O preço do boi gordo está resistindo à pandemia e pode voltar a nível recorde, é o que apontam os consultores sobre o mercado do boi gordo!
Apesar dos efeitos negativos da pandemia sobre a demanda interna, o boi gordo não só resistiu às turbulências da covid-19 como engatou um movimento de valorização que poderá levá-lo a repetir o patamar recorde alcançado em 2019.
Para surpresa de alguns analistas, a demanda mais fraca no Brasil não foi capaz de derrubar as cotações. No mês passado, o indicador Cepea/B3 para o boi gordo no Estado de São Paulo (referência para o restante do país) subiu 6,6%, para R$ 218,4 por arroba e seguiu nesse nível em julho. Em 12 meses, a alta foi de 43,5%.
Em termos nominais, o indicador está a menos de R$ 13 do recorde de R$ 231,35 atingido em 29 de novembro de 2019. Como o pico da entressafra é só entre outubro e novembro, há espaço para o preço do gado subir, diz Michel Tortelli, sócio da Finpec, startup que capta recursos com investidores para comprar gado e fazer a engorda em confinamentos.
Conforme analistas, a oferta restrita de gado vem se sobrepondo à demanda interna – que absorve mais de 70% da produção nacional -, ditando as cotações.
Com o preço do bezerro nas alturas, o pecuarista foi estimulado a reter mais vacas para reprodução, reduzindo a oferta de animais enviados aos abatedouros. Não à toa, os abates vêm caindo. No primeiro trimestre, os frigoríficos processaram 7,2 milhões de bovinos, baixa de 8,4% ante o mesmo período do ano passado, conforme o IBGE. Não há dados fechados para o segundo trimestre.
Nos abatedouros fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), porém, os indicativos são de que a queda prossegue. Quando se compara os dados de abate por sexo, o efeito da retenção da vacas fica claro. No primeiro trimestre, os abates de vacas e novilhas diminuíram 17,8% e 12% ante igual período de 2019, de acordo com o IBGE. As fêmeas costumam representar mais de 40% do abate.
“A decisão foi segurar as matrizes. Temos pouco animal no pasto”, afirmou o pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). Segundo ele, os sinais de que a oferta de gado estava mais restrita começaram a vir em agosto, quando os pecuaristas relataram dificuldades para encontrar boi magro para comprar.
Nesse cenário, os preços do boi magro dispararam. Em junho, a cotação média atingiu R$ 2.942,65 por cabeça, valorização de 45,8% na comparação com igual período de 2019, conforme o Cepea. Em termos reais, o boi magro atingiu o maior nível em pelo menos cinco anos.
A valorização do boi magro dificulta a atividade de confinamentos – nesse sistema intensivo de engorda, com dieta baseada em farejo de soja e milho, a compra do animal é o principal custo. No Brasil, a oferta de gado oriundo de confinamentos é maior no segundo semestre, e ajuda a compensar a menor disponibilidade de gado durante a entressafra dos pastos. “Temos um buraco de oferta até outubro”, afirmou César Castro Alves, da consultoria de agronegócios do Itaú BBA.
De acordo com ele, mesmo com os preços do boi gordo resistentes na maior parte do ano, a cotação do animal não foi suficiente para garantir a margem do confinamento no “primeiro giro”, o que limitará a oferta de gado disponível nos próximos meses.
Com o preço do boi gordo a R$ 215 por arroba, nível alcançado em julho, os pecuaristas que têm confinamentos já conseguem fechar as contas para o “segundo giro” – mas talvez não seja suficiente para derrubar as cotações do gado.
Mas nem todos dão de barato que a oferta seguirá soberana na definição dos preços do boi gordo neste segundo semestre. Para Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank, o comportamento da demanda é a “grande dúvida”. Para ele, a tendência é que a situação econômica piore, o que agravaria a retração do consumo por carne no país.
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Além disso, ele avalia que a maior preocupação da China com segurança – o país aumentou os testes sobre os alimentos importados num esforço para evitar uma segunda onda de covid-19 – pode afetar as exportações ao país. “Acredito que o cenário é de redução das importações chinesas, mas o Brasil tem vantagens competitivas, como o câmbio”, disse. A China tem sido a grande responsável pela exportação recorde de carne bovina do Brasil ao longo deste ano.
Conforme Yanaguizawa, também é preciso levar em consideração que o consumidor pode reagir aos preços mais altos da carne bovina, assim como ocorreu no Brasil e na China no ano passado, quando o preço recorde do boi gordo visto em novembro foi repassado ao varejo. “O mercado retraiu”, lembrou o analista do Rabobank. Na sequência dessa resistência dos consumidores, o preço do gado cedeu.
Fonte: Valor Econômico.