Nos últimos 12 meses, valor ao consumidor subiu mais de 12% e, em fevereiro, alta foi acima da inflação média para o mês. Entenda os motivos.
O preço do ovo subiu. Nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, a variação foi de 12,28% ao consumidor, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só em fevereiro, a alta média no país foi de 2,79%, bem acima da inflação média no mês (1,01%) e chegando próxima dos 9% em algumas regiões do país.
“Desde 2020, verifica-se um aumento do consumo do produto, após o início da pandemia da COVID-19, relacionado à queda no poder aquisitivo da população”, diz, em comunicado Bernardo Viscardi, analista da pesquisa do IBGE. Os preços mais altos atingem toda a cadeia produtiva, mesmo com níveis de produção também elevados. No ano passado, foram 3,98 bilhões de dúzias de ovos, um recorde.
No campo, indicadores de preços tem mostrado valores recordes pagos ao produtor, que podem refletir nos preços pagos pelo consumidor final. A avicultura de postura vem sentindo a alta nos custos de produção. E a demanda está maior, particularmente, nessa época, período religioso da Quaresma, quando muitas pessoas restringem o consumo de carnes.
Só na semana passada, de acordo com o Cepea, a caixa de 30 dúzias de ovos brancos retiradas na granja, que estava em R$ 106,76 em janeiro, passou a R$ 144,08 na média de março até o último dia 11 de março. O valor é 14,6% maior que a media parcial de março de 2021 e é recorde real, descontada a inflação. A mesma caixa do ovo vermelho subiu de R$ 115,95 em janeiro para R$ 165,53 até o dia 11 de março, 12% a mais que o praticado em março de 2021, igualmente recorde real.
“Os preços estão em alta desde fevereiro e na última semana renovaram recorde de preços reais. Primeiro, porque estamos em período de Quaresma, na qual as vendas tradicionalmente aumentam””Juliana Ferraz, analista do mercado de ovos do Cepea.
A pandemia foi outro fator que levou ao aumento do consumo de ovos, em razão no aumento do preço das carnes. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) o consumo per capita passou de 230 ovos por ano em 2019 para 251 em 2020 e 254 em 2021. As exportações também têm crescido. De acordo com a ABPA, de janeiro a fevereiro já foram exportadas 5 mil toneladas de ovos.
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Luís Rua, diretor de mercado da ABPA, afirma que o recorde de produção de ovos em 2021 é reflexo dos investimentos feitos pelo setor. Por outro lado, ele explica, há dois anos o produtor vem sofrendo aumento crescente de custos de produção. Nas contas da entidade, o preço do milho e do farelo de soja, usado na ração das galinhas, cresceu cerca de 150% em um ano e meio, além de uma alta de 80% no custo das embalagens. “É um cenário de custo que a avicultura nunca tinha enfrentado”, afirma.
Os custos de produção prejudicaram o capital de giro dos produtores, que não estão conseguindo agora produzir ovos no mesmo ritmo do consumo. “Muitos produtores não estão conseguindo produzir o que produziam. Os preços aumentaram, mas ainda assim em nível bastante menor em comparação aos custos de produção”, explica Rua. “Se olhar só agora, o aumento estava represado e precisaria aumentar ainda mais.”
Edival Veras, vice-presidente da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe) e presidente do Instituto Ovos Brasil (IOB), reforça a avaliação. “Esses custos vêm crescendo nos últimos dois anos e o setor de ovos vem enfrentando há 17 meses uma margem negativa. E não apenas o custo do milho e da soja, assim como o peso do câmbio que eleva o custo de vitaminas, minerais, que são dolarizados. A gente não vem conseguindo repassar esse preço ao consumidor”, afirma.
Segundo Veras, essas pressões levaram a uma redução de produção nos últimos dois meses. E, apesar de os preços alcançarem um recorde, ainda abaixo do necessário para deixar uma margem positiva ao produtor. “Não é choro de produtor. É realmente isso o que vem ocorrendo. O que a gente espera é que a gente consiga ter um equilíbrio de produção, de custo, para que a gente não desencadeie um incremento de inflação nem prejudique o consumidor.”
Antonio Teixeira Dourado, produtor na cidade de Iacri, na região de Bastos (São Paulo), o maior pólo produtor do Brasil, conta que enfrentou margens negativas por 22 meses. A sua Granja Dourado, com 70 mil aves, é considerada de pequeno porte, produz ovo de galinha há 14 anos. Ele diz que a situação está crítica como nunca esteve. Os custos levaram a granja a reduzir sua produção em 20% neste ano em relação ao ano passado. Agora, com os aumentos de preços dos ovos, ele explica que conseguiu uma melhoria pequena na margem. Mas frente à alta dos preços do combustível e dos fertilizantes, que deve encarecer ainda mais o preço da soja, do milho e do frete, a solução é repassar isso para o consumidor.
Juliana Ferraz, do Cepea, avalia que esse processo parece ter chegado em seu limite na segunda quinzena de março. “Tem certo momento que consumidor não está disposto a pagar pelo produto e isso acaba travando o mercado, limitando repasse de novas altas. Até a semana passada, o mercado estava muito bem fazendo reajustes de preços, mas nessa semana provavelmente vão ter mais barreiras de fazer novos reajustes por conta dificuldade de absorção de alta no varejo. E o poder aquisitivo da população fica menor na segunda quinzena do mês e influencia o consumo”, avalia a pesquisadora.
Para Rua, da ABPA, essa talvez seja a solução menos pior. Para ele, é melhor o consumidor pagar mais agora, do que correr o risco de uma maior queda na produção e a falta de ovos nos supermercados. “É uma cadeia longa. Se não houver remuneração agora para o produtor, vai empatar esse custo e mais produtores vão abandonar a atividade e pode haver falta de produto lá na frente ou preços muito altos. É uma necessidade de reposicionamento, dentro das estratégias para as empresa. Uma necessidade de um reposicionamento em razão desses custos absurdos que estamos vivenciando.”
Fonte: Globo Rural