Pecuarista recebeu menos de R$ 2 por litro de leite pela 1ª vez em 6 meses; Custo de produção segue disparado e preocupa o setor que vem perdendo pecuaristas!
Em fevereiro, o preço do leite ao produtor fechou, pela primeira vez em seis meses, abaixo de R$ 2 por litro – a “Média Brasil” líquida foi de R$ 1,9889/litro. Com isso, a baixa no acumulado do primeiro bimestre chegou a 7,5%, em termos reais (descontando a inflação pelo IPCA de fevereiro/21).
Esse movimento de queda no campo deve persistir em março, influenciando, portanto, as cotações do leite que foi captado em fevereiro. Expectativas de agentes do setor indicam que o recuo no preço deve ser em torno de 2,5%, o que, caso se concretize, resultaria em diminuição de 9,8% no acumulado do primeiro trimestre de 2021.
Ainda assim, os valores registrados neste primeiro trimestre superam os do mesmo período de anos anteriores, representando recorde da série histórica do Cepea (iniciada em 2004). A média deste trimestre supera em 34,5% a do mesmo período de 2020, em termos reais.
A desvalorização do leite no campo se deve ao enfraquecimento da demanda por lácteos, dado o contexto de diminuição do poder de compra do brasileiro, do fim do auxílio emergencial para muitas famílias, do recente agravamento dos casos de covid-19 e da elevação do desemprego.
Desde dezembro de 2020, observa-se intensificação da pressão exercida pelos canais de distribuição junto às indústrias para obter preços mais baixos nas negociações de derivados (ver seção Derivados, na página 5). E o fraco desempenho das vendas de derivados em fevereiro deve influenciar negativamente o pagamento ao produtor pelo leite captado naquele mês (e a ser pago em março).
Quanto ao preço do leite fornecido em março e que será pago em abril, há dúvidas sobre a manutenção ou não da tendência de queda. Apesar de as cotações de muçarela terem recuado na primeira quinzena de março, houve valorização no leite UHT e no leite em pó no período.
Além disso, os preços do leite spot (negociado entre indústrias) saltaram de R$ 1,95/litro na primeira quinzena de março, para R$ 2,33/litro na segunda quinzena, ou seja, expressiva alta de 19,8%.
Esse cenário mostra que, mesmo com a demanda final fragilizada, a oferta de leite no campo começa a ficar limitada, o que estimula maior concorrência entre as indústrias para a compra de matéria-prima e, por consequência, preços mais elevados junto ao produtor.
Ressalta-se que o mês de março marca, sazonalmente, um período de transição para a entressafra da produção leiteira, especialmente no Sul do País. Além do impacto climático negativo sobre as pastagens, a produção de leite deve ser prejudicada pelas menores quantidade e qualidade das silagens neste início de ano, devido ao clima desfavorável no último trimestre de 2020.
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Ademais, a valorização considerável e contínua dos grãos (principais componentes dos custos de produção da pecuária leiteira) tem comprometido a margem do produtor leiteiro (ver seção Custos de Produção, na página 7).
É preciso considerar, também, que, diante da desvalorização do Real frente ao dólar e da alta nos preços internacionais de lácteos, as importações devem permanecer em queda (ver seção Mercado Internacional, na página 6), o que pode intensificar a restrição de oferta nos próximos meses.
Alimentos concentrados e fertilizantes elevam custo de produção
O Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira, que representa os desembolsos do produtor, aumentou 1,98% em fevereiro na “média Brasil” (que considera os estados da BA e de GO, MG, PR, RS, SC e SP). Essa valorização, no entanto, foi menor que a registrada em janeiro, de 3,29%.
Os principais insumos que influenciaram a elevação dos custos foram os adubos e corretivos, cujos preços subiram 6,02% no mês, a maior valorização registrada para este grupo de insumos desde outubro de 2018, quando a alta das cotações foi de 6,46%. Neste ano, os valores dos adubos e corretivos acumulam alta de 7,49%.
O aumento dos preços desses insumos em fevereiro esteve atrelado às também elevadas cotações da matéria-prima para fabricação desses produtos, devido à desvalorização de 2,39% do Real frente ao dólar no acumulado do mês. A elevação dos preços do frete, devido à maior demanda para o transporte de grãos, também contribuiu para a valorização deste grupo de insumos.
Quanto aos alimentos concentrados, os preços subiram 2,06% em fevereiro, também devido aos elevados patamares das cotações das matérias primas – para a soja, o Indicador ESALQ/BM&- FBovespa Paranaguá teve média de R$ 166,38 por saca de 60 quilos em fevereiro, praticamente estável (-0,89%) em relação à de janeiro de 2021.
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Para o milho, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa teve média de R$ 83,89/sc, também estável (+0,29%) na mesma comparação. Os estados que tiveram as maiores altas nos custos dos concentrados em fevereiro foram Minas Gerais (3,03%) e Paraná (1,58%).
Em fevereiro, o produtor de leite perdeu poder de compra frente ao milho pelo segundo mês seguido, sendo necessários 42,18 litros de leite para a aquisição de uma saca de 60 kg de milho, quantidade superior à registrada em janeiro de 2021, quando eram necessários 41,12 litros de leite para a aquisição de uma saca do cereal. Esse cenário refletiu a desvalorização de 2,24% do leite em fevereiro frente a janeiro e a leve alta do preço do milho.