Pesquisas – ainda em andamento, apontam para um cenário de oferta limitada de leite no campo devido ao clima seco e à elevação dos custos de produção.
Pesquisas – ainda em andamento – do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, apontam para um cenário de oferta limitada de leite no campo devido ao clima seco e à elevação dos custos de produção. Assim, a expectativa é de que o movimento de valorização ganhe força já no pagamento de maio (que se refere à captação de abril), de modo que, na Média Brasil, os preços devam ultrapassar o patamar de R$ 2,00/litro.
Como é de se esperar, o menor volume de chuvas nesta época do ano diminui a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando negativamente a alimentação volumosa do rebanho e a produção de leite. Com a oferta reduzida, observa-se a elevação sazonal dos preços no campo entre março e agosto.
Contudo, neste ano, a seca tem sido mais intensa, atingindo com gravidade importantes bacias leiteiras do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País. Além das pastagens, a falta de chuvas tem diminuído também a produtividade das lavouras de milho e a qualidade da silagem de produtores de leite. Para agravar a situação, os custos de produção vêm registrando altas consecutivas. Insumos importantes para a produção de volumoso, como adubos e fertilizantes, são importados, e a desvalorização cambial tem elevado as cotações desses produtos.
Ao mesmo tempo, os custos com concentrado continuam elevados, refletindo a menor disponibilidade de grãos no mercado interno (ver seção Custos, na página 7, e seção Milho e Farelo de Soja, na página 9). Assim, mesmo com a valorização do leite no campo, a margem do produtor tende a continuar prejudicada. A dificuldade em manter a atividade rentável tem levado muitos produtores a aumentar o abate de vacas, uma vez que as cotações no mercado de corte estão atrativas.
Contudo, o descarte de vacas é um indicador de que a produção de leite deve demorar a se elevar, mesmo diante do estímulo dos preços, o que deve reforçar o cenário de limitação da oferta nos próximos meses.
Além disso, como já se tem observado, a desvalorização do Real frente a outras moedas tem limitado as importações de lácteos, favorecendo a maior competição entre indústrias pela matéria-prima (ver seção Mercado Internacional, na página 6). Como reflexo, o preço do leite no mercado spot de Minas Gerais subiu 1,7% entre a primeira e a segunda quinzena de abril e mais 7,5% na primeira quinzena de maio (atingindo a média de R$ 2,20/litro).
A oferta limitada de leite impactou negativamente os estoques de derivados lácteos nas indústrias e atacados em abril. A pesquisa do Cepea realizada com apoio financeiro da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) mostrou que os laticínios têm conseguido repassar a alta da matéria-prima aos derivados.
No entanto, o menor poder de compra do consumidor e a pressão dos canais de distribuição limitaram maiores valorizações (ver seção Derivados, na página 5). É importante frisar que o aumento do desemprego, a elevação da inflação e o avanço da pandemia têm fragilizado a demanda, o que pode frear a intensidade da valorização do leite no campo, mesmo no contexto de baixa disponibilidade e custos elevados.
Pelo 20º mês consecutivo, abril confirma tendência de alta dos custos
O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira registrou alta de 0,48% em abril, o 20º mês consecutivo de aumento nos custos de produção do setor. No acumulado de 2021, a “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP) já subiu 8,01%. Em abril, o estado de Goiás foi o que registrou a maior elevação nos custos, de 1,05%. Essa alta esteve atrelada às valorizações dos suplementos minerais e dos concentrados.
Na “média Brasil”, a suplementação mineral também foi o grupo que mais se elevou no mês, com alta de 1,26%. Segundo colaboradores do Cepea, a alta nos preços dos suplementos minerais refletiu a valorização do fosfato, matéria-prima importada e componente importante das misturas minerais.
Até o momento, os suplementos minerais acumulam alta de 6,57% no ano, e os estados que apresentaram as maiores elevações foram GO (+4,22%), Bahia (+2,37%) e Minas Gerais (+2,47%). O produtor de leite também perdeu poder de compra em relação ao milho – pelo quarto mês seguido. Em abril, foram necessários 48,97 litros de leite para a aquisição de uma saca de 60 kg do cereal, a relação de troca mais desfavorável ao produtor desde janeiro de 2011. Esse cenário é resultado da forte valorização do cereal em relação à receita do produtor de leite.
Os preços dos alimentos concentrados subiram 0,35% em abril e 7,79% no acumulado do ano, diante da valorização das matérias-primas no mercado. Em abril, o Indicador ESALQ/BM&FBOVESPA – Paranaguá da soja teve média de R$ 177,10, aumento de 2,95% em relação à de março de 2021. Para o milho, o Indicador ESALQ/BM&FBOVESPA teve média de R$ 97,15, alta de 5,81% na mesma comparação.
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No dia 1º de maio, começou a primeira etapa da vacinação de 2021 contra febre aftosa nos estados onde a vacina ainda é obrigatória. O mês é geralmente marcado pela movimentação de produtores nas casas agropecuárias, que aproveitam para repor os estoques de medicamentos das propriedades.
Os custos com esses insumos também subiram em 2021, e, na “média Brasil”, os grupos dos medicamentos que mais se valorizaram no período foram os de controle parasitário (+6,56%) e os antimastíticos (+5,58%).
Fonte: Cepea