do Sul, a queda foi de 33,8%. “As cotações paranaenses no início desse segundo período eram R$ 300 por tonelada superiores às gaúchas. No final, chegaram a ser R$ 120 por tonelada inferiores. Nesse segundo momento do mercado em 2023, os preços internacionais seguiam em baixa e, mesmo com os temores de uma eventual quebra da safra nacional devido ao El Niño, a previsão era de uma colheita com potencial para atingir 12 milhões de toneladas”, disse.
O analista lembra que o Paraná havia iniciado a colheita de um montante previsto de 4,8 milhões de toneladas, o que atenderia a demanda estadual com folga. No Rio Grande do Sul, o potencial estimado era de 5,2 milhões de toneladas. Menos que os 6,01 milhões de toneladas da safra anterior, mas ainda gerando um excedente próximo a 3 milhões de toneladas.
“Como o Paraná não precisaria comprar, a torneira da exportação teria que ser aberta para competir com trigos baratos no exterior. O mercado doméstico se ajustou a essa realidade. O trigo do Paraná, na segunda quinzena de setembro chegou a ser o mais acessível do mundo. As vendas externas só não ocorreram porque o porto de Paranaguá (PR) não conseguia absorver nem mesmo a safra de verão. As chuvas dificultavam as operações e os embarques estavam atrasados”, disse.
De outubro em diante
O terceiro momento e último momento, iniciou quando a possibilidade de quebra de safra devido ao excesso de chuva em anos de El Niño passou a ser uma realidade. O Paraná colheu 3,65 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul, 3,33 milhões de toneladas.
“Com o potencial produtivo indo por água abaixo, em poucos dias, o mercado se distanciou do nível de paridade de exportação e colou no de importação”, disse o analista. No Rio Grande do Sul, por exemplo, na média de outubro/23 os preços indicados no interior do estado ficaram em R$ 1.050/tonelada. Olhando-se para a paridade de exportação, para chegar ao porto de Rio Grande/RS ao mesmo preço que o russo estava saindo do Mar Negro, também na média de outubro/23, era necessário vender a R$ 1.021/tonelada no FOB interior. Ou seja, as cotações domésticas estavam apenas 2,8% da linha de paridade com o trigo russo.
Já em meados de novembro, a indicação no FOB interior ficava por volta de R$ 1.250/tonelada. A paridade de exportação em relação ao cereal russo seria de R$ 945/tonelada. O spread subiu para 32%. Fazendo a conta de paridade de importação – utilizando-se como referência a aquisição de trigo argentino de safra nova – na média de outubro, o produtor poderia vender a R$ 1.295/tonelada para chegar ao mesmo preço que o Argentino no CIF de Canoas, o preço de mercado (R$ 1.250/tonelada) era apenas 2% inferior à paridade com o trigo do principal fornecedor brasileiro no exterior.
“Quando essas contas são feitas para o Paraná, na média de outubro, o preço interno era 4% inferior à paridade de exportação e 26% superior à de importação. Em novembro, estava 24% acima da paridade de exportação e 4% acima da paridade de importação. Em ambos os estados fica claro que os preços migraram rapidamente da paridade de exportação – referência para mercados com excesso de oferta interno – para a de importação – que baliza mercado com escassez de abastecimento doméstico. Assim que os preços atingiram a paridade de importação, a escalada de alta cessou.
A partir dessa linha, a opção de compra internacional voltou a ser uma realidade. O analista projeta que, como a Argentina deverá voltar a ser agressiva no mercado internacional, a tendência para os meses de 2024 que serão regidos pelos números da temporada 2023/24 é de que as cotações domésticas sigam balizadas pela paridade de importação. Nesse cenário, o comportamento do câmbio e dos preços internacionais do trigo voltarão a ser variáveis extremante importantes para a formação de preços.
Fonte: Agência Safras
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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